- o carteiro -
what to wear I (Gregos e Romanos):
Inicio aqui um conjunto de posts, que espero ser capaz de cumprir, dedicados à história do vestuário até aos nossos dias. o que vestiam as pessoas, de que tecidos eram feitas as suas roupas, porquê, quais as cores que usavam, o que é que ditava a moda em determinado tempo and so on. não se trata de um post sobre moda, mas sobre história do vestuário, sendo que em alguns momentos será história da moda. O que separa estas duas noções é que em certos casos, a roupa distingue quem pode seguir a moda, as tendências e quem tem de usar o que é mais simples e que serve melhor as funções, isto sem esquecer que o próprio tempo dita a moda e que esta está dependente das técnicas, conhecimentos e materiais disponíveis.
Se a necessidade aguça o engenho e o hábito faz o monge, isso é lei na Grécia Antiga. Os gregos vestiam aquilo que se chama quíton: era uma peça quase sem cortes, que prendia num ombro só ou nos dois ombros, no caso da mulher graças a alfinetes ou broches e no caso dos homens com cordões ou cintos em torno da cintura e broches a prender num dos ombros. Isto numa primeira fase pois mais tarde o traje passou a ser constituído por dois quítons já com costuras. O quíton podia ser de lã (quíton dório) ou de linho (quíton jónio), sendo que este era mais flexível e por isso permitia maior variedade de modelos. Os jovens e os cavaleiros usavam por cima do quíton uma capa curta (clâmide). Durante o tempo frio (e isso foi uma coisa que sempre me intrigou, "então, mas esta gente nunca tem frio?), a clâmide dava lugar a uma capa mais comprida e larga chamada himation e que era usada tanto por homens como por mulheres, embora a clâmide feminina se chamasse peplo. Mas atenção que era comum usar a clâmide sem o quíton, que é como quem diz, não usar nada por baixo. E era exactamente assim, "no osso" que os gregos iam ao ginásio (Ginásio vem do grego gymnásion e era lá que os ginastas ficavam exercitados: gymnás. No entanto, gymnás também quer dizer nu, sem roupa, despido. Para os gregos a nudez não constituía qualquer problema).
E que ideia temos nós da cor da roupa que os gregos vestiam, até por aquilo que vemos nos filmes? Que era branca. Pois, mas não era. O que se passou foi que durante as descobertas feitas no Renascimento as estátuas e esculturas recuperadas tinham perdido a cor e acreditou-se que as vestes eram brancas. Sabe-se pelos frescos que nos chegaram que as vestes eram coloridas e estampadas, excepto no caso dos pobres. Mesmo assim havia membros de classes sociais inferiores que tingiam a roupa de vermelho, embora essa prática fosse proibida. As roupa também não eram completamente simples; ou seja, tinham adornos nas extremidades, adornos esses que não eram colados mas bordados. Os temas eram os mesmos de hoje como os motivos florais e os padrões de animais ou o desenho dos próprios animais. Isto era uma espécie de luxo, assim como os materiais das capas, embora as leis sumptuárias procurassem restringir a variedade no vestuário feminino. Conhecem aquela célebre frase "à mulher de César não basta ser séria, tem de parecê-lo"? Aplica-se na totalidade pois não era comum as mulheres gregas competirem entre si para ver quem era mais bela ou se vestia de forma mais original. Era até aconselhado que permanecessem em casa para evitar isso. A grande diferença era nos cabelos: as mulheres ricas podiam usar tiara.
Os penteados, esses sim evoluíram. Antes das guerras contra os persas, homens e mulheres usavam cabelos compridos, mas mais tarde considerou-se que os cabelos compridos eram mais adequados a crianças ou a mulheres. Quando as crianças atingiam a puberdade cortavam os cabelos e davam-nos como oferenda aos deuses. No decorrer dos séculos os penteados foram-se alterando: primeiro as senhoras prendiam os cabelos com uma fita, depois passaram a fazer um cocuruto com o cabelo apanhado na nuca, cabelo aos cachos ou frisado e até passaram a usar pequenos chapéus cone. Até ao século V a.C. os homens usaram barba e o costume manteve-se para os filósofos. Os homens mais novos e os que tinham profissões menos nobres acabaram por se desfazer da barba. Nota-se isso também na representação de deuses: os mais novos como Apolo, estão barbeados e os mais velhos como Zeus têm barba.
Quanto ao calçado (outra coisa que me fazia alguma impressão), os gregos praticamente não o usavam. Em casa dispensavam o calçado e fora de casa usavam sandálias presas aos pés e tornozelos com fitas. Os pobres não usavam calçado e as cortesãs calçavam sandálias com folha de ouro e na sola uns pregos. Quando caminhavam, os pregos marcavam no chão a palavra "siga-me". Apesar de fazerem exercício físico nus e de a nudez não ser problema na Grécia Antiga, os gregos não andavam sempre nus e a ideia do guerreiro grego nu é mais o resultado de experiências visuais limitadas do que correspondência directa com a verdade. Os soldados gregos iam para o campo de batalha com uma túnica feita de tiras de couro cobertas por placas de metal, usavam elmo, espada e escudo, ainda perneiras (talvez por causa de Aquiles) e dependendo do tipo de contingente em que ingressavam, usavam também a clâmide e o elmo variava.
Quando Roma passou de cidade-estado para capital do Império destronando Atenas, era um território formado por etruscos que tinham também eles a sua forma de vestir. E o vestuário etrusco tinha influências do vestuário grego e da Ásia Menor, por isso quando falamos de vestuário romano, falamos na realidade da mistura de influências. Dos etruscos os romanos retiveram a toga, um semi-círculo que drapejavam em torno do corpo, de forma cada vez mais elaborada, o que não permitia muitas vezes realizar grandes movimentos. Era por isso a peça escolhida para senadores e homens de classes superiores que as podiam ter brancas. As crianças do sexo masculino até à puberdade usavam uma toga com uma barra roxa e mudavam para uma toga toda lisa e branca em cerimónia adequada. Em tempos de luto a toga era de cor escura e cobria a cabeça. Com o tempo as tamanhas da toga foi diminuindo e foram-lhe acrescentadas costuras, cintos e peças complementares. Quanto às barbas, os romanos começaram por usá-las compridas, depois passaram a barbear-se e quando Adriano se tornou imperador a barba voltou a estar na moda. Os cabelos eram ondulados com canudos feitos por ferros quentes e os chapéus não eram muito comuns.
Se os gregos não tinham problemas em fazer ginástica sem roupa, um pouco de pudor era pedido aos romanos e por isso usavam roupas reduzidas muito semelhantes aos nossos biquinis. O vestuário feminino do dia-a-dia acompanha o masculino, à excepção da túnica que era mais comprida para as mulheres, mas tinha a vantagem de ser de seda (no caso de uma mulher de família rica), colorida e bordada. Aliás, a mulher romana foi fortemente influenciada por Ovídio e pelos seus conselhos em "Arte de Amar". As mulheres usavam descolorantes, conforme Ovídio dizia, pois o que estava na moda eram os cabelos loiros. Para além disso havia já a tradição das cabeleireiras (ornatrix) que faziam cachos no cabelo e emolduravam os rostos femininos colocando-os estrategicamente. Era comum, mais comum até que na Grécia, usar postiços e perucas e inúmeras jóias quer no cabelo quer nas vestes. Tiara, anéis, brincos, camafeus, tornozeleiras e colares, tudo isso fazia parte da rotina feminina em Roma. Os adornos iam do topo da cabeça, à ponta do pé, com variações nas sandálias ao nível das cores e dos bordados com pedras preciosas. Quanto ao frio, a minha preocupação desde sempre, há que dizer que no Inverno aquelas vaidosas lá calçavam botas!
Quando o Império mudou de Romano do Ocidente para Oriente tendo como capital Bizâncio, este luxo provinciano de Roma, um luxo tímido esquartejado por leis, deu lugar a um luxo muito maior próprio do Oriente. Embora as vestes cobrissem mais o corpo, eram mais elaboradas e adornadas com broches, bordados e clâmides de cor púrpura. À volta da cabeça o imperador usava uma tira de tecido que mais tarde deu lugar a uma coroa. A coroa aberta de Justiniano deu lugar a uma coroa fechada (camelaukion), o roxo era usado apenas para o casal imperial (escolher uma imperatriz era como organizar um concurso de beleza sem quaisquer pré-requisitos a nível de cultura. quando ficavam as mais bonitas por eliminação das menos bonitas, era o próprio imperador que escolhia a vencedora oferecendo-lhe uma maçã) e todos os pormenores estavam calculados. Mesmo após a queda de Constantinopla o estilo dos imperadores continuou a inspirar outros reinos e ainda é a fonte usada nas cerimónias da Igreja Ortodoxa.
4 Comments:
começam a faltar os adjectivos para elogiar a beluga e as suas postas...
mal posso esperar pelas "cenas dos próximos capítulos"
subscrevo o comentário do Am ...
vá lá, deixem-se disso. Aguardem pelas cenas do próximos episódios que agora é que o vestuário vai começar a aquecer.
eu queria uma foto de como se veste uma roupa grega com todas as etapas.
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