quarta-feira, novembro 14, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois:
Este é talvez o último antes e depois que vamos postar. Postaremos futuramente "antes e depois" caso existam e exista tempo para procurá-los e estabelecer a respectiva ligação. Por enquanto, como não estão a ser óbvios, os "antes e depois" estão suspensos. Continua o "ars longa, vita brevis" mas com outro conteúdo. Serão evitados, para a saúde mental de todos, os posts com obras de arte e uma frase do autor, ou pior, obras de arte com um poema. Não, pior ainda: um quadro com duas cores tipo Mark Rothko e 20 comentários a dizer: "adoro o teu blog"; "adorei o post, muito profundo". Profundo era o poço que a minha avó tinha e secou! Por isso - e habituem-se, aqui não fazemos favores a ninguém, nem tentamos encher o espaço. Quando não há nada a dizer, ficamos calados. Quando dizemos o que nada quer dizer, merecemos "apanhar nas orelhas", isto salvaguardando o velho ditado que diz que "quem vai à guerra, dá e leva". Adoraria satisfazer-vos sempre, todos os dias. Ser o melhor todos os dias, mas paciência!
No ano passado muitas foram as manifestações contra o CPE que ocorreram em várias cidades de França. [o Contrato do Primeiro Emprego em que seria permitido o licenciamento imediato do contrato sem justificação, revoltou os jovens franceses]. Numa delas uma jovem ousou mesmo (ou seria encenação), baixar a blusa e mostrar os seis como a Marianne (símbolo da República Francesa) ou mesmo, e isto já sou eu a ver mosquitos em Roma a vestir Cavalli, como a Liberdade guiando o Povo de Delacroix. Da fotografia não se pode dizer muito, uma vez que não teve qualquer intenção artística embora o acto que a motivou até possa ter tido. Quanto ao quadro de Delacroix, trata-se de uma obra com um fio condutor épico conhecida como a primeira obra artística de cariz político (isto soa-me a antítese, mas whatever!). Conta a história dos defensores da República, dos que sobreviveram e acompanham a mulher de seios desnudados, assim como daqueles que pereceram. Para mim esta Liberdade (embora fosse uma imagem comum associada aos republicanos), está mais perto das Caridades de Miguel Ângelo e Dürer do que do significado que lhe quiserem dar. É que há nela mais de libertinagem do que de Liberdade. No fundo é um ser imaterial, representa uma vontade colectiva, mas como símbolo é muito arrojada.

O próprio pintor está no quadro a fazer de... Delacroix com um chapéu e à esquerda da Liberdade, o jovem tocador de tambor que está à esquerda da Liberdade era provavelmente a personagem Gavroche d' Os Miseráveis de Victor Hugo, personagem essa que vivia nas ruas em busca da revolução, da verdadeira revolução. Como um homem crescido acha valer a pena morrer tão jovem por esta causa. (há aqui qualquer coisa de Mark Twain?)

Delacroix
Liberty Leading the People
1830
Musée du Louvre, Paris


jovem em manifestação contra o CPE
2006