sexta-feira, setembro 11, 2009

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

[mas isso agora não interessa nada]
No Chile e na Argentina, países por onde passou o Rally Dakar (outra coisa que eu não entendo uma vez que Dakar é em África. Não obstante as ameaças terroristas, poderia conseguir-se outro percurso. O que não falta é terra!) pela primeira vez em Janeiro deste ano, e apesar dos avisos de arqueólogos e ambientalistas, foram causados danos irremediáveis e vários sítios arqueológicos. Em Julho, o Conselho nacional de Monumentos do Chile entregou ao governo chileno um documento que referia a extensão dos danos causados pelo rally e a repetição, daquilo que já havia sido dito antes do rally, pelo Conselho, em 2008, que bastaria mudar um pouco a rota do mesmo para que seis sítios arqueológicos fossem poupados.

Tanto o governo chileno como a ASO (Amaury Sport Organisation) e mesmo os ambientalistas e os arqueólogos estão de acordo num ponto: o rally foi muito lucrativo para o Chile e para a Argentina. E aqueles que defendem a preservação de locais de interesse arqueológico já se mentalizaram que muito provavelmente o rally veio para ficar. No entanto não podem deixar de defender que os danos podem ser minimizados que existir uma cooperação entre o governo, a organização do rally e eles próprios, com vista à alteração da rota. Por mais benevolentes que tentem ser, os arqueólogos fizeram notar que quatro dos locais assinalados como sendo de interesse arqueológico se encontram na região de Atacama e outros dois na região de Coquimbo. E que nesses mesmos locais tinham sido descobertos vestígios importantes de arte pré-columbiana que ficaram destruídos após a passagem da corrida. Os veículos destruíram objectos como facas, fragmentos cerâmicos e conchas, ossos humanos e cabeças de seta, datados de 9000 a.C. e 1500 d.C. No entanto, isto é apenas uma parte dos danos, uma vez que até agora apenas 10% do percurso foi analisado. Do outro lado, a organização e os concorrentes defendem-se dizendo que não obstante as regras apertadas para que os carros não passem perto das áreas assinaladas, as mesmas não estão sinalizadas. O que é certo é que nem para pedras nem plantas os gases emitidos pelos veículos são propriamente um Creme de la Mer.
[um Velázquez é um Velázquez, é um Velázquez. malgré moi!]
Durante anos esteve exposto no Met uma pintura atribuída a Velázquez. Era o retrato de um homem de bigode com cerca de trinta anos e datava do século XVII, século de produção do autor. Só que não, quando obtida em 1949, a pintura foi dada como pertencendo à oficina de Velázquez (aquela coisa da produção em série que os pintores utilizavam muito para dar resposta às encomendas). Agora, um curador do Met vem confirmar que a pintura em questão é mesmo um Velázquez-Velázquez.

As razões para os peritos desconfiarem da autoria do quadro baseavam-se na patine deixada pelo tempo sobre a tela, o que fez com que a mesma ficasse sem cor e a palete de cores utilizada parecesse muito mais sombria do que as habitualmente utilizadas pelo pintor espanhol. Recentemente, quando o museu começou a catalogar as obras espanholas que tinha em sua posse, o conservador do museu olhou para a obra novamente e com outros olhos e descobriu que depois de anos de pó e sob camadas sucessivas de verniz e retoques com produtos que hoje não são os mais adequados, se encontrava um verdadeiro Velázquez. O retratado ainda é desconhecido, até porque a pintura é um estudo, não está acabada: a face e traje do homem estão terminados, mas a paisagem em pano de fundo não. Por outro lado, nada há na pintura que possa dizer que é Velázquez, embora exista no pintor uma tradição de pintar este mesmo rosto: vemo-lo n'"As Meninas" a vestir a pele do próprio pintor e no quadro “The Surrender of Breda” que comemora a vitória da Espanha frente à Alemanha, na margem direita da pintura.

Esta descoberta parece ser de extrema importância para quem se interessa por isto (eu!), uma vez que a produção artística do pintor, pelo menos aquela que se conhece e que pode ainda ser recuperada é muito pequena: só se conhecem cerca de 110 a 120 quadros de Velázquez. Esta descoberta – não a descoberta em si, mas o facto de se falar nela – é relevante para qualquer visitante. Por mim falo: se visitasse o Met e visse a tela ao lado de outras de Velázquez (talvez eu nunca fosse ver a sala dedicada ao Velázquez), nunca pensaria que poderia não ser da sua autoria. Isto é um abre-olhos. Quantas telas e bustos e livros e peças e peças estão mal atribuídas ou não têm valor, ou tal como as relíquias, são produzidas industrialmente. Não há possibilidade para o visitante questionar. Tal como no livro "Todos os Nomes" de Saramago, um morto não fala. Como posso eu saber que por baixo daquela lápide rezo ao meu morto e não ao morto de outra pessoa. Segundo a ética cristã, deveria ser a mesma coisa pois o bem que fazemos a um é como se fizéssemos ao Pai e "what goes around, comes around", mas segundo a nossa ética, mesmo após a morte, o morto continua a ser nosso.
[o plano director municipal ou let's look at a trailer]
O arquitecto Jean Nouvel recebeu um puxão de orelhas, que nunca é uma coisa boa de receber, mas no caso dele, é pior que mau. É que o "puxão de orelhas" foi dado pela Câmara de Nova Iorque, cidade para a qual o arquitecto tinha projectado uma torre um pouco maior do que aquilo seu seria desejado. Estamos a falar de cerca de 61 metros numa torre perto do Museu de Arte Moderna. Inicialmente o projecto de Nouvel dizia que a torre deveria ter o tamanho do Empire State Building (381 metros), sendo que este edifício é, após o 11 de Setembro de 2001 o mais alto da cidade de Nova Iorque. Na semana passada o Departamento de Planeamento urbano da cidade decidiu cortar os tais 61 metros pois, segundo Amanda Burden do mesmo departamento, a forma do edifício, que acaba em três picos não estava de acordo com a estética do edifício com o qual iria competir em altura. Para além disso, a torre de Nouvel eclipsava o Museu por completo. Mas há quem defenda a Torre de Nouvel tal como está uma vez que acompanha o espírito da Midtown para onde está projectada. O facto de Nouvel, assim como outros, desejar a sua torre tal como está, lembra a necessidade dos arquitectos deixarem a sua marca. E se há uma cidade propícia a isso é Nova Iorque. Se há uma zona propícia a isso, essa zona é a Midtown.