quinta-feira, fevereiro 21, 2008

- o carteiro -

Há uma coisa profundamente irritante nas visitas a galerias de arte e museus: a romaria. Chamem-me antiquada e snob, não me interessa, mas acho que os locais referidos não são locais de romaria. Quanto mais se fala da democratização da arte, mas torço o nariz. Porque haveremos todos de gostar de arte? Porque haveremos de marchar com a família ensonada aos Domingos de manhã para ver exposições de coisas que não nos interessam só porque o jornal diz que é bom? O que é que motiva as pessoas a enfrentar filas e às vezes preços impraticáveis para ver e ouvir isto e aquilo. Não me digam que é porque gostam de arte. Onde é que essas pessoas estavam antes? Não gosto. Gosto de ir com calma, gosto de não me cruzar com ninguém ou com o mínimo de gente possível. Gosto de não ter de ouvir as escolas, nem os senhores reformados que vão com a viagem e merenda paga na altura das eleições, gosto de não ter de ouvir os comentários parvos de quem não tem vontade de lá estar, gosto de não ter de pedir licença a uma cabeça que cisma em não sair do lugar depois de mais de meia hora a apreciar o quadro X ou Y. Ninguém é obrigado a gostar de arte, assim como ninguém é obrigado a gostar de ler. No entanto, as pessoas obrigam-se: fazem passeios a esses locais e escolhem sempre as exposições mais difíceis. É por isso que muitas vezes os visitantes ficam com a sensação de estarem a entrar num mundo para alguns eleitos do qual não fazem parte, mas acedem à visita por solidariedade ou como costumo dizer, “para curriculum”. Não pactuo com o barulho dentro dos museus nem com ele dentro das bibliotecas. Embora possa parecer mesquinho e irrelevante, o barulho pode ser o suficiente para a minha percepção daquilo que estou a ver ser diferente. Obviamente não percebo tudo o que vejo e honestamente não me enfrasco em comprimidos por causa disso. Às vezes aquilo que fazemos não quer dizer nada a não ser “está feito” ou “fui eu que fiz” ou mesmo “fiz”. Como diria um colega “o importante é pensares e fazeres o que pensaste, sem preocupações acerca da existência de obras anteriores iguais ou parecidas. Se pensaste e fizeste o valor da obra de arte reside aí”.

2 Comments:

Blogger Plasticine said...

Não percebo, se uma pessoa não se cultiva é inculta, se se quer cultivar é pseudo-culta. Porque é que só os cultos oficiais podem ver/ouvir arte? como se é um culto oficial?

Que o barulho incomode percebo, que as pessoas queiram ser cultas percebo, que haja pessoas a não querem que algumas tenham acesso a cultura nao percebo.

Não sei quem és, desculpa se pareço demasiado agressiva, mas gostei de tudo pelo que "passei os olhos" neste blog, menos este post. Continua o belo trabalho feito aqui :)

22/2/08 4:11 da tarde  
Blogger Belogue said...

Cara Plasticine:
obrigada por vir e por gostar, embora esta última parte não seja bem de agradecer.
O post não tem nada a ver com ser culto ou não. é um cliché, mas é verdade: ser culto é relativo. mas se pergunta, respondo: se uma pessoa quer ir a um museu (que é diferente de ser culto), força. não pode ou pelo menos não deve ter comportamentos que perturbem os outros. quando critico as filas e as excursões é porque sei, por experiência própria que muitas vezes quem vai, não vai para ver, para apreciar e às vezes (no caso das visitas guiadas), para aprender. vai "porque sim". e isso também não tem mal, desde que não perturbe. e na maior parte das vezes perturba; perturba quem tenta fazer o seu trabalho dentro de um museu, quem quer ver com olhos de ver, quem quer apreender... não sei se respondi à sua questão. se não respondi, diga qualquer coisa que voltamos a falar.

22/2/08 10:42 da tarde  

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