quarta-feira, novembro 19, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como este é um dos quadros menos conhecidos de Degas. Tão desconhecido que se não fosse o título da obra de Muñoz e eu diria que o antes, na minha memória pelo menos era de Toulouse-Lautrec. Quanto a Juan Muñoz acho que já fali muito aqui. Mais do que o crítico do Expresso que se limitou a fazer perguntas no artigo da Actual. O quadro de Degas, tal como muitos quadros impressionistas foi influenciado pela fotografia cuja técnica foi descoberta em França por Niépce (embora quem tenha ficado com os louros tenha sido o seu sócio Daguerre - daí a palavra "daguerreótipo") e aperfeiçoada por Nadar (principalmente no que diz respeito à fotografia aérea), por alturas do Impressionismo. Vimos como Seurat foi influenciado pela fotografia, assim como M0net e a Catedral de Rouen e neste quadro vemos como Degas capta o instante, o momentâneo como se fosse uma fotografia. No que diz respeito a Miss La La no Circo Fernando (é assim que fica quando traduzido), Degas preparou, no mínimo quatro desenhos preparativos, depois de ter visto o número, como parte da assistência, no circo Fernando. Os estudos deram origem à pintura que foi exibida na quarta exposição Impressionista em Abril de 1879. Miss La La era uma acrobata famosa no seu tempo por fazer o seu número pendurada pelos dentes numa corda e elevada até ao topo da cúpula da tenda do Circo Fernando. O Circo Fernando foi fundado em 1875, quatro anos antes da pintura ser feita, mas mais tarde foi rebaptizado de Circo Médrano. Madame La La era conhecida por "la femme canon" e ainda mais por ser uma negra a exibir-se num número arriscado e novo, embora a denominação "la femme canon" remetesse para um dos seus números que envolvia um canhão. A pintura retrata a excitação do número, quando o público olha para cima para ver Miss La La a balouçar por cima das suas cabeças, embora o mesmo público esteja ausente da pintura. E este é o ponto de vista, ousado, a partir do qual Degas pintou a acção. Pintou-a como se estivesse, ele e nós, sentado nas cadeiras das primeiras filas e assistisse a tudo de baixo para cima. Isso é que dá a sensação de desafio à tela, de perigo e de risco que de outra forma, de outro ponto de vista faria de Miss La La uma comedora de cordas. Esta perspectiva escolhida por Degas não era nova, já tinha sido usada pelos grandes mestres, embora fosse uma inovação para o Impressionismo. Chamava-se "di sotto in su" que quer dizer "quem olha de baixo para cima". Para os pintores como Melozzo da Forli ou Piero della Francesca, esta perspectiva era aplicada em temas religiosos, para enfatizar a diferença entre o profano e o divino. Degas porém usou-a não para divinizar Madame La La, mas para tornar mais real o tema, para nos convencer, pois Degas tinha ("The Bellelli Family", "The Rape", "Bad Mood"), a par de Manet ("The Execution of the Emperor Maximilian of Mexico", The Waitress") a preocupação em pintar e incluir nas suas pinturas a figura humana, fora do contexto da paisagem, como mero elemento decorativo desta, tema preferido dos pintores impressionistas. Degas pintou a corda como se esta quase não existisse e fundindo-se com o fundo, com a decoração do espaço. A própria Madame La La também parece estar um pouco escondida, mas sobressai mais depressa do que o fio; enquanto não o vemos e não percebemos o que se está a passar, pensamos que Madame La La está a ser elevada aos céus por uma força sobrenatural. E é este fio que equilibra a composição. Por mais insignificante que o mesmo nos pareça, por ser tão fino e passar despercebido, a verdade é que na sua ausência a tela não teria sentido. Ajuda ainda mais pensar e ver que a corda está esticada; mesmo desconhecendo se está alguém ou algum mecanismo cá em baixo a fazer exercer esta força, é a sensação de que existe uma força que torna a composição equilibrada:"

Edgar Degas
Miss Lala at the Cirque Fernando
1879
National Gallery



Juan Muñoz
Apres Degas
1997

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

boa descoberta

19/11/08 10:26 da manhã  
Blogger Belogue said...

depois do texto do juan muñoz (quer dizer, o texto sobre a exposição) que remédio tinha eu!

20/11/08 12:09 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home