- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Hoje estamos a fazer descontos. Os Picasso têm 20% de desconto e se comprar 2 Degas, leva um terceiro de borla!
É para que saibam que a crise toca a todos. Não toca a estes artistas que já estão na paz do Senhor, mas toca às leiloeiras e galerias de arte que, pasme-se, estão a fazer saldos. Não é um retrocesso preocupante na cavalgada da bolha, mas de há quatro anos para cá que não se via nada assim.
Nos últimos leilões da Christie's e da Sotheby's foram deixadas duas mensagens unívocas: o dinheiro continua a existir e a ser gasto quando estão em jogo raridades ou peças cuja beleza é inquestionável (e não o valor que futuramente terão, é preciso que se veja), isto porque ao contrário do artesanato e da produção industrial o que move os artistas é o desejo e não o dinheiro, e os antigos compradores, aqueles que percebem e apreciam mesmo arte voltam a ter lugar nos leilões depois da vaga de dinheiro de investidores estrangeiros ocasionais.
Estes últimos, que acicatavam o mercado, fizeram-no disparar com palavras-chave como "investimento garantido" ou "lucro". Muito curiosos foram atraídos, mas quando a crise lhes bateu à porta, foram os primeiros a retirar-se. E o público percebeu quem era pela arte e quem era pelo lucro. Eu sei que isto parece uma visão hermética da arte, como se só existisse o bem e o mal, mas a verdade é que com poucos meses de crise financeira, os leilões voltaram ao que eram e os compradores já não são influenciados pelo primeiro artista medíocre que surge promovido por alguém que nunca surgiu. Estão mais atentos.
Ultimamente as peças que têm alcançado preços mais elevados são obras do século passado: Malevitch fez cerca de 50 mil euros, Degas ficou-lhe atrás (mas mesmo assim bateu o recorde pessoal) com cerca de 30 mil euros, Munch também conseguiu cerca de 30 mil euros numa só obra que representava o Expressionismo. Mas por exemplo, um desenho a pastel de Degas, pelo menos com a sua assinatura, e que se encontrava perdido no seu estúdio, não chegou a ser vendido. Isto porque os compradores presentes não tinham a certeza se se tratava de um Degas e o tipo de obra e o estado da mesma não permitiam sequer descortinar com toda a nitidez as bailarinas ali desenhadas. Obras consideradas aceitáveis mas não excepcionais de Modigliani não ultrapassaram, pelas ofertas, o valor estimado pela leiloeira. Foram vendidas (eram dois retratos) por cerca de 4mil euros.
Os compradores estão a recusar qualquer obra cujo valor possa ter sido sobrestimado pelas leiloeiras para proteger os interesses dos vendedores (e os seus interesses também, claro). As leiloeiras por seu lado conseguiram refrear a tentação e por isso venderam, por preços mais modestos do que seria habitual a grande parte dos lotes levados a leilão. Léger, Chaim Soutine e Giacometti venderam bem, uma pechincha e Renoir nem por isso. Juan Gris saiu-se melhor que Picasso com um trabalho vendido por 16 mil euros, novo máximo para o artista cubista. Picasso ficou-se pelos 14 mil euro. Mesmo assim, mesmo com todas as cautelas, o mercado continua a rolar. Com saldos, é certo, mas mais ajuizado.
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É para que saibam que a crise toca a todos. Não toca a estes artistas que já estão na paz do Senhor, mas toca às leiloeiras e galerias de arte que, pasme-se, estão a fazer saldos. Não é um retrocesso preocupante na cavalgada da bolha, mas de há quatro anos para cá que não se via nada assim.
Nos últimos leilões da Christie's e da Sotheby's foram deixadas duas mensagens unívocas: o dinheiro continua a existir e a ser gasto quando estão em jogo raridades ou peças cuja beleza é inquestionável (e não o valor que futuramente terão, é preciso que se veja), isto porque ao contrário do artesanato e da produção industrial o que move os artistas é o desejo e não o dinheiro, e os antigos compradores, aqueles que percebem e apreciam mesmo arte voltam a ter lugar nos leilões depois da vaga de dinheiro de investidores estrangeiros ocasionais.
Estes últimos, que acicatavam o mercado, fizeram-no disparar com palavras-chave como "investimento garantido" ou "lucro". Muito curiosos foram atraídos, mas quando a crise lhes bateu à porta, foram os primeiros a retirar-se. E o público percebeu quem era pela arte e quem era pelo lucro. Eu sei que isto parece uma visão hermética da arte, como se só existisse o bem e o mal, mas a verdade é que com poucos meses de crise financeira, os leilões voltaram ao que eram e os compradores já não são influenciados pelo primeiro artista medíocre que surge promovido por alguém que nunca surgiu. Estão mais atentos.
Ultimamente as peças que têm alcançado preços mais elevados são obras do século passado: Malevitch fez cerca de 50 mil euros, Degas ficou-lhe atrás (mas mesmo assim bateu o recorde pessoal) com cerca de 30 mil euros, Munch também conseguiu cerca de 30 mil euros numa só obra que representava o Expressionismo. Mas por exemplo, um desenho a pastel de Degas, pelo menos com a sua assinatura, e que se encontrava perdido no seu estúdio, não chegou a ser vendido. Isto porque os compradores presentes não tinham a certeza se se tratava de um Degas e o tipo de obra e o estado da mesma não permitiam sequer descortinar com toda a nitidez as bailarinas ali desenhadas. Obras consideradas aceitáveis mas não excepcionais de Modigliani não ultrapassaram, pelas ofertas, o valor estimado pela leiloeira. Foram vendidas (eram dois retratos) por cerca de 4mil euros.
Os compradores estão a recusar qualquer obra cujo valor possa ter sido sobrestimado pelas leiloeiras para proteger os interesses dos vendedores (e os seus interesses também, claro). As leiloeiras por seu lado conseguiram refrear a tentação e por isso venderam, por preços mais modestos do que seria habitual a grande parte dos lotes levados a leilão. Léger, Chaim Soutine e Giacometti venderam bem, uma pechincha e Renoir nem por isso. Juan Gris saiu-se melhor que Picasso com um trabalho vendido por 16 mil euros, novo máximo para o artista cubista. Picasso ficou-se pelos 14 mil euro. Mesmo assim, mesmo com todas as cautelas, o mercado continua a rolar. Com saldos, é certo, mas mais ajuizado.
2 Comments:
Oh Beluguinha, estava aqui a pensar no modo de levar as obras... será que as embrulham em papel manteiga e os levam debaixo do braço?
qual quê? um saco de plástico do Intermarché e se não puder levar a obra consigo, é como no IKEA: aluga o transporte que eles levam ao domicílio.
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