quarta-feira, agosto 08, 2007

- o carteiro -
Este fim-de-semana a SIC noticiou o regresso dos emigrantes portugueses às suas terras de origem. Desperdiçados valiosos minutos de informação que muita falta fazem a blocos de hora e meia onde se discute de tudo sem critério nem respeito pela nossa paciência, resta dizer que não foi dita toda a verdade. Os emigrantes de hoje quando chegam matam de facto as saudades acumuladas às vezes durante anos, dos familiares, dos amigos, daquele recanto da terra que “agora mudou tanto, senhor Jesus Cristo, agora até passa aqui uma estrada”. Bebem como se fosse sempre o último copo de garrafões de vinho forrado a plástico branco entrançado a imitar verga e fazem-no em copos de pé muito baixo, ou então nos “teimosos”, em gradiente de cor do verde para o transparente, da base ao bordo e que são mais propícios à brincadeira quando assentes numa mesa e devidamente vertidos. Os luso descendentes lá surgem como sucursais da MCM, com doses excessivas de meias brancas, brincos com brilhantes de quilates de feira que as mães incompreensivelmente e em nome da integração das crianças adquirem a um preço que sobrevaloriza o pechisbeque. Abundam as correntes com medalhões com siglas (admite-se o ouro em vez dos Swarovski) e os bonés. E as calças a cair pelo tronco mudado porque as novas gerações levam os pais a comer nos Mac Donald’s, um sinal de cosmopolitismo e os pais dão-lhes Caprice dês Dieux (que pronunciam com todas as letras), como mostra da sua evolução civilizacional. As luso descendentes são versões muito pobres e até vergonhosas das meninas que servem de pano de fundo nos vídeo clips de hip-hop: mais despidas que vestidas o que não beneficia ninguém, nem mesmo os mais exigentes. São más, e como uma sala barroca, nelas não cabe nem mais um prego dada a abundância de elementos decorativos. Usam palavrão, perderam a inocência há muito, acompanham os pais para espalhar as tendências do estrangeiro que para elas são sempre muito mais actualizadas que as tendências de uma terra moribunda perdida no meio dos montes onde o que se ouve não é o som dos carros modificados pelo tunning, mas uns papalvos de uns pássaros que acordam cedo. Falam todos tão mal português quanto francês, isso sim, uma pena.

As ruas estão sempre cheias, os restaurantes estão sempre cheios, não há fotografia de uma paisagem que não tenha alguém a posar para outra fotografia, passeia-se em centros comerciais e supermercados, calcorreiam-se ruas em busca de um divertimento obrigatório que justifique a viagem. Chegam a todo o lado, estão em todo o sítio, têm horror vacui e ocupam o silêncio que ainda hoje tentava apreciar ao olhar o maior conjunto do país de edifícios de assinatura por metro quadrado, quando interromperam o silêncio com disparos absurdos das máquinas, não aos edifícios, mas a eles, com os edifícios no fundo. Lá muito no fundo.

Ou se calhar o problema é meu.

4 Comments:

Blogger João Barbosa said...

Os emigrantes são como os salmões: vêm morrer à terra.

8/8/07 9:55 da manhã  
Blogger dandyboy said...

Minha crida,


Hilarianteeeeeeeeeeee!!!!
Não imagina o que tive que me conter para não desatar às gargalhadas no trabalho!!!
Ainda soltei um ou outro riso que me valeram uns olhares desconfiados da francesa( esta sim,não podia ser mais verdadeira! -da Bretanha)como que a pensar.." realemnte esta gente do sul são muito estranhas!!Mesmo com uma chuva torrencial em pleno agosto e um inicio de manhã que se antevê dificil, têm vontade de rir!!".
Mas enfim, não consegui conter-me e não podia deixar de fazer jus ao sangue que me corre nas veias!!

A sua analise sociologica deste fenomeno que é a imigração portuguesa, com especial destaque para esse segmento da populaça que tenta falar a lingua de Moliére, é absolutamente deliciosa!!
Incisiva e inteligente como sempre!
Sardonica, como não podia deixar de ser!!!

Ameiiiiiiiiiii!!!

So gostava, que esses parolos e Associções folcloricas que contribuem para a poluição da paisagem em Portshugal e fazem tudo para perdurar o cliché do matarruano e da "valise de carton" em França lessem este post e se dessem conta do quão parolos são!!!

é que ja não aguento mais, ter que me estar constantemente a justificar aqui em Paris, quando digo que sou português e me returquem automaticamente que "c'est pas possible", "c'est pas vrai!!!!" so porque não sou baixo, pequeno, gordo, peludo e não trabalho nas obras ou faço "ménage"!!!!!


(bien sûr, qu'on peux pas négliger non plus mon allure naturel de dandy cosmopolite et raffiné!!!heheheheh)

Mon dieu, je ne peux plus!!!lol


ahahahha!!

Obrigado crida por este momento de puro deleite.


Beijo(a),


E.

8/8/07 10:07 da manhã  
Blogger Belogue said...

caro João:
morrer longe!

edu:
são como nós (se lhes bateres dói), mas não há paciência para o desfile das meninas, a ignorância dos meninos e a boçalidade dos papás. como é que é possível absorver o pior das duas culturas?

8/8/07 11:25 da manhã  
Blogger dandyboy said...

..é possivel se tivermos em conta a aridez e a pobreza (de espirito) em que eles cresceram e em que cresceram os pais, os avos, etc, etc.
tens razão quando dizes que eles são como nos e que lhes doi, mas infelizmente, não obstante poder nutrir um certo respeito e admiração pelas gerações mais velhas, que emigraram em condições adversas e desumanas e mal sabiam falar a propria lingua, não posso deixar de me indignar e dizer que também me doi enquanto português, constatar que os filhos e restantes extensões parolas continuam a perdurar os clichés de ha 40 anos e a transmitir uma imagem dum Portugal acéfalo e terceiro-mundista!!!!

..Eu acredito no autodidactismo e no facto de que erva daninha (sem querer dizer que os emigrantes o são, ou pelo menos todos!) pode às vezes ser fertil!!

Basta um pouco de vontade, bolas!!

8/8/07 1:46 da tarde  

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