segunda-feira, dezembro 22, 2008

- ars longa, vita brevis –
hipócrates

Antes e depois ou como quando Henri Rousseau viu pela primeira vez os trabalhos de Modigliani disse qualquer coisa como isto “percebo que vocês esteja a tentar transformar o que é antigo em algo moderno”. E esta frase, que parece ter ficado para os anais (não conhecia. Conhecia antes a história de um pintor da corte que pediu ao seu soberano, quando este um dia o foi visitar e acompanhar a obra que tinha patrocinado, no atelier do artista teve que ouvir um “por favor Sua majestade apanhe-me esse pincel que caiu”. Mas isto é mais uma lenda). Estávamos no início – sem ainda ter começado – da Primeira Guerra Mundial e é sabido que a escultura, principalmente a clássica, tinha muita influência naquela época. Não porque servisse de fonte de inspiração para a maior parte dos artistas, mas porque a elite artística pensava que com o rumo que a arte estava a tomar, com todo o progresso, a necessidade constante de progresso, a adulação da máquina (Marinetti dizia que um carro de corrida era mais belo que a Vitória de Samotrácia), iria levar à obnubilação das raízes da arte e do seu compromisso para com um passado que foi tão rico e educativo. O exemplo de Marinetti não anula os outros artistas pois Picasso e Modigliani, entre muitos outros, procuraram sempre a naturalidade e a simplicidade que eram conferidas pelas esculturas dedicadas à Natureza (até Gauguin experimentara os prazeres de uma civilização diferente com uma arte própria, a do Pacífico). As esculturas da Antiguidade clássica (que pretendiam dizer que o interior se encontrava já dentro do bloco em bruto, que a escultura era uma arte de subtracção enquanto a pintura era uma arte de adição) e as máscaras africanas, bem como aquelas esculturas que pareciam estar revestidas de algum misticismo como as deusas da fertilidade influenciaram e muito Modigliani. A partir de 1909 ele passa a dedicar-se mais à escultura em detrimento da pintura, tanto por causa deste saudosismo justificado ante a escultura do passado e a escultura de novos territórios como por causa das esculturas de Brancusi que causavam furor com as linhas depuradas em claro desprezo pelos movimentos que propalavam o ataviamento e o adorno. Modigliani e Brancussi que eram coetâneos acabaram mesmo por a exercer a respectiva actividade artística juntos em Montparnasse. Modigliani começou então a esculpir e assumiu de tal forma essa actividade que a mãe dirigia as cartas a Modigliani escultor. Das suas influências deixa-se levar pelas formas muito simples: os olhos apenas com os contornos (os mesmos das pinturas egípcias). Pescoço longo como as esculturas do Maneirismo, os narizes aduncos e muito simples, sem traços identificativos. Mas vemos que neste antes e depois não há uma tentativa de relacionar a escultura de Modigliani com a escultura antiga, mas de estabelecer a comparação entre a máscara africana e a pintura de Modigliani pós este período de escultura. Antes de enveredar pela escultura, Modigliani pintava com traços identificativos, a sua pintura tinha muito do Expressionismo, mas depois, no período imediatamente a seguir, tornou-se assim:”

Máscara Africana do Congo
Barbier-Mueller, Genebra


Amedeo Modigliani
The Red Bust
1913
Colecção Privada

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

esse fait divers do pincel desconhecia. bem achado

22/12/08 11:27 da manhã  
Blogger Belogue said...

Taschen.

30/12/08 11:09 da tarde  

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