- o carteiro -
Mulheres, bós soindes todas umas indrominadeiras:
Porque o fim de um ano se aproxima e o início de outro… também se aproxima, queria deixar aqui as previsões astrológicas, a leitura do futuro nas folhas de chá, os búzios, as cartas de Tarot e a minha conversa com Iemanjá ainda hoje de manhã quando estava na natação. Porque Iemanjá só se manifesta na água. Mas não foi possível e “I was not in the mood” para previsões (e o futuro somos nós que o fazemos) e por tudo isto ficam aqui as inúmeras formas de endrominar um indivíduo que deposita um bocadinho de esperança e dinheiro na mão de videntes, astrólogas, mães de santo e leitoras compulsivas de mãos.
A primeira é a vidente de Caravaggio com a cabecinha de lado, porque há outra versão em que a vidente tem um ar menos sedutor. Nesta, o jovem deixa as suas reservas de lado e aceita que lhe leiam a sina em parte devido ao sorriso da cigana. Deixa-se encantar e quase sem ela lhe ler a mão para ler, ele já começa a acreditar. Este quadro de Caravaggio tem a particularidade de conter muitos modelos de quadros anteriores: a cigana é parecida com a Virgem Maria do pintor Cavaliere d'Arpino, a composição é semelhante à dos “Jogadores de Cartas” da colecção do Cardeal Del Monte, o elemento masculino tem qualquer coisa de Narciso.
Caravaggio
The Fortune Teller
1596
Musei Capitolini, Roma
Na segunda versão Caravaggio que era um pintor italiano introduz na pintura italiana um tema que até aí só era conhecido nos Países Baixos. É uma cena de género, da vida de todos os dias, mas que esconde um significado para o enriquecimento do observador. Os temas funcionam como educadores do público. Para além destes dois quadros Caravaggio pintou uma outra obra relativa ao jogo de cartas que se perdeu. Aqui o jovem também dá a mão à cigana para ela lhe dizer o que o futuro lhe reserva, mas a expressão dela não deixa antever nada. É misteriosa ao contrário da cigana do quadro anterior. Mais uma vez ele deixa-se influenciar pelo poder que ela parece ter de decidir a vida dele e está tão inebriado que não nota a cigana a surripiar-lhe o anel. E não será um anel qualquer, um anel de pobre. As duas personagens estão tipificadas através das roupas: o jovem tem chapéu com plumas, luvas, a espada embainhada e as mangas em balão, e a cigana com a sua blusa exótica não engana. No entanto, nada à volta, nada em background nos diz o sítio onde decorre a acção porque não é o sítio que interessa. O sítio não acrescenta nada ao nosso conhecimento da cena e dá-nos uma sensação de superioridade porque a compreendemos independentemente do resto.
Caravaggio
The Fortune Teller
1596-97
Musée du Louvre, Paris
Caravaggio
The Fortune Teller (pormenor)
1596-97
Musée du Louvre, Paris
Diz-se que foram estas cenas que influenciaram o Fortune Teller de George de La Tour.
Georges de La Tour
The Fortune-Teller
1632-35
The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque
No fundo deste quadro podemos ler a inscrição "aegiptia. vulgo. zingara. fatvi. cerdonis. divinatrix. a. Simoe. Voet. ad. vivum. depicta. MCDXVII" que quer dizer: “A mulher egípcia vulgarmente conhecida por “a cigana que lê a sina ao artesão tolo, pintada por Simon Vouet em 1617”. A composição é simples e baseada na de Caravaggio, só que com três figuras. Tal como em Caravaggio as figuras emergem do fundo negro, mas há sempre o contraste entre novos e velhos. E a velha é a figura que falta em Caravaggio, ou que pelo menos está aqui em Vouet e que tem a mesma função da cigana de Caravaggio. Neste quadro a cigana lê de facto a sina, enquanto a velha rouba o jovem colocando a mão no seu bolso para lhe tirar a carteira. A mão direita que está no ombro do jovem faz figas, um gesto considerado vulgar na Toscânia e foi mesmo referido na Divina Comédia de Dante (Inferno XX, 2).
Simon Vouet
The Fortuneteller
1617
Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma
Por fim fica aqui este Valentin que pertenceu a Luís XIV. O quadro mostra o mesmo que mostram os anteriores, mas com um estilo que não é nada típico da pintura italiana da época.
Valentin de Boulogne
The Fortune Teller
1628
Musée du Louvre, Paris
2 Comments:
Belíssimo, mas não chegou a dizer qual o futuro do capricórnio para 2008.
a minha bola de cristal não me tem dito nada. é esperar ou comprar um livro da especialidade
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