sexta-feira, janeiro 09, 2009

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
A taça que se bebe vazia:
Prince Hercule-François, Duc d'Alençon
1572
National Gallery of Art, Washington
Este senhor que aqui vemos chama-se Hercule François e era duque de Anjou e de Aleçon. Como podem ver, não era um exemplo nem de beleza nem de força, graças a algumas deformações que lhe vieram da varíola e devido ao cruzamento sanguíneo (fiquem sabendo que existe menor risco de deformação no fruto de uma cópula entre dois primos judeus, que ainda hoje casam entre si do que entre uma asiática e um ocidental. Ah pois é!). Logo o seu nome – Hércules - não lhe assentava muito bem. Mudou-o para François, mas nem as deformações o impediram de ser um a mistura perfeita entre a sedução dos Médicis e o poder dos Valois. Para quem viu e quem se lembra, ele era um dos pretendentes da mão de Elizabeth I, mas não foi aceite nem por ela nem pela sua corte por ser católico, pertencer a um país católico e obedecer às ordens do Papado Romano, com quem a Inglaterra Protestante de Elizabeth tinha cortado relações. François não foi uma figura muito falada na história dos governantes franceses, mas se pudéssemos perguntar às senhoras da época, por certo nos diriam que seria para sempre lembrado entre lençóis. Pelo menos se não ficou com o proveito, ficou com a fama.

François tinha uma taça especial que me fartei de procurar e não encontrei. Até enviei um mail para um dos descendentes da Casa de Anjou que é casado com uma portuguesinha um pouco afectada (gente das revistas), mas não devia estar ninguém em Casa porque nunca responderam. Bom, a taça era especial porque apenas as senhoras bebiam por ela. Qualquer convidada do duque bebia por aquela taça em especial. Umas faziam-no de olhos abertos, extasiadas, outras perdidas com o riso e já sabendo o que as esperava, fechavam-nos, mas de pouco lhes valia pois a memória do interior da taça era escandalosamente inesquecível. A taça era cinzelada no interior e as cenas retratavam as posições sexuais descritas por Arentino e ilustradas por Giulio Romano que circulavam como pornografia entre os meios sociais mais elevados. Enquanto dava de beber às suas convidadas, o duque ia rodando o cálice e as senhoras podiam admirar no seu interior as sugestivas imagens. Era proibido servir de beber em outro recipiente e quem se negasse a beber pela dita taça corria o risco de passar a noite sem beber nada porque o duque era muito ciente destas coisas das taças e das ilustrações e das posições sexuais. Ao fundo, os homens zombavam das que bebiam com os olhos abertos e das que bebiam com os olhos fechados: umas gulosas e outras fazendo-se esquisitas.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

isto é a modos que um comentário bem acomentado...
1. a título de curiosidade para mim o duc d'anjou tem a cara daquele lingrinhas ao pé do jeremy irons. não sabia que era assim enfezado, como o nosso d.sabastião
2.a cerâmica das caldas também tem umas taças assim. hei-de trazer

9/1/09 3:42 da tarde  
Blogger Belogue said...

já não estou contigo há tanto tempo... não faças nada de importante sem eu saber. estou farta de receber novidades de Palma de Maiorca, no mínimo. Isto quando não vão daqui para Lisboa, de Lisboa para Palma, de Palma para Paris, de Paris para Cerva e de Cerva para aqui. sou sempre a última a saber, irra!

25/1/09 11:40 da tarde  

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