sexta-feira, outubro 19, 2007

- o carteiro -
[ai agostinho, ai agostinha 1]
O 11 de Setembro tem já um Museu (não sei se fui só eu que me dei conta demasiado tarde e já toda a gente sabia, mas de facto passou-me ao lado. E também não sei bem o que poderia conter tal museu, mas avancemos…). Chama-se The National September 11 Memorial and Museum e vai sair do seu lugarzinho em Manhattan para fazer uma tournée nacional a fim de recolher verbas. O museu recolheu até agora 300 mil dólares, mas necessita de mais 350 mil para construir um centro que irá recordar as 2. 974 vítimas mortais. A colheita está a correr bem: o Deutsche Bank deu 15 mil dólares, a Starr Foundation ofereceu 25 mil dólares e a união David Rockefeller e o mayor de Nova Iorque deu origem a uma oferta de 15 mil dólares. Prevê-se que em 2009 a construção do museu esteja concluída, mas a abertura do mesmo ao público só em 2010. A exibição inclui um conjunto de artefactos (sobre o quê, não sei! talvez despojos da destruição, o que me parece algo de muito mau gosto), e um filme sobre os acontecimentos que levaram à queda do World Trade Center. Os visitantes podem, para além de ver o filme e os artefactos, assinar uma fita que será usada em futuras homenagens às vítimas. Curiosa mesmo é a variedade de nacionalidades dos intervenientes no projecto: o israelita Michael Arad, o americano Peter Walker, a firma norueguesa Snøhetta que construiu o pavilhão de entrada… E também, claro, o conteúdo do museu. Que artefactos serão aqueles que não um exercício de masoquismo ou voyeurismo?
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[ai agostinho, ai agostinha 2]
Abriu ontem ao público uma das mais esperadas exposições do Outono. Em Nova Iorque, na Neue Galerie, juntou-se o espólio de Ronald S. Lauder (o magnata da indústria cosmética que recentemente concentrou em si as atenções ao adquirir um retrato de Gustav Klimt por 135 mil dólares) com o de Serge Sabarsky para criar a primeira exposição americana retrospectiva sobre a obra de Gustav Klimt. A exposição chama-se “Gustav Klimt: The Ronald S. Lauder and Serge Sabarsky Collections” que mostra não só a visão de Klimt desse fin-de-siècle, mas também mostrar o gosto e espólio de Ronald Lauder, uma vez que o seu parceiro de exposição, Serge Sabarsky já faleceu.

Ora a exposição já está a causar fleuma e só abriu ontem isto porque alguns especialistas sobre obras de arte roubadas durante o Holocausto mostram reservas em relação à sua restituição e neste caso são particularmente críticos com o facto de Lauder não ter disponibilizado ao público a documentação sobre a sua colecção privada, algo que se não é da praxe, parece que caía muito bem. Lauder e Sabarsky era judeus e por isso alvos preferenciais da rapina das SS, não pelo conteúdo das colecções, mas na maior parte das vezes para humilhar os despojados. Lauder ultrapassou tudo isso, recuperou as suas obras e é presidente do Congresso Mundial do Judaísmo, mas nunca disse de que forma recuperou a colecção, onde estavam as peças, em que estado… Muitos coleccionadores acham que as suas colecções privadas devem manter-se assim; privadas, mas no caso de Lauder tudo é diferente: é que no catálogo da exposição as peças de Klimt pertencentes a Ronald Lauder não são referidas como pertencentes a ele, mas antes como fazendo parte de uma colecção privada. No caso de Sabarsky isso não acontece. Tudo porque os quadros podem ter sido adquiridos ilegalmente a membros ainda vivos das famílias que tinham na sua posse os quadros. A maior parte dos museus americanos comprometeram-se com a Comissão dos despojos do Holocausto para, sempre que possível, ser revelada a proveniência da peça.
Ali estarão 8 pinturas, 120 desenhos e inúmeras peças de mobiliário de um dos estúdios do próprio pintor.
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[ai agostinho, ai agostinha 3]

Vincent van Gogh
Wheat Field with Cypresses
1889
The Annenberg Foundation Gift

Os quadros que Van Gogh pintou aquando da sua estadia em Auvers-sur-Oise estão na sua maioria no Musée d’Orsay, mas Dominique-Charles Janssens, o proprietário do local onde Van Gogh esteve alojado e morreu a 29 de Julho de 1890 tem planos para mudar isso. Janssens quer adquirir um quadro em particular e colocá-lo na parede do sótão onde morreu o pintor Van Gogh. O quadro escolhido é "Wheat Fields", um dos últimos trabalhos de Van Gogh e que vai a leilão na Sotheby’s em Nova Iorque a 7 de Novembro. Para justificar este plano Janssens baseia-se na correspondência entre Van Gogh e o seu irmão Theo. Como se sabe era o irmão quem arranjava compradores para os trabalhos de Van Gogh, este nunca viu um quadro seu exposto. Janssens acha que a frase ““Some day or other I believe I shall find a way of having an exhibition of my own in a cafe” quer dizer que Van Gogh desejaria o quadro na parede do sotão. Hoje, essa casa é um restaurante com todos os pormenores retirados das pinturas de Van Gogh e são cobradas entradas a quem desejar ver o quarto do pintor.


A Sotheby´s avança valores entre os 28 mil dólares e os 35 mil, mas nem isso desanima o nosso homem: Janssens está a recolher fundos on-line através do site vangoghsdream.org. Se a fundação organizada conseguir comprar o quadro, Janssens promete que todos os doadores vão receber acesso a visualizar a pintura sempre que desejarem através de uma câmara instalada no sótão. Quem não “está pelos ajustes” são alguns coleccionadores e curadores que acham que este plano apesar do seu lado romântico é perigoso pois pode levar a uma comercialização de obras que já fazem parte do universo visual de todo o mundo. (Curioso que geralmente é isso que acontece) Há um outro lado de que ninguém fala devido à sua imaterialidade: Janssens apropriou-se de algo que não tem dono e que é a memória de Van Gogh.No fundo é como abrir uma loja de artigos religiosos em Fátima, mas aqui sem concorrência e com uma reconstrução, uma encenação do tempo de Van Gogh.
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