quarta-feira, novembro 14, 2007

- o carteiro -

Por favor não fotografe a fotografia. Obrigado:
Andy Warhol
Untitled from Marilyn Monroe (Marilyn)
1967
MoMA

Nas visitas que fiz à National Gallery (pedante!) deparei-me com uma benevolência do pessoal da guardaria que me pareceu antes absentismo do que propriamente o reflexo de horas e horas, de milhares de caras e dias em que se repetiu o desnecessário "Por favor não tire fotografias". O alvo mais apetecível eram os Girassóis de Van Gogh. Numa sala contígua ninguém reparou num fabuloso Renoir quase em abstracção que só podia ser compreendido ao longe, bem como um outro que até aí era desconhecido, mas que revelou muita força em parte devido ao contexto físico da sua exposição. mas também gostaria de ter fotografado o Van Gogh. Resolvi respeitar: afinal, qual a diferença entre ter a fotografia e ir comprar o postal à loja do Museu? Custa dinheiro? Também a fotografia!

Talvez tenha sido a primeira pergunta que a National Portrait Gallery se colocou quanto à exposição que está em exibição naquele local, dedicada aos retratos Pop-Art.

Só para tornar mais compreensível este pots, convém lembrar que os artistas da Pop-Art utilizaram muitas técnicas de reprodução: as serigrafias, a colagem, a cópia de partes de livros de BD, serviram-se da fotografia e do projector para pintar grandes ícones já imortalizados nas capas da Life e da Time. A exposição fala disso mesmo, das técnicas usadas por Andy Warhol, Larry Poons e Rauschenberg (vemo-nos em Serralves Rau) para a criação das sua obras, recorrendo a todos estes métodos sem qualquer pedido de autorização para tal. É claro que naquela altura esta questão dos direitos de autor, do que é cópia ou não, pastiche, plágio e sucedâneos não se colocava principalmente quando a transformação era feita em favor da arte. estavamos longe das regras pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual. A National Portrait Gallery não faz qualquer comentário relativamente a isto, nem uma reflexão sobre o assunto, mas assume uma posição protectora da Pop-Art no que diz respeito à possível reprodução da mesma. A National (assim tratada carinhosamente pelos amigos), avisa logo à entrada que não é permitida a captação de fotografias. Nem com flash, nem sem flash, o que indicaria a preocupação com a conservação das peças em exibição. A proibição de fotografar prende-se com a salvagurada dos direitos de autor. Mais, segundo o Guardian nem sequer é permitido "photograph the "No Photographs" sign" porque a "typography and layout of the signs was itself copyrighted."

Não poderá haver aqui uma posição intermédia? Não que me incomode não poder fotografar na exposição e honestamente concordo que não se possa fotografar, mas porque na minha ideia a captação da imagem sem qualquer objectivo que não seja o concorrencial, é desprestigioso para a obra. Mesmo que a pessoa volte vezes sem conta ao museu e adquira todos os postais, os tapetes de rato e os blocos de apontamentos que encontrar. O problema está nesta valorização da preservação dos direitos autorais sem ter em conta que as próprias obras e os artistas que as conceberam quebraram esse mesmo acordo. É um exercício no mínimo irónico que já não nos permite sermos artistas Pop no século XXI, impedidos que estamos de reproduzir o que já foi reproduzido. Eu pensava que "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão", mas é certo, vá lá, admito, que ainda só passaram cerca de 40, 50 anos. A Pop-Art passa a ser assim o primeiro movimento artístico protegido com fortes leis internacionais que impedem até uma sucursal sob a denominação de "neo".