- o carteiro -
olá boa nuaaaaaaaite! este post é mais um carteiro relativo às prefigurações do Speculum. Desta vez, a Apresentação no templo sucedida de quatro episódios do Antigo Testamento. A Apresentação no templo era um ritual pelo qual passavam todos os primogénitos. Segundo Lucas, até oito dias após o nascimento a criança deveria ser circuncidada. E 40 dias após o nascimento, prazo dado para a purificação da mãe, deveria ser apresentada no templo. Vemos isto em Lucas 2, 22-24: "E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogénito será consagrado ao Senhor); E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos.". Esta oferta era algo que já estava determinado no Lebítico-com-"b". Lá podemos ler: "E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote.O qual o oferecerá perante o Senhor, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz menino ou menina. (Lv 12, 6-7). Mas o Lebítico-com-"b" também prevê outras situações. Para o caso das famílias serem pobres e não poderem levar um carneiro (ou um mamute!), havia o seguinte versículo: " Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa."(Lv 12, 8). Por isso vemos, em muitas apresentações de Jesus no templo, José com o casal de pombos na mão, numa cesta ou numa gaiola. Mostro isto na figura seguinte, mas antes quero deixar aqui uma reflexão que me assolou enquanto escrevia isto: se Maria tinha concebido sem pecado, para que precisava ela dos 40 dias de purificação após o parto? A pintura é de Vasco Fernandes, está no Museu de Lamego e nela podem ver, ao fundo dois anjos, um de cada lado da arca da aliança. e esse é o próximo passo.
Vasco Fernandes
Apresentação de Jesus no templo
1506-1511
Museu de Lamego
Apresentação de Jesus no templo
1506-1511
Museu de Lamego
Arca da Aliança
"É assim", como agora se diz: a primeira prefiguração da apresentação de Jesus no templo é a chamada Arca da Aliança de que já tínhamos falado quando analisamos uma crucifixão (vocês não se lembram, mas deixo aqui o link). Nela dizíamos que o véu do templo guardava a arca da Aliança. A Arca da Aliança vem descrita no Ex 37: era coberta de ouro e ladeada por dois querubins (a construção da arca com os dois querubins foi uma das razões pelas quais os adeptos das imagens nos primórdios do Cristianismo começaram a representar o divino). Para falar a verdade, não encontro relação entre a arca e a apresentação de Jesus, mas entre este objecto e Maria, já que um dos episódios que constitui os 5 mistérios gozosos de Maria é justamente este (quando falo dos Mistérios Gozosos, falo de uma das três divisões de um Rosário; ou seja, um terço, e que são os gozosos, os dolorosos e os luminosos). Como vimos, para chegar à Arca da Aliança, ou Santo dos Santos, tínhamos de atravessar três véus, sendo que a transposição do terceiro só poderia ser feita pelo Sumo Sacerdote. Na primeira tenda (que não seria uma tenda como aquelas de campismo, mas uma tenda no sentido de um espaço separado do exterior que albergava qualquer coisa) tinha o candelabro, a mesa e os pães para oferenda. Na segunda tenda estava o altar de ouro e a Arca da Aliança em si, coberta de ouro e que continha uma caixa de ouro onde se encontrava o maná (a propósito, "maná" quer dizer: "o que é isto"), a vara de Aarão e as tábuas da lei. Encontramos isto em Hebreus (" Ora, também a primeira tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre. Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candelabro, e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o santuário.Mas depois do segundo véu estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos,Que tinha o incensário de ouro, e a arca da aliança, coberta de ouro toda em redor; em que estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha florescido, e as tábuas da aliança; E sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no propiciatório; das quais coisas não falaremos agora particularmente.Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços; Mas, no segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo" (Hb, 1-7). Ora, como cofre em madeira de cedro incorruptível, a Arca alude a Maria que também não foi corrompida pelo pecado original nem o seu corpo pela morte. A arca era também o símbolo da Aliança de Deus com o seu povo e Maria, ao acolher Jesus no seu seio, torna-se instrumento dessa aliança. Por outro lado, assim como a Arca estava revestido por dentro e por fora do maior dos bens, o ouro, também Maria estava revestida do maior bem espiritual que era a Graça e o amor de Deus.
Menorá
Ora "bamos" a outra prefiguração. Desta vez, uma mais complicada ainda, porque nem eu nem o Ludolfo da Saxónia fazemos a coisa por menos: é para postar, então "pumba, bai tudo a eito". Não tenho bem certeza daquilo que vou escrever por isso se vocês acharem que está mal, por favor corrijam (como sei que ninguém vai ler isto...). A Menorá surge como segunda prefiguração da Apresentação de Jesus no templo. Para quem não sabe a Menorá é aquele candelabro de sete braços usado em cerimónias judaicas. Este candelabro que Deus ordenou a Moisés que fizesse era de ouro, tinha sete braços e deveria ser colocado na Arca da Aliança. A descrição surge-nos no Ex 25, 31-37: "Também farás um candelabro de ouro puro; de ouro batido se fará este candelabro; o seu pé, as suas hastes, os seus copos, os seus botões, e as suas flores serão do mesmo. E dos seus lados sairão seis hastes; três hastes do candelabro de um lado dele, e três hastes do outro lado dele. Numa haste haverá três copos a modo de amêndoas, um botão e uma flor; e três copos a modo de amêndoas na outra haste, uma maçã e uma flor; assim serão as seis hastes que saem do candelabro. Mas no candelabro mesmo haverá quatro copos a modo de amêndoas, com seus botões e com suas flores; E um botão debaixo de duas hastes que saem dele; e ainda um botão debaixo de duas outras hastes que saem dele; e ainda um botão debaixo de duas outras hastes que saem dele; assim se fará com as seis hastes que saem do candelabro. Os seus botões e as suas hastes serão do mesmo; tudo será de uma só peça, obra batida de ouro puro. Também lhe farás sete lâmpadas, as quais se acenderão para iluminar defronte dele." Outro nome para Menorá é o de candelabro, neste caso, candelabro judaico. E Jesus foi apresentado no templo do dia 2 de Fevereiro, dia em que também é conhecido por dia da Candelária.
Apresentação de Samuel
A mãe de Samuel era estéril (quer dizer, ainda não era mãe de Samuel, caso contrário não era estéril), chamava-se Ana e era mulher de Elcana. A sua história é semelhante à de Sara e surge no I livro de Samuel. Diz então o livro que Ana andava lá a fazer as suas coisas quando uma das outras mulheres do seu marido começou a dizer-lhe "Ah e tal, és estéril, não dás um herdeiro ao teu marido e eu dou..." (como diz a Bíblia, "Deus fechou-lhe a madre"). Claro que Ana entrou numa espiral descendente e deixou de comer e começou a rezar, que não era uma coisa exatamente má, mas foi para o lado que lhe deu. Deus ouviu as suas preces e prometeu-lhe um filho, tal como havia feito a Maria, embora neste último caso a sua gravidez não fosse o atendimento de um pedido de Maria. Samuel nasceu e mal foi desmamado, Ana ofereceu-o ao templo para ali viver para sempre. Vemos isto em 1Sm 1, 22-23: "Porém Ana não subiu; mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre. E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer aos teus olhos; fica até que o desmames; então somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim ficou a mulher, e deu leite a seu filho, até que o desmamou." Assim, a mãe foi ao templo e apresentou a criança ao sacerdote, de seu nome Eli. Já a viver no templo Samuel um dia recebeu o chamamento de Deus enquanto dormia. E dormia onde? No templo, junto da Arca da Aliança como prova 1 Sm 3, 3: "E estando também Samuel já deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor, onde estava a arca de Deus,". Quer isto dizer o quê? Que o nascimento de Samuel antevê o de Cristo na semelhança entre ambos. Samuel também é apresentado no templo e torna-se sacerdote do mesmo; ele é "oferecido" ao templo por sua mãe, enquanto Cristo é "oferecido" a Deus. Acho que a relação com a Arca da Aliança não é de menosprezar porque Samuel é o contacto com a Antiga Aliança e Jesus estabelece a Nova Aliança.
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