quinta-feira, outubro 16, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou como “este deve ser o quadro mais reproduzido, parodiado e imitado que conheço. Mais que "As Meninas" de Velásquez, mais que a "Guernica" de Picasso, mais que o "Dejeuner sur l'herbe" de Manet. Mesmo assim, aposto que não conhecem este escandaloso “antes e depois”. É que não é o antes e depois feito com a “Mona Lisa” de Leonardo e a “Mona Lisa” do Duchamp, nem feito pelo Botero. É um depois pintado uns séculos mais tarde, com tantas semelhanças com original que pode ser considerado assim do género "não-é-uma-cópia-mas-também-não-é-uma-homegem-pensem-lá-o-que-quiserem".

O original é a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, que tantos encómios recebe, bem como tratamentos especiais no Louvre. Segundo Vasari o nome Mona ou Monna seria um diminutivo de Madonna. Madonna no sentido de “Senhora” e aplicado a Lisa, retrataria a esposa do Marquês de Giocondo. Daí a outra denominação do quadro, La Gioconda. Se a senhora era esposa do marquês, era natural que o próprio marquês tivesse feito a encomenda a Lenardo: "olha Leo, vê lá se pintas a minha mulher que a "Caras" vai lá a casa e já sabes como são as mulheres, é estante Ron Arad, é cortinados e paninhos em tudo quanto é sítio, é sanefas até no ecrã do telemóvel...". Mas segundo se consta, o quadro foi encomenda de um dos membros da família Médicis. Teria sido a Mona amante do Giuliano Médicis? Humm??? Terá ele dito: "olha Leo, companheiro desta corte, pintas-me a Mona que ela anda a dar-me cabo da moina, que me quer dar uma recordação e mais não sei quê? aquela mulher não sabe o que são provas incriminatórias?" Seja como for, parece que nenhum dos dois teve acesso à pintura e que esta andou de mão real em mão real até Napoleão lhe deitar mão e colocá-la nas Tuileries. À ganância, como sempre, esqueceu-se de devolver (não sei bem a quem, mas de certeza haveria um dono mais legítimo), assim como se esqueceu de devolver a Portugal as peças de ourivesaria e joalharia que serviram de despojos de guerra aquando das invasões. Sarko, amigo, se nos estás a ouvir, traz isso de volta na tua próxima visita oficial. Se não tens nenhuma ao nosso país, marca. Mas marca já que na hora fica mais caro.

O que é que criou a lenda, o misticismo em torno da “Mona Lisa”? Era considerado o rosto ideal da Renascença (sabem que quando uma pessoa diz muito uma coisa acaba por acreditar nela. Então e a Vénus de Botticelli? E a "Dama do arminho" de Leonardo? Estão a mangar c'a gente?). Depois um tipo que não tinha qualquer interesse em arte e não devia ter especial jeito para os assaltos (cada um é para o que nasce), resolveu roubar o quadro do local onde estava exposto. O quadro viajou pela Galeria Uffizi em Florença, andou por Roma e Milão e depois alguém achou por bem devolvê-lo à terra que nunca foi dele: Paris.

A “Mona Lisa” apresenta-se vestida ao estilo florentino da época, tendo como fundo um cenário montanhoso do qual não distinguimos nada que nos possa contextualizar a cena, até porque a técnica do sfumato de Leonardo, não ajuda nestes casos. É quase como se a “Mona Lisa” tivesse ido ao fotógrafo, fazer uma daquelas fotografias de pompa, com um cenário pintado a acrílico por trás. O que cria o mistério em torno da senhora foi essa ideia de que representava o ideal de beleza renascentista, o facto de ter passado sempre de mão para mão, a ausência de elementos identificativos, o sorriso e os olhos (há quem diga que em qualquer posição que uma pessoa se coloque perante o quadro, o olhar segue-nos). Para mim é apenas uma mulher sem sobrancelhas. É verdade, a Mona Lisa não tem sobrancelhas, o que... deve ser muito bom para ela, mas muito mau para a esteticista dela.

O quadro de Corot, intitulado “Woman with pearl” é, no meu entender e no entender do Museu do Louvre (segundo o catálogo), uma mistura entre a “Mona Lisa” de Leonardo e a “Rapariga do Brinco de Pérola” de Vermeer. No fundo o título não deveria ser este, pois aquilo que é dito ser uma pérola na testa da retratada parece ser uma folha (deverá ter uma coroa de flores ou algo semelhante na cabeça, da qual cai um véu quase transparente). E daí a semelhança com Vermeer: aquilo que em Vermeer é um turbante turco que cobre a cabeça da rapariga, aqui é um conjunto de vestes que Corot adquiriu nas suas viagens ao estrangeiro e que têm mais de renascentistas e italianas do que turcas. A pérola dá lugar a um ornamento de forma não redonda (não precisa de ser redonda para ser pérola), mas de cor escura. As semelhanças com a “Mona Lisa” estão na posição das mãos cruzadas sobre o c0lo, no rosto inexpressivo (hoje diríamos que a “Mona Lisa” andou nas injecções de Botox), a inexistência de um contexto e neste caso, para acentuar ainda mais o mistério o facto de no século XIX a “Mona Lisa” ser uma pintura que nada ou muito pouco representava para os artistas da época. Isto quer dizer que até aí não havia muita divulgação da obra e só com o Romantismo (1830) ela é recuperada:"

Leonardo da Vinci
Mona Lisa (La Gioconda)
c. 1503-5
Musée du Louvre, Paris


Jean-Baptiste-Camille Corot
Woman with a Pearl
1868-1870
Musée du Louvre, Paris

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

A Beluga tem o condão de escrever aquilo que nem sempre se consegue verbalizar. Muitas coisas tornam-se óbvias depois de a ler. Aqui só faltou o quadro de Vermeer, já que fala nele e que, de facto, há linhas em que se tocam.
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belo

16/10/08 10:45 da manhã  
Blogger Belogue said...

tenho o condão mas não tenho a varinha. sou uma fada desfalcada. veja lá que nem chapéu em bico tenho. também, verdade seja dita que este ano~não se usa.

20/10/08 12:48 da manhã  

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