quinta-feira, setembro 17, 2009

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois literário. Depois da lenda do Rei Salomão e da sua sabedoria que fez com que uma criança fosse poupada. Brecht repete a fórmula em "Círculo de Giz Caucasiano", cujo excerto apresento em inglês devido à impossibilidade de encontrá-lo em português. Esta peça para teatro de Brecht conta a história de uma mulher, servente, que fica a tomar conta de uma criança herdeira depois da mãe a ter abandonado. O papel de Salomão cabe aqui ao juíz Azdak. Mesmo que não leiam, sempre fica o post:

"Então vieram duas mulheres prostitutas ao rei, e se puseram perante ele. E disse-lhe uma das mulheres: Ah! senhor meu, eu e esta mulher moramos numa casa; e tive um filho, estando com ela naquela casa. E sucedeu que, ao terceiro dia, depois do meu parto, teve um filho também esta mulher; estávamos juntas; nenhum estranho estava conosco na casa; somente nós duas naquela casa. E de noite morreu o filho desta mulher, porquanto se deitara sobre ele. E levantou-se à meia noite, e tirou o meu filho do meu lado, enquanto dormia a tua serva, e o deitou no seu seio; e a seu filho morto deitou no meu seio. E, levantando-me eu pela manhã, para dar de mamar a meu filho, eis que estava morto; mas, atentando pela manhã para ele, eis que não era meu filho, que eu havia tido. Então disse à outra mulher: Não, mas o vivo é meu filho, e teu filho o morto. Porém esta disse: Não, por certo, o morto é teu filho, e meu filho o vivo. Assim falaram perante o rei. Então disse o rei: Esta diz: Este que vive é meu filho, e teu filho o morto; e esta outra diz: Não, por certo, o morto é teu filho e meu filho o vivo. Disse mais o rei: Trazei-me uma espada. E trouxeram uma espada diante do rei. E disse o rei: Dividi em duas partes o menino vivo; e dai metade a uma, e metade a outra. Mas a mulher, cujo filho era o vivo, falou ao rei (porque as suas entranhas se lhe enterneceram por seu filho), e disse: Ah! senhor meu, dai-lhe o menino vivo, e de modo nenhum o mateis. Porém a outra dizia: Nem teu nem meu seja; dividi-o. Então respondeu o rei, e disse: Dai a esta o menino vivo, e de maneira nenhuma o mateis, porque esta é sua mãe."

(1 Reis 3, 16-27)


Azdak: Plaintiff and defendant! The court has listened to your case, and as come to no decision as to who the real mother of the child is. I as Judge have the duty of choosing a mother for the child. I'll make a test. Shauva, get a piece of chalk and draw a circle on the floor. Now place the child in the centre (criança sorri para a mãe adoptiva). Paintiff and defendant, stand near the circle, both of you. Now each of you take the child by a hand. The true mother is she who has the strenght to pull the child out of the circle towards herself.
Advogado: High Court of Justice, I protest! I object the fate of the great Abashvili states, which are bound up with the child as the heir, should be made dependent on such a doubtfull wrestling match. Moreover, my client does not command the same physical strenght as this person, who is accustomed to physical work.
Azdak: She looks pretty well fed to me. Pull!
[a falsa mãe puxa, a mãe adoptiva larga a mão da criança]
Advogado: Congratulations! What did I say! The bonds of blood!
Azdak (para a mãe adoptiva): What's the matter with you? You didn't pull!
Grusha: I didn't hold on to him. Your Worship, I take back everything I said against you. I ask for forgiveness. If I could just keep him until he can speak properly. He knows only a few words.
Azdak: Don't influence the Court. I bet you know only twenty yourself. All right, I'll do the test once more, to make certain. Pull!
[a falsa mãe puxa e a mãe adoptiva volta a largar a criança]
Grusha: I've brought him up! Am I to tear him to pieces? I can't do it!
Azdak: And in this manner the Court has established the true mother. (Para Gruska) Take your child and be off with it.


Brecht
1944-1945
página 94