quinta-feira, agosto 20, 2015

- não vai mais vinho para essa mesa -

uma das minhas actividades preferidas é o people watching. gosto de ficar na rua, nos transportes públicos, num restaurante,... a ver as pessoas. num destes dias de férias, observava um casal que ía à minha frente: a mão dada, a cabeça no ombrinho, os beijos roubados à socapa, os risinhos. todos eles eram mel. mas eis que surge, vinda do nosso lado direito, uma moça de sapato alto e um vestido do género bandage dress Hervé Leger (é ir ver ao Google Images), preto e branco às riscas horizontais que lhe salientava tanto a cintura fina como o rabiosque redondo. pensei "caramba, se eu fosse daqueles homens que gostam de mulheres, largava a minha e ía ter com esta". alguma coisa me disse: "não sejas ridícula. depois ias largar a moça de vestido às riscas para ires ter com algo mais perfeito e assim sucessivamente". com a oferta que hoje há - mesmo que alguma seja, manifestamente, publicidade enganosa - as relações amorosas parecem cada vez mais voláteis e minadas por exemplos como aquele da rapariga de vestido às riscas. não que eu seja contra raparigas de vestidos às riscas, muito pelo contrário. mas poderá um homem resistir a uma moça de rabiosque redondo e cintura fina? poderá dizer que não? às vezes, como parte do meu passatempo de people watching, entro em lojas para ver as moças jeitosas que nelas trabalham. depois saio de lá desfeita, a sentir-me horrível e a martirizar-me "ah vida injusta, mundo cão, sorte malvada! mas porque é que eu não sou assim?".

6 Comments:

Anonymous ana said...

desculpe, mas isso é ridículo. na verdade, para que quereria uma mulher (aliás, uma MULHER) a companhia dum homem que não quer a sua? e para que quereria uma MULHER a companhia dum homem cujas preferências se baseiam apenas em aspectos perecíveis, superficiais e primais (no sentido em que apelam aos instintos básicos)? olhar para vestidos às riscas, todos olham (e mulheres também). mas gente que é gente sabe o que quer. não se perde por aí. e além do mais, por olhar ninguém se perde. pois que os haja, vestidos às riscas, às bolinhas, e também cuecas justas, e troncos nus, e barbas ralas, e bikinis, e saias compridas, e tudo o mais que possa haver, porque o que é bom é para se ver, mas sobretudo que haja vontade, garra, coragem e ganas para que cada um e cada uma possa usar o que bem entender, e que tudo caia bem e ninguém seja julgado pela sua mera aparência. tenho dito. bom brom a tod@s.

21/8/15 2:22 da tarde  
Blogger Belogue said...

Anita:
Quando penso racionalmente (porque às vezes tenho tendência para ser tendenciosa e adequar o pensamento a teses que não têm fundo de verdade), vejo que de facto um corpo bem feito e um rosto bonito são apenas átomos. Digo "átomos" não no sentido metafórico (átomo-pequeno), mas porque são orgânicos, acabam. Claro que uma pessoa não é o que veste, nem o comprimento das pernas, mas é-me muito difícil lidar com a evidência de que, hoje em dia, isso é muito importante para a maior parte das pessoas. Acabo por dar razão às minhas teses que servem propósitos muito próprios: classificar o ser humano, metê-lo em caixinhas com legendas para ser mais fácil lidar diariamente com as pessoas que não conheço. Estar a admitir isto é duro...

21/8/15 2:43 da tarde  
Anonymous ana said...

a categorização é indispensável ao funcionamento psíquico. quer dizer, não precisamos de nos chicotear por a reconhecermos em nós: a nossa mente, para poder relacionar-se com o mundo, necessita de o repartir em categorias reconhecíveis de forma rápida, operativas, e com capacidade preditiva. agora, o que acontece é que nós, humanos dotados de moral e quejandos, queremos "elevar-nos" acima disso. é como os preconceitos e os estereótipos: não os ter seria equivalente a ter "memória de peixe", ou seja, recomeçar sempre tudo de novo a cada momento. na minha opinião, o objectivo não deveria ser deixar de os ter, mas sim torná-los conscientes, e ser capaz de entender e gerir a sua influência sobre os nossos juízos e acções. espero ter sido clara na minha expressão, perdoa estar a escrever tão mal, deve ser do brom.

24/8/15 8:19 da tarde  
Blogger Belogue said...

Anita:

Bocê escolheu o brom para andar a ler Deleuze? Não foi à festa da Caras, de branco e vermelho, para dar as boas vindas ao brom? Já estou a imaginá-la com os óculos na ponta do nariz e o livro de Epistomologia aberto, a escrever este comentário todo catita, de propósito para gozar com os pobrezinhos.
Mas em relação ao que disseste, sabes que o psi também me diz isso? Depois desenvolvo este assunto num tête-à-tête. Abraços, boa noite

Gostas de Crivelli?

25/8/15 12:09 da manhã  
Anonymous ana said...

ó jobem, sou obrigada a confessar publicamente perante ti que não consigo ler deleuze. dos franceses, só o fucô me chega, os outros deixam-me ko ao fim das primeiras cinco palavras (hesito em usar o termo "frase"). quanto ao crivelli, nem de nome. eu é mais forma do que conteúdo, já devias saber. mas bom, não macemos o povo com considerações de mesa de bar. veijos.

28/8/15 11:31 da manhã  
Blogger Belogue said...

Anita
Uma vez tive de ler Edgar Morin e fiquei muito triste porque não percebia patavina. Lia cada frase três vezes e nada, não percebia nada. Depois fiquei menos triste quando descobri que, não obstante o ar entendido, os meus colegas também não percebiam nada. Já os clássicos nunca desiludem. Beijos

1/9/15 9:07 da manhã  

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