quarta-feira, julho 30, 2008

- o carteiro -

se alguma coisa acontecer a este blog, é a maldição!!!!!

“Tem uma lágrima no canto do olho, tem uma lágrima no canto do olho…” (Bonga)

Eu sabia! Oh perfídia, oh ignomínia, oh opróbrio oh quadro feio como a noite! (Abrevia Desdémona!) Eis que finalmente alguém diz o que se passa com o célebre quadro do menino que chora: é uma maldição! A maldição do rapaz com a lágrima no olho surgiu na manhã do dia 4 de Setembro de 1985, quando o The Sun publicou uma história sobre a “Maldição do Rapaz que Chora”; ou seja, a história de um quadro que escapou ao incêndio na casa onde estava. Tudo à colta do quadro ardeu, menos o quadro em si. Normalmente esta história não passaria de uma nota de rodapé num tablóide. O que a transformou em notícia foi que quando um bombeiro foi ver o local do incêndio, referiu (diz o jornal) que a pintura estava amaldiçoada e que o que havia acontecido naquela casa, já tinha acontecido em outras. O jornal chamou-lhe “Tears for fears… the portrait that firemen claim is cursed.” Foi o suficiente para no dia seguinte os leitores entrarem em contacto com o jornal para dizer que estavam a ser vítimas da Maldição do Rapaz que Chora. Passaram para elas uma “característica” da pintura e assumiram que as coisas más só lhes aconteciam porque tinham em casa o pobre do rapaz pendurado na parede a chorar. O jornal em vez de acalmar os seus leitores, deitou mais gasolina para a fogueira e criou-se mesmo a tradição entre os tablóides ingleses de inventar lendas e maldições, histórias estranhas que as pessoas vão acompanhando. Mitos urbanos que vendem jornais!

Com tanta maldição é de pensar “mas ninguém deixou de pintar esses quadros?”. Não. A sua proliferação deve-se ao facto de os quadros terem sido roubados de um armazém, pelo menos na altura. Hoje podemos ver o quadro à venda em retrosarias, lojas dos trezentos, lojas de antiguidades, lojas dos chineses, lojas de objectos usados e feiras. Eles estão em todo o lado. Se não constituírem ameaça para quem os possui, constituem para quem visita os lares portugueses e os vê: de frente, de lado, com a lágrima a correr na bochecha, com os olhos húmidos, a fazer birra, mais compostos… O quadro tinha um autor, pelo menos na altura (agora as reproduções são tantas…): assinava G. Bragolin, dizia-se que era italiano mas era na realidade um espanhol cujo nome verdadeiro era Bruno Amadio que deu continuidade, de certa forma, ao que artistas como a escocesa Anna Zinkeisen já fazia. Não é no entanto a continuidade no sentido de uma pintura para galeristas ou museus. A reprodução em massa deste tipo de pintura durante os anos 60 e 70 só atingiu a classe média baixa inglesa.
A pergunta que faço e que me incomoda é: Porque é que alguém iria comprar e ter em casa uma pintura de uma criança que se desfaz em lágrimas. Flores e passarinhos são coisas bonitas, como dizia aquela personagem do livro “Aparição” de Virgílio Ferreira. Mas crianças com a lágrima no olho?

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o gosto é um bom indicador de valores e
diz o povo :
quem não sente não é filho de boa gente :)o povo é cândido e o que há de mais cândido do que uma criança a chorar ?
deixe lá :)tb tem passarinhos e flores ...

30/7/08 3:42 da tarde  
Blogger Belogue said...

cara maria:
não concordo que "gostos não se discutem" e apesar de a ideia da criancinha a chorar ser cândida, como diz, a fotografia escolhida (porque os quadros da criança que chora são muitos, há muitas variantes) mostra uma criancinha tétrica. Parece que saiu de "Os outros". Creepy!?

31/7/08 12:58 da manhã  

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