interdito a menores de dezoito anos
senhores leitores, depois de tantos posts em que se falava da maminha apagada por Berlusconi, das diferentes maminhas (a maminha política, a maminha sagrada...), das maminhas das Madonnas, deusas, bailarinas, actrizes, cantoras, manequins e afins, chegou a vez de falar do falo. Será um post com bolinha no canto superior direito, não vá trazerem a família a existir pelo meio, menino ou menina com menos de 18 anos (deveria baixar para 16, se calhar...). Serve a presente introdução para vos avisar, (senhores homens heterossexuais, se os houver), que vamos falar de pénis. Não gratuitamente, a propósito de nada, mas a propósito da sua representação e repressão sagrada.
No princípio não era o Verbo, mas era o substantivo: o pénis estava em tudo quanto era sítio. Na arte grega não havia qualquer pejo em mostrá-lo, e antes mesmo da arte grega, vemos o exemplo da arte egípcia. A representação do pénis era sobretudo mágica e funcionava como forma de evocação dos espíritos e forças responsáveis pelo órgão para a intervenção no mesmo. Tal qual como os ex-votos de hoje, mas mais impessoais. Podemos dizer que tal como as pinturas pré-históricas nas cavernas, pretendiam exercer força sobrenatural no animal a abater (ou força sobrenatural no pénis em questão), com vista a tornar mais fácil a sua caça (ou com vista a tornar melhores as performances sexuais, ou mesmo afastar as maleitas).
Nos dois vasos que se seguem a esta ilustração vemos como o pénis tinha grande importância para a mulher grega (embora a mulher grega não tivesse muita importância para o pénis a não ser no facto de nela existir a continuação da família e a família era o centro e o motor da sociedade. uma mulher não valia mais que uma escrava a não ser pelo facto de os seus filhos serem considerados e os filhos com a escrava, ilegítimos, não terem direito a nada). Além disso, como eram muito abertos e permissivos em relação às orientações sexuais, os gregos não condenavam a homossexualidade principalmente entre jovens e homens mais velhos e por isso não é de estranhar nenhuma das representações. Leia-se até "Memórias de Adriano" de Margueritte Yourcenar. Já o falo gigante, que na verdade tem apenas 63 centímetros e a estátua de Príapo a regar o seu pénis (não é bem assim que o tamanho aumenta, amigo!) são peças das ruínas de Pompeia. Não postados estão os frescos que nos levam a pensar que em Pompeia a vida sexual dos habitantes (pelo menos dos donos das villas) era cheia. Neste caso, não se trata de exorcismo, mas de decoração para partes da casa específicas que acreditamos terem servido para alguns jogos sexuais ou como altares a divindades que tratavam dos assuntos do hedonismo.
Livro dos Mortos (Tebas)
1150 a. C.
British Museum
Hetaria (prostituta de alta condição) dançando à volta do falo
Século V a. C.
Vaso
Ashmoleam Museum, Oxford
Falo gigante
Pompeia
Príapo a regar o seu sexo
Pompeia
No entanto, quando chegamos ao Cristianismo primitivo notamos que há a "desfalificação" de Cristo e a dessexualização de todos o que o rodeiam. O corpo de Cristo, seja ele retratado durante a sua crucificação e morte, ou antes, no seu baptismo, tem tudo para nos levar a pensar que Cristo não teve órgão sexual ou se o teve era uma expressão da divindade quase etéreo e por isso nunca transparecia nas suas vestes. Nunca é um falo, é um fantasma fálico que sacraliza o sexo de Cristo (talvez para dissuadir o sexo dos outros) e absorve até à eliminação o desejo que estava patente nas representações fálicas do paganismo. O "pénis fantasma" na iconografia de Cristo é privado de todos os sentidos, de todas as sensações possíveis e alerta-nos para a nossa própria condição sexual dentro do Cristianismo: todos nós somos seres sem sexo e cujo sexo deve ser negligenciado. As imagens de Cristo na cruz, como esta aqui apresentada em que Jesus está totalmente enfaixado nem as suas formas humanas permite distinguir e afastam assim aos olhos da Igreja a verdade insuportável do sexo. Não do acto sexual, embora este também esteja implícito, mas do sexo como órgão. Há talvez duas grandes falhas na história do Cristianismo: a criação do Mundo em que Adão e Eva ao procriarem criaram irmãos que por sua vez procriaram entre si (a história repete-se com Lot e as suas filhas que ao abandonarem Sodoma se viram "obrigados" a perpetuar a espécie procriando entre si. Há quem diga que foi violação, há quem diga que foi sexo consentido. não me levem a mal, mas acredito mais na primeira hipótese pois se não havia, naquela altura, inibições quanto a oferecer a filha a um estranho, também não haveria qualquer objecção moral em violá-la para continuar a descendência. por outro lado, quando esse tipo de crimes tinham lugar, a culpa era da mulher porque a sua existência por si só corrompia o homem e ele via-se obrigado a violá-la.), e a questão sempre incómoda do sexo que com Noé foi tratada como se de uma piada se tratasse (Noé embriagado e nu), no caso de Adão e Eva como um castigo divino e no caso de Cristo como uma negação. Sendo Cristo feito a imagem e semelhança do Pai e ao mesmo tempo sendo ele um humano, o seu pénis teria de ser sempre um pénis holográfico. No exemplo seguinte, o corpo de Cristo está despido, mas a cobrir as ancas e a zona pública está um pano amarrado à cintura como se fosse um cinto de castidade. A técnica ainda por apurar desculpa o tom estruturado e reprimido que torna improvável a existência de qualquer coisa por baixo dele. É uma imagem dissuasora.
No entanto, quando chegamos ao Cristianismo primitivo notamos que há a "desfalificação" de Cristo e a dessexualização de todos o que o rodeiam. O corpo de Cristo, seja ele retratado durante a sua crucificação e morte, ou antes, no seu baptismo, tem tudo para nos levar a pensar que Cristo não teve órgão sexual ou se o teve era uma expressão da divindade quase etéreo e por isso nunca transparecia nas suas vestes. Nunca é um falo, é um fantasma fálico que sacraliza o sexo de Cristo (talvez para dissuadir o sexo dos outros) e absorve até à eliminação o desejo que estava patente nas representações fálicas do paganismo. O "pénis fantasma" na iconografia de Cristo é privado de todos os sentidos, de todas as sensações possíveis e alerta-nos para a nossa própria condição sexual dentro do Cristianismo: todos nós somos seres sem sexo e cujo sexo deve ser negligenciado. As imagens de Cristo na cruz, como esta aqui apresentada em que Jesus está totalmente enfaixado nem as suas formas humanas permite distinguir e afastam assim aos olhos da Igreja a verdade insuportável do sexo. Não do acto sexual, embora este também esteja implícito, mas do sexo como órgão. Há talvez duas grandes falhas na história do Cristianismo: a criação do Mundo em que Adão e Eva ao procriarem criaram irmãos que por sua vez procriaram entre si (a história repete-se com Lot e as suas filhas que ao abandonarem Sodoma se viram "obrigados" a perpetuar a espécie procriando entre si. Há quem diga que foi violação, há quem diga que foi sexo consentido. não me levem a mal, mas acredito mais na primeira hipótese pois se não havia, naquela altura, inibições quanto a oferecer a filha a um estranho, também não haveria qualquer objecção moral em violá-la para continuar a descendência. por outro lado, quando esse tipo de crimes tinham lugar, a culpa era da mulher porque a sua existência por si só corrompia o homem e ele via-se obrigado a violá-la.), e a questão sempre incómoda do sexo que com Noé foi tratada como se de uma piada se tratasse (Noé embriagado e nu), no caso de Adão e Eva como um castigo divino e no caso de Cristo como uma negação. Sendo Cristo feito a imagem e semelhança do Pai e ao mesmo tempo sendo ele um humano, o seu pénis teria de ser sempre um pénis holográfico. No exemplo seguinte, o corpo de Cristo está despido, mas a cobrir as ancas e a zona pública está um pano amarrado à cintura como se fosse um cinto de castidade. A técnica ainda por apurar desculpa o tom estruturado e reprimido que torna improvável a existência de qualquer coisa por baixo dele. É uma imagem dissuasora.
O mais curioso é que se fala muito do sexo dos anjos, mas não do sexo de Cristo, como se esse fosse assunto proibido.
Crucificação
Manuscrito irlandês
Século VIII
Crucifixo
1206
Estas duas imagens quase poderiam fazer com que colocássemos em causa a masculinidade de Jesus, não obstante as suas tentações. Mas nem estas estavam relacionadas com os pecados da carne. Maria Madalena não foi uma pedra no caminho virtuoso de Cristo, as suas privações foram de alimento e as hipóteses que o diabo lhe apresentou diziam respeito somente à negação da sua religião e da sua Missão. O segundo exemplo é ainda melhor que este primeiro que tal como o anterior nos mostra uma faixa de segurança perante esta parte periclitante do corpo de Cristo. Na gravura de Van Eyck Cristo é quase uma mulher, sem qualquer protuberância, com baixo-ventre muito redondo e as vestes quase transparentes não revelam nada, quando deveriam revelar, pelo menos, os contornos de um pénis.
Crucificação (pormenor)
Século XIII
Museo Civico, San Giminiano
Jan Van Eyck
Calvário (pormenor)
Staadtliche Museum, Berlim
Na maior parte dos exemplos apresentados, bem como em outros como o Cristo Morto de Mantegna, devemos no entanto tirar o chapéu a algo que, não compensando a ausência de um pénis, nos remete para a tal masculinidade de Cristo: a definição abdominal. Às vezes em exagero, outras vezes com desconhecimento dos músculos e da anatomia masculina, a presença dos abdominais tenta colmatar a ausência do sexo a acaba por conferir a Cristo essa masculinidade. Este efeito, bem como a negação do falo funciona na iconografia de Cristo como um signo limitado no seu significado, que ao mesmo tempo, que nos é dado, é-nos subtraído. Temos apenas tempo suficiente para ver o pano, compreendemos que tapa algo, mas já não temos tempo para nos perguntarmos o que esconde e se esconde.
Salviati
A incredulidade de São Tomé
1545
Louvre, Paris
Georges Rouault
Cristo na Cruz
1908
Musée d'Art Moderne, Paris
5 Comments:
uf!
não percebi esse seu "uf". era de alívio? é que se for de alívio também não percebo porquê. ´por o post ter chegado ao fim? até nem era muito grande! estive a pensar numa coisa e aprovei-to para partilhá-la consigo: Cristo Menino tinha pénis, mas ao contrário dos membros do sexo masculino em geral, com a idade parece ter diminuído.
uf, quer dizer, mais um post de tirar o fôlego. muito bom, portanto
uf, muito obrigada.
É... uf! Prendestes a atenção do leitor até o "fim", com grande fascinio minha cara!
Parabéns!
Enviar um comentário
<< Home