- o carteiro -
- não fales com ele que ele é foleiro.
- o que é que ele fez?
- ele não fez nada, mas o pai dele rouba obras de arte.
- foleiro! antes roubasse bicicletas!
- o que é que ele fez?
- ele não fez nada, mas o pai dele rouba obras de arte.
- foleiro! antes roubasse bicicletas!
Pode parecer uma piada, mas qual é a piada de roubar obras de arte? Esta é a pergunta que o International Herald Tribune faz aos seus leitores: para quê roubar uma obra de arte. À excepção de Pierce Brosnan n’ “O caso Thomas Crown”, todos os ladrões de arte são mal sucedidos. Haverá alguns, que considerando o facto de não terem sido nunca apanhados nem as obras recuperadas, podem ser tidos como casos de sucesso, o que faz um ladrão com uma obra de arte? Primeiro, e enquanto a nossa técnica de roubar caixas Multibanco, levando-as, não fôr exportada, os ladrões de arte de todo o mundo terão de se contentar com pintura e pequena estatuária. Por isso esqueçam lá David’s e as Cariátides. Mais vale pouco, mas sem o alarme tocar que menires às costas sem se ser um Obelix. Algumas jóias também, isto se conseguirem chegar até lá.
Há depois outra coisa que não se compreende muito bem: um ladrão chega a um museu, ludibria a segurança, mete as mãos numa tela, retira-a da moldura, enrola-a e sai do museu com ela, ou, não a retira da moldura e sai do museu com ela e faz o quê? Mesmo tendo em conta que um assaltante passa seguranças, alarmes, câmaras de vigilância, detectores de objectos estranhos à entrada num museu, o mérito não é seu. É demérito dos próprios museus. Sabendo que a maior parte das obras de arte roubadas de museus são já peças conhecidas e que por isso não poderão ser vendidas em qualquer sítio, resta-nos a certeza que só mecenas muito conhecedores podem patrocinar estes assaltos. Thomas Crown fazia os seus, mas os assaltantes de obras de arte de hoje não o fazem pela aventura nem pelo prazer: fazem-no pelo dinheiro. Às vezes são encomendas específicas desses mecenas, outras serão escolhas dos assaltantes que geralmente têm pouco “olho para o negócio” ou puro desconhecimento das obras expostas, do mercado, do seu valor dentro dele…
Vejamos os exemplos: o ano passado foram roubados da casa da neta de Picasso, Diana Widmaier-Picasso, dois quadros quadros e um desenho. A polícia deteve os asslatantes que se passeavam na rua com as obras enroladas em tubos de cartão. Em 2004 um homem foi condenado por roubar duas pinturas de Van Gogh do Museu Van Gogh em Amesterdão. Não foi difícil encontrá-lo nem relacionar o homem com o crime, uma vez que no local do roubo foram deixadas cordas, escadas e roupas que continham todos os elementos para a perícia policial o incriminar. No dia 9 de Fevereiro deste ano foram retiradas da colecção E.G. Bührle Collection, Zurique, quatro telas: uma de Van Gogh, uma de Degas, uma de Cézanne e uma de Monet. Apesar dos nomes sonantes dos artistas em questão, que facilmente podiam ter sido escolhidos na hora bastando para isso olhar para as placas de identificação, os quadros mais valiosos dessa sala não foram levados. No fundo, os ladrões não sabiam bem o que estavam a levar.
Mas esta hipótese está cada vez mais colocada de parte. Hoje acredita-se que os assaltantes de galerias e museus estão ligados não a milionários excêntricos que querem uma ou outra obra, nem a gangs que não olham a meios para chegar até aos fins, mas antes a seguradoras. Os assaltantes retiram as obras dos seus lugares, entram em contacto com as seguradoras e obrigam-nas a pagar pelas obras um bocadinho menos do que o valor do seguro destas. Assim, todos ganham: ganha o assaltante, ganha a seguradora que recupera a obra e não tem de pagá-la na totalidade e ganha o museu ou detentor da obra uma vez que esta é restituída mediante pagamento.
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