sexta-feira, fevereiro 15, 2008

- o carteiro -

[1]
Ai é? Então come lá um BigMac para aprenderes:
Este é um artigo do Washington Post que fala das condições desumanas em que são feitos os interrogatórios em Guantanamo. Retiro apenas esta parte:
“The Bush administration announced yesterday that it intends to bring capital murder charges against half a dozen men allegedly linked to the Sept. 11, 2001, terrorist attacks, based partly on information the men disclosed to FBI and military questioners without the use of coercive interrogation tactics.

The admissions made by the men -- who were given food whenever they were hungry as well as Starbucks coffee at the U.S. prison at Guantanamo Bay, Cuba -- played a key role in the government's decision to proceed with the prosecutions, military and law enforcement officials said.”

Isto quer dizer, não sei se leram, que dentro das instalações de Guantanamo existe um Starbucks, e segundo um advogado que teve de visitar o cárcere, os prisioneiros também podem contar com comida do McDonald’s, Pizza Hut, podem comprar tudo o que lhes der na real gana num Wal_Mart e ainda podem adquirir merchandising da prisão na loja da mesma. Pensei logo em duas ou três coisas: quem visita a prisão e quem lá trabalha pode querer comer qualquer coisa e por isso faz sentido toda esta estrutura comercial, se aos prisioneiros é dado como torrãozinho de açúcar um café do Starbucks (que para eles deve ser uma ofensa), é porque estes estão a ser recompensados de alguma coisa. Uma tortura por exemplo. Lembrei-me ainda que era de muito mau gosto uma “loja da prisão” com t-shirts, copos, canecas…, como se um dia alguém fosse sair dali com vida. Ou com vontade de recordar. Ou com capacidade monetária para adquirir fosse o que fosse. Ou com outro sentimento que não fosse pouco nobre. Se a América não os mata com torturas, se não os mata com a pena capital, mata-os de vergonha.

[2]
Spielberg boicota China que boicota cinema:
A China bloqueou a produção do filme americano “Shangai” que retratava a busca de um cidadão americano pela verdade relativamente à morte de um maigo durante o tempo em que Shangai foi ocupada pelos japoneses. A decisão foi governamental uma vez que o governo chinês continua a não aceitar bem a questão sensível da ocupação da China pelo Japão durante a II Guerra Mundial. Como a China não aceita ser palco desta produção, o realizador Mikael Hafstrom pondera a mudança para outras paragens.
[3]
hooligans tudo bem. gajas nuas é que não!:
Como é sabido, quando em Londres há uma exposição relevante, a divulgação da mesma é feita nos túneis do metro, mas escadas rolantes, nas plataformas, sob a forma de cartazes gigantes que adquirem aquela forma arredondada do túnel. Mesmo assim, nunca ninguém ficou com falta de informação, que se saiba. Ora agora o problema é o excesso de informação. A Royal Academy abrirá as portas a uma exposição sobre Cranach, o Velho e como sempre, anunciou a mesma no metro londrino. Cranach fazia aquelas Evas com os seios em forma de maçã e barrigas proeminentes. (há um quadro de Cranach no antigo genérico do programa “Donas de Casa Desesperadas”). O cartaz foi recentemente retirado do metro por uma razão: Vénus, a deusa pintada por Cranach, pintura essa escolhida para representar a exposição estava… nua. Não estava parcialmente nua, nem coberta nas partes estratégicas com um paninho, nem está a três quartos, está de frente e nua, é um facto. Mas é uma Vénus de época, ainda parece criança sem pelos púbicos, com a sua face sorridente, um peito pequeno, não é um símbolo sexual nem se aproxima da pornografia. Para as autoridades do metro isso não interessa, uma vez que a imagem pode ser considerada ofensiva para todos os que viajem no metro. O problema a não análise de cada caso. Parte-se do princípio que a nudez é sempre má, sempre negativa, ofensiva. Por exemplo, a nudez mostrada nas fotografias de Mapplethorpe pode ser considerada ofensiva, bem como a de John Currin, por ser não sugerida, mas assumida. Não é estática, não se limita a ser nudez, faz alguma coisa com isso. Visto que Londres é uma cidade muito heterogénea poderia ser ofensivo para determinadas nacionalidades ou religiões, mas a Vénus é inofensiva, juro! Para além disso os cartazes poderiam substituir os outros de promessas de corpos perfeitos, de dentes ainda mais brancos e cabelos mais sedosos.

Claro que em termos de publicidade a polémica é muito benéfica para o museu, mas os utilizadores do metro de Londres é que ficam com uma paisagem visual mais pobre e menos airosa.

1 Comments:

Blogger kateboy said...

Olá,
É bem verdade que a chamada "liberdade" dos países democráticos e desenvolvidos está a mudar.
Como a liberdade termina onde a dos outros comeca, e aqui em Londres há muitos "outros", tantos, tantos que as "liberdades" acotovelam-se e queixam-se que estao a pisar-lhes os pés. Ora Londres e a administracao do metro já sabem do que a casa gasta: ou tiravam os posters por iniciativa própria ou no próximo sábado ía haver sermao na mesquita sobre o facto de nao haver respeito pela "diferenca de culturas" - e isto dependendo da mesquita pode tomar proporcoes de guerra santa...
O ponto a que isto chegou mete-me gosma, a liberdade que achamos ter está a ser agredida todos os dias, bocadinho a bocadinho a definicao de liberdade é alterada - como é o caso flagrante do "Patriot act" nos EUA.
O Bispo de Cantebury fez comentários sobre vermos com outros olhos a Lei de Charia (http://www.timesonline.co.uk/tol/news/uk/article3335026.ece)
e talvez integrar na lei civil algumas "leis" que governam a vida dos muculmanos. Penso que isso aconteceu com o catolicismo e outras religioes europeias, também houve certamente contributos iniciais das suas escrituras na lei civil (nao matarás!). Se ainda houvesse caça ás bruxas, o bispo seria o próximo na fogueira...
Posso estar errada, mas parece-me que esta busca de liberdade e tolerancia facilmente chegará a um extremismo que nao será nem tolerante nem trará liberdade.
(peco desculpa pela falta de acentos, este teclado é xenófobo, coitado...)

18/2/08 9:07 da manhã  

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