- o carteiro -
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Um, dois, três, macaquinho de chinês…
Um, dois, três, macaquinho de chinês…
Depois de Goya, William Hogarth tornou-se a nova coqueluche dos irmãos Chapman, que desta feita se debruçam sobre a série “A Rake’s Progress” do pintor do século XVIII tal como o fizeram para os “Desastres de Guerra” do pintor espanhol. No fundo a forma de trabalho não mudou muito: dos corpos mutilados de bonecas que retratavam as cenas de Goya, passou-se para a substituição dos rostos das personagens humanas da série de Hogarth para rostos grotescos de seres semelhantes a animais. A série de Hogarth falava de um jovem chamado Tom Rakewell filho de um senhor abastado, que gastava mais do que podia em vinho e mulheres, acabando na penúria e num asilo mental. Esta série de Hogarth sempre foi vista como uma forte crítica à sociedade da época que segundo Dinos e Jake Chapman continua actual. As faces só precisavam de um toque mais actual e foi o que os irmão fizeram, conferiram-lhes esse toque de contemporaneidade e mudando o título para Dinos and Jake’s Progress. Ao contrário do título do original que contava as aventuras de um jovem, este título não pretende contar a vida dissoluta dos dois irmãos.
Os trabalhos retomam a técnica dos originais de Goya, ou pelo menos apresentam-se no resultado final, muito semelhantes. São oito aguarelas em que apenas alguns apontamentos estão a cor, e que serão mostrados na exposição “Laughing in a Foreign Language” que abrirá no dia 25 de Janeiro na Hayward Gallery em Londres.
Os críticos às vezes não gostam muito e garantem que as obras provocam tudo menos o riso, que são gratuitamente provocadores, mas o público parece gostar e ao público o que é do público!
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William Hogarth
The Rake's Progress: 2
1734
Courtesy Sir John Soane's Museum, London
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Nóça! Irado essi negócio! Ámeii
Segundo o comissário da Bienal de Arte de São Paulo, Ivo Mesquita, a Bienal está doente e por isso vai passar a próxima edição, a edição deste ano, a 28ª de quarentena. Assim, em Outubro de 2008 a mostra abrirá… sem nenhuma obra, completamente vazia que é para se curar. É a resposta/proposta de Ivo Mesquita quanto ao facto de só ter tido oito meses para preparar a bienal quando o normal é que um comissário tenha 2 anos. Mesquita arrisca, diz dar a cara e estar preparado para o debate sobre uma exposição sem nada exposto. Neste cenário, no cenário de quarentena, a bienal iria ficar “aberta ao público” por 42 dias, o período de uma quarentena. (Eu tenho aqui para mim que durante uma quarentena, o sujeito algo de desinfestação não está em contacto com objectos ou seres vindos do exterior. Quererá isto dizer que em Outubro não poderemos visitar o “invisitável” por não haver nada para visitar ou porque a bienal está doente? No entanto o projecto da Bienal de São Paulo 2008 chama-se “Em Vivo Contato”!). É a primeira vez, desde a primeira edição em 1951 que a Bienal não terá qualquer obra exposta.
O que está na base desta decisão tão radical é a crise em que se encontra a Fundação Bienal de São Paulo cujo presidente Manuel Pires da Costa foi acusado de corrupção e nepotismo por contratar como seguradora de evento, a seguradora em que o genro trabalha e usar a editora que lhe pertence em benefício da Fundação. Ora, como ele é presidente da Fundação, o que for em benefício da Fundação é em benefício do próprio e como o próprio é dono da editora, é em benefício da editora. Mais: há salários em atraso relativamente a edições passadas e o catálogo da edição do ano passado, de 2007 ainda não foi publicado. Ivo Mesquita não foi o único candidato a comissário da bienal, mas o seu rival/colega Márcio Doctors acabou por retirar a candidatura por entender não existir condições para organizar a bienal.
O pavilhão térreo e o primeiro pavilhão serão transformados numa praça e tudo o que fechava o espaço da entrada será removido do projecto original de Oscar Niemeyer. Aqui poderão ter lugar conferências, performances, peças de teatro, concertos e exibição de filmes. A única obra de arte seria então o pavilhão construído por Niemeyer. No segundo pavilhão, onde supostamente deveriam estar as peças, estará uma biblioteca dedicada ao tema da “Bienal”, com catálogos das bienais antigas, informações acerca das mais de 200 bienais de arte que hoje existem por todo o mundo
O modelo da bienal é do século XIX e por isso deveria ser pensado e adaptado ao século XXI, como disse Ivo Mesquita, mas mesmo assim penso que o vazio não vai provocar reflexão. Talvez provoque até uma adesão inconsequente por se pensar a arte como algo que não precisa de se justificar e por isso pode ser portadora de qualquer mensagem ou mesmo de nenhuma para ser arte. Principalmente se já há muito abandonou as referências de quem a vê.
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Kun-hee é o presidente da Samsung e embora a vida familiar em tempos não lhe tenha corrido de feição (uma filha foi encontrada morta, enforcada no quarto), hoje pode dizer que, “lá por casa tudo bem”. É que presidente da Samsung, muito benemérito, serviu-se de dinheiro da companhia que gere para comprar obras de arte no valor de 64 mil libras para oferecer à sua mulher (isto é que é amor!) que por sua vez é a directora do Leeum (Samsung Museum of Art). Mal se soube do caso, as demais companhias coreanas eximiram-se de comprar arte até a tempestade assentar. Ora o negócio processava-se da seguinte forma: havia um fundo de investimento em arte que deveria ser de facto para ser gasto em arte, mas que na realidade se encontrava nas contas de vários executivos e administradores da Samsung. O verdadeiro alvo é o quadro de Lichtenstein “Happy Tears”, de 1964 que foi adquirido num leilão da Christie’s em 2002 por um preço recorde para a época (a época não foi assim há muito tempo, mas as coisas têm mudado). O quadro foi comprado em nome da senhora Kun-hee pela directora da Seomi, uma galeria coreana. Ao que parece, a mulher do presidente da Samsung telefonava com regularidade para o fundo para saber se havia verbas a fim de aplicá-las na compra de obras de arte para a galeria Seomi. Há então uma lista de 30 fotografias e pinturas que foram adquiridas com dinheiro da Samsung em vários leilões da Christie’s entre 2002 e 2003 e que tiveram como destino a tal Seomi Gallery e o Museu gerido pela esposa do presidente. A Samsung nega que tenha comprado, para além do Lichtenstein, o Barnett Newman, um David Hockney, um Ed Ruscha, um Donald Judd, e Um Gerard Richter (caramba, estava a gostar! Pior mesmo foi o Richter!)
A Samsung nega ter utilizado fundos para comprar obras para a companhia ou para museu ou para algum dos membros da presidência (familiares incluídos). No entanto a lista dos quadros comprados fala também de 57 pagamentos feitos às leiloeiras feitos por 15 companhias diferentes. Entre essas, 30 pagamentos foram feitos pela Seomi através de bancos coreanos e novaiorquinos.
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2 Comments:
A do Ivo Mesquita é deliciosa.
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Aqui não se gosta muito de Richter, pois não? Consta-me que não é a primeira vez que há alfinetadas.
aqui não se gosta nada de Richter. (nem de el greco, nem de grosz...)
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