sexta-feira, agosto 10, 2007

- o carteiro -

[o mau,
O Museum of Contemporary Art de Los Angeles vai exibir uma exposição retrospectiva da obra do artista japonês Takashi Murakami que vai estar patente de 29 de Outubro de 2007 a 11 de Fevereiro de 2008. Para celebrar a obra de Murakami o museu teve a excelente ideia de abrir uma loja de produtos da marca Louis Vuitton com preços de saldo. Há obviamente uma relação entre a loja, os produtos da loja e a obra de Murakami que ao longo da sua carreira foi colaborando com marcas ligadas à moda. Portanto, as malas Louis Vuitton à venda na loja são aquelas que foram desenhadas pelo artista japonês, mas a um preço muito inferior ao normalmente praticado. Apesar do museu não receber apoios, também não vai cobrar nada pela presença da loja, nem irá receber nada em troca.

O problema é: quando é que deixa de ser publicidade à exposição, merchandising até, para passar a ser comércio. É que visto o trabalho de Murakami exposto não representar os trabalhos feitos para a Louis Vuitton, torna-se difícil justificar museologicamente esta opção. Mais difícil ainda vai ser não passar a mensagem errada ao visitante que para além dos tradicionais tapetes para rato e postais no final do percurso, se depara, no meio do mesmo com a loja Louis Vuitton. Pensará o visitante que é troca por troca, perceberá a muito rebuscada analogia que terá de ser criada para justificar a loja.Mais uma vez inicia-se a construção da casa pelo telhado. E a prova disso é uma declaração do Presidente da Associação dos Directores de Museus de Arte: "They are going to have to work very hard to get the curatorial concept across to the visitor so they do not perceive a conflict of interest. That's going to really be at the heart of this."

Há quem atire o problema da interpretação para trás das costas, dizendo que no passado também Duchamp colocou aos visitantes a mesma questão: “será arte ou um urinol?”. No entanto e como se compreende o problema não está aí. O problema está na má aproximação de fronteiras. Que cada vez mais os produtos vindos da Alta-Costura são arte, mesmo para quem não gosta nem consome, já se sabe, mas que os mesmos deixem de estar imbuídos da aura de exclusividade de forma tão gratuita que tem como objectivo apenas chamar mais pessoas ao museu e mais visitantes com poder de compra, é uma forma muito primária de quebrar barreiras.
o bom... e o vilão?]
Depois deste post (e depois de muitos outros que provavelmente deveria ter publicado sobre o assunto que de certeza teve desenvolvimentos de lá para cá), é com surpresa que vejo esta notícia.

As óperas do Met que eram vistas e ouvidas em grandes cinemas como se de uma matiné se tratasse com vista a chegar ao maior número de pessoas, (foram transmitidas algumas, não sei se todas na Antena 2, e o modelo já estava em vigor em Portugal embora timidamente), vão ser agora exportadas para outros pontos do mundo. Em vez das 6 óperas o Metropolitan Opera vai exibir 8 e pretende chegar aos 700 teatros/cinemas em todo o mundo. Os países que vão receber as óperas do Met serão o Canadá, a Austrália, a Holanda, A Alemanha, a Grã Bretanha e a Dinamarca. Mais perto de nós, a França e a Itália ainda estão a pensar… Mas há ainda outra novidade: as óperas do Met tendem a seguir o mesmo percurso que os filmes tradicionais, passando assim para DVD e para vídeo on demand.

Ora, qual a razão de concordarmos com esta notícia e não com a de cima. São coisas diferentes, bem sabemos. Mas neste caso pretende-se chegar ao maior número de pessoas. Obviamente há também aqui um negócio por trás: o das receitas para o Metropolitan Opera e o prestígio (priceless). Neste negócio cada um compreende a sua parte, não há a tentativa de impingir um conceito e todos podem participar uma vez que o modelo é semelhante ao modelo de funcionamento de um cinema.

1 Comments:

Blogger João Barbosa said...

Um aparte quanto à segunda notícia, à laia de complemento (peço descupa pela ousadia):
Não deixa de ser curioso que, no final do século XIX e início do século XX, houve representações de ópera e concertos de música erudita em sessões populares no Coliseu dos Recreios.
Não sei se a modernice terminou com o advento do Estado Novo. Contudo, foi uma perda.

10/8/07 10:15 da manhã  

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