What to wear IX (1940-1980):
No início da década de 40 a Europa ainda não tinha percebido bem o que se aproximava. Na Primavera de 1940 as casas de moda de Paris lançaram as suas colecções, mas em 22 de Junho desse mesmo ano, Paris rendeu-se. A custo, e graças à perseverança das mulheres e das casas de moda, a moda sobreviveu ao problema do racionamento dos tecidos, embora nunca mais tenha sido a mesma quanto à submissão a um estilo. A moda do pós-guerra reflecte a sociedade do pós-guerra que por sua vez mostra uma oposição total a qualquer forma de proibição, intolerância ou totalitarismo. É da Segunda Guerra Mundial que o prêt-à-porter nasce por contraposição às grandes marcas de roupa que tendiam a impor um estilo, algo que os jovens não desejavam.
A moda durante a Segunda Guerra Mundial reflectiu a falta de materiais e a necessidade de usar os mesmos de forma mais equilibrada, mas reflectiu igualmente a atmosfera sombria que se vivia. Nos Estados Unidos, que não sofreu as consequências da guerra, a moda prosseguiu o seu curso onde tinha ficado antes da guerra; ou seja, nas saias abertas, cinturas finas e blusas justas, chapéu e luvas. Tudo acompanhado de saltos altos. Na Europa esse era o modelo a seguir, uma vez que não se podia fazer muito com as restrições impostas. Em Inglaterra, por exemplo, o crescimento e evolução da moda foi mais difícil. Havia mesmo medidas de tecido que cada modelo podia ter para que não fosse ultrapassada a quantidade de tecido determinada. Isto acontecia não só com a roupa do dia-a-dia, mas também e especialmente, com os vestidos de noite.
Apesar de todos os problemas e restrições, a moda continuava empenhada em mudar algo no "uniforme" feminino e no tom enfadonho da roupa. Se não era possível mudar tudo, faziam-se pequenas alterações nos pormenores como os bolsos, os debruns, os ombros rectos e masculinos (talvez devido ao período austero que se vivia). Por uma questão de facilitação de movimentos, as saias voltaram a ficar mais curtas (pelo meio da canela) e era comum as mulheres, principalmente as que tinham cargos que isso exigiam, usarem calças compridas com corte masculino. À falta de possibilidade para ter mais adornos (que também eram racionados), as mulheres usavam lenços na cabeça ou ao pescoço, adereços muito simples e a maquilhagem que era possível ter (já se fazia reutilização de embalagens de batom; como não havia aço para fazer as embalagens de batom, as senhoras levavam as suas vazias para estas serem enchidas nas casas especializadas). Os cabelos usavam-se pelo ombro, aos cachos presos com travessões devido à dificuldade em fazer permanentes. Os sapatos, ao contrário daquilo que se passava nos Estados Unidos, tinham um tacão robusto e não eram muito bonitos. Para compensar isso as mulheres usavam as pernas cobertas; ou com meias mais grossas (de nylon). Quem não podia comprá-las arranjava forma de obter um bronzeado artificial e quem não tinha meias com a costura atrás, tratava de pintá-la.
Durante a guerra, Paris ocupada não pôde ser o centro das tendências de moda. É verdade que alguns estilistas permaneceram em Paris, mas os seus clientes eram na maioria alemães e a liberdade criativa estava limitada pela ideologia e gostos dos clientes. Para além disso não havia tecidos considerados nobres e a mão-de-obra para confeccionar as peças estava em falta, ou por extradição para os campos de concentração, ou por morte neles ou por deserção do país. Em 1945, com uma exposição no Musée dês Arts Décoratifs dedicada à moda, o espírito criador dos estilistas franceses renasceu e iniciou-se uma nova era com aquilo que foi apelidado de "The New Look", criado por Dior e seguido por Balmain, Balenciaga e Givenchy. Como vimos anteriormente, sempre que surgia um período de crise a moda recuperava inspiração dos períodos de bonança, bem como o luxo e a nostalgia. O New Look foi recuperar os modelos de 1860 quando se usavam as cinturas muito apertadas e as saias bastante pregueadas, blusas muito justas (e às vezes com uma "ajuda" das espumas para um busto maior), sapatos de tacão alto e chapéus largos. A toilette ficava completa com luvas. A diferença é que estas saias eram um pouco mais subidas que as da década referida. Mas o New Look mudava de ano para ano: sempre no mesmo espírito, mas podia passar das cinturas muito finas e saias rodadas para as linhas em "A" que sempre eram mais joviais. Países como a Inglaterra que estavam a criar a sua própria linha dentro da moda devido à ausência de Paris no panorama do estilo, não ficaram satisfeitos com a nova tendência que obrigava a um gasto excessivo de materiais. A Inglaterra vivia com mais dificuldades e não se libertou facilmente da influência da guerra no vestuário feminino e graças à produção em massa vinda dos Estados Unidos que democratizava o vestuário produzia as suas roupas como se de fardas se tratassem. Costureiros como Falaise e Balmain, ainda na década de 50 tentaram fazer vingar este estilo militar em Paris, mas mesmo a tendência da produção em massa só influenciou a Europa nos anos 70.
O look masculino também sofreu transformações e passou por essa etapa de recuperação de tempos antigos. Recuperou-se então o estilo eduardiano: os casacos mais compridos e justos abotoados até cima, assim como as calças que eram mais apertadas. Usava-se chapéu de coco com as abas viradas para fora. Enquanto a roupa feminina reinventava uma época com alegria e inovação, a roupa masculina viveu com saudosismo a época eduardiana. No fim da guerra muitos homens não queriam usar, enquanto civis, qualquer roupa que fizesse lembrar um traje militar ou muito apertada e com regras. O look masculino do pós-guerra oscilava entre o formal e o desportivo, mas a influência militar na roupa nunca foi esquecida. Mais tarde, nos anos 70 o estilo militar foi recuperado no vestuário feminino
Paris dos anos 50 parecia que não tinha acabado de sair de uma Guerra Mundial pois o ambiente que se vivia era de grande sofisticação e todas as forças, todos os assuntos eram dirigidos para a beleza, para a necessidade de tê-la e cultivá-la. Após o fim das restrições aos produtos de beleza, as mulheres voltaram a arranjar-se: as sobrancelhas eram muito arqueadas e pintadas, as sombras de todas as cores, mas sempre aplicadas com precisão e o batom obedecia à rígida linha dos lábios. Os chapéus eram soignée e o luxo imperava não só no uso de jóias vistosas, mas também no que diz respeito aos tecidos que eram essencialmente peles, caxemira e mohairs. Dior liderou as tendências durante toda a década de 50 embora os outros estilistas (já referidos) apresentassem alternativas às bainhas e comprimentos de saias e em relação às cinturas, o que era bom sinal. Era sinal que havia consumidores em número suficiente para consumir todo o tipo de produtos, era sinal que havia liberdade criativa e era sinal que a economia estava em recuperação. Mas nem tudo em Paris era bem sucedido: no Outono de 1959, Yves Saint Laurent que nessa altura desenhava para a Dior apresentou uma colecção onde aboliu a cintura fazendo com que a saia afunilasse nos joelhos, colecção essa que não foi bem aceite pelas mulheres. No entanto, as jovens dos anos 50 não queriam vestir-se como as suas mães. Se até aí não tinham grandes opções, depois da guerra que tantas famílias separou, as mulheres tornaram-se um pouco mais emancipadas e as raparigas mais novas rejeitaram o estilo formal que lhes era imposto pelas casas de alta-costura e pela sociedade em geral uma vez que não havia alternativas. Esta tendência teve inspiração na América e no look desportivo americano embora depois tenha sido adoptada pelos novos estilistas. Lembram-se de filmes como "Rebel Without a Cause" ou "Cry Baby"? As raparigas usavam jeans e calças cigarrete, cabelos apanhados num rabo-de-cavalo, ou saias bastante rodadas com um casaco de malha justo por cima. Era a época da Coca-Cola e do Drive In. As casas de alta-costura também tiveram de se adaptar e apesar de não terem ficado, inicialmente, muito satisfeitas com esta mudança no nicho de consumo, destacam-se os cardigans justos e debruados de Mainbocher ou as camisas Chanel em estilo masculino. O look Beatnick que subiu às passerelles veio da rua invertendo assim a tendência: já não era o estilista, o génio criador quem ditava a moda, mas sim a rua que lhe dava indicações para ele desenhar para "a rua". (Hoje é um jogo de interesses mútuos pois a indústria da moda é influenciada pela rua, mas quando chega à rua já está muito deturpada e já satisfez as exigências da política, da indústria tintureira, da indústria da música, and so on… Por outro lado a rua devolve à moda, mas não é satisfeita totalmente. Basta ver que os acontecimentos sociais não têm repercussão nas semanas de moda. Um Hussein Chalayan aqui e nada mais.) Em Londres sucedeu algo muito estranho para a época. Não foi um estilista de renome que ditou uma moda, não foi a rua que a foi impondo, mas sim uma estilista normal, atenta aos fenómenos sociais e às mudanças do gosto feminino que propôs novas silhuetas. Em 1958 Mary Quant arrasou com a sua loja na King’s Road.
Foi também na América que se começou a respirar um ar diferente (afastado da incerteza do Antigo Continente perante a crise económica e o desemprego) e parte devido a estilistas como Perry Ellis, Ralph Lauren e Calvin Klein. Estes criaram roupas em linhas mais depuradas, mas mesmo assim com todo o estilo, com todos os factores que fazem com que uma peça valha a pena e o dinheiro. O estilo americano mais não era que a depuração e estruturação escolhida dos conjuntos masculinos usados pelas mulheres. Para além disso eram feitos em tecidos muito confortáveis com capacidades que até aí não existiam e que, não fazendo da prenda um regalo para o olhar, tornavam-na muito confortável e onerosa, numa época em que não estava na moda ser simples.
3 Comments:
Mais uma vez aplaudo !
está extremamente bem descrito ...
qt ao que levo uhm ! anos 60 balenciaga e courréges , 70 é bill blass 80 issey miyake! os anos 80 foram talvez dos mais horrorosos de sempre.
os 40 e 50 ainda hoje se pode vestir...
tb eu gosto de ver como param as modas !e um dia é assim noutro é assado.
gosto muito de baralhar o sistema
Cara Maria:
a sério? olhe, nem sabe a frustração com as imagens. não conseguia nada daquilo que queria. Também levo um Courréges porque... sim. e só lhe digo: a década de noventa que é a que falta vai ser uma salada russa.
salada russa ! belo nome para definir a moda dos 90´s 2000´s...
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