quinta-feira, dezembro 20, 2007

- o carteiro -
Ars e politeía

Não é só aqui, no nosso país que a relação entre o poder político e a arte não é a melhor. Quer dizer, não é nenhuma, não há! De vez em quando, e para encher o olho ao povo, os dirigentes da nação inauguram uma exposição aqui ou lá fora, geralmente coisa que dê que falar. Mas mesmo a abertura da exposição da Colecção Berardo que obrigou os convidados ilustres a passar por um Adão e Eva, nus, em tamanho real e deitados no chão não causou qualquer perturbação. Quando muito, suscitou o sorriso envergonhado, mas nunca o espanto, a indignação e, por esta ordem de ideias, a censura. Já nos Estados Unidos a proximidade das eleições presidenciais levou a que os museus e galerias afiassem o seu lápis azul antes da visita dos candidatos às instituições. Em Maio, a Galeria Richmond's Plant Zero retirou das paredes algumas pinturas de James Boling que retratavam a fase "no osso" (sem roupa interior) de Britney Spears, bem como a imagem de uma mulher que envergava uma t-shirt onde se podia ler "Kill Abe", antes da visita de um angariador de fundos da campanha de Barack Obama.

James Boling
Snake Charmer
2007
Plant Zero Art Center, Richmond

No mês passado o “Soliloquy VII” de Sam Taylor-Wood, uma imagem de um homem nu e deitado captada numa perspectiva muito semelhante ao Cristo Morto de Mantegna desapareceu misteriosamente das paredes da colecção do democrata Tony Podesta, antes de Hillary Clinton por lá aparecer numa acção de campanha.

Sam Taylor-Wood
Soliloquy VII
1999
Jay Jopling / White Cube, Londres


Nem mesmo o esforço da associação Artsland que tem por objectivo aproximar os candidatos à arte, tem dado frutos. O bom exemplo deste trabalho foi o quadro "Oval Office" de Roy Lichenstein que poderá ter dado uma ajudinha para aligeirar o tom durante o escândalo sexual Monica Lewinsky em 1992. E quando falamos de arte, não falamos apenas das chamadas Belas Artes ou das artes plásticas; este ano, nem um concerto digno de referência foi organizado, como era hábito. Os candidatos americanos não mostram o seu gosto artístico e quando o fazem são criticados, como aconteceu com Hillary ao mostrar um De kooning nas paredes da Casa Branca nos anos em que era Primeira-Dama.

Roy Lichtenstein
Oval Office
1991
Pollock Fine Art, Londres


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3 Comments:

Blogger João Barbosa said...

não percebi foi a obra onde está a Paris Hilton e a Britney Spears

20/12/07 9:33 da manhã  
Blogger Belogue said...

aquilo é um desenho ou uma pintura copiada de uma fotografia em que uma delas saia do carro sem roupa interior. a imagem foi bastante divulgada, por isso era impossível que o angariador em questão não ficasse constrangido ao vê-la nas paredes da galeria. São as galerias que se auto censuram para não chocar os candidatos. Em compensação (li um artigo na Salon), os democratas interessam-se muito pelos seus cães, comparativamente aos republicanos.

20/12/07 12:22 da tarde  
Blogger João Barbosa said...

:-D

20/12/07 1:22 da tarde  

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