É óbvio que “filho de peixe sabe nadar”, mas também é sabido que no que diz respeito à arte, nem todos os peixinhos são bons artistas. Holbein deverá muito da sua obra ao pai, mas grande parte é mérito: desenha mãos como ninguém e retratos de majestade muito bons. Não deverá ter vivido na penúria, uma vez que as suas viagens frequentes provam a capacidade financeira para tal e os retratos de personalidades da burguesia da época devem ter sido uma boa fonte de rendimentos. Fixação ou obrigação da encomenda, certo certo é que Holbein pintou muito e e muito bem… dinheiro. Dinheiro espalhado em mesas, guardado em cofres semi-abertos, sob a forma de uma única moeda na mão de um homem, enfim, os exemplos seriam mais se as imagens que tenho aqui não fosse tão más. Não sendo esta justificação bastante para afastar os perseverantes leitores do Belogue (com todo o respeito), avanço para os exemplos:
Hans Holbein the Younger
Lais of Corinth
1526
Kunstmuseum Basel, Suiça
Hans Holbein the Younger
Portrait of Jakob Meyer
1516
Este retrato de Dirk Tybis, diz-nos tudo acerca do retratado bastando para isso ler o papel que o mesmo segura na sua mão esquerda: chama-se Dirk Tybis, tem 33 anos e reside em Londres. Sabemos também pelo papel e pelos símbolos nele contidos que Tybis é um mercador e daí a presença do dinheiro em cima da mesa, um pouco ocultado. Este é um retrato curioso uma vez que há uma certa tendência para ser um retrato de poder e de exibição de prosperidade, mas acaba por sê-lo de forma tímida, uma vez que o que lhe dá esse poder, o dinheiro, está confinado a um canto do quadro.
Hans Holbein the Younger
Portrait of Dirk Tybis
1533
Kunsthistorisches Museum, Viena
Neste quadro de Holbein o retrato parece que foi apanhado de surpresa, ou pelo menos nota-se no seu rosto uma certa ansiedade: ele não se vira para observador, mira-o pelo canto do olho. No entanto, também não está a tentar esconder-se, está antes a anular-se para fazer sobressair o que ele acha verdadeiramente importante; ou seja, o ambiente que o rodeia (com todos os seus pormenores) e mostra o seu lugar na sociedade. Apesar disto e da presença do dinheiro e dos papéis e de escritos que relacionam Georg Gisze com o seu trabalho, o trabalho de mercador, ele pretende ser visto como um humanista. Atrás dele, na parede o escrito em latim: `Nulla sine merore voluptas', que quer dizer “sem trabalho não há ganho”. É portanto uma enfatização da sua actividade como mercador.
Há neste quadro objectos que se destacam como por exemplo a jarra com flores que está em cima da mesa. Até aqui nada de especial. Aliás a transparência quase anula a presença das flores. Mas a cor das flores, isso sim é importante, pois a esse cor-de-rosa era sinónimo, segundo os cânones venezianos, de uma certa postura social, de uma aproximação à realeza. O outro objecto que, não se destaca porque se trata do retrato de um mercador, mas que para esta análise é importante, é o pequeno cofre com moedas. É que tal como o que acontece com o quadro em si, este objecto só serve para dizer a actividade do retratado e a posição social e financeira. Quase que é anulado por uma série de outros objectos que fazem de Georg um mecenas em vez de um mercador.
Hans Holbein the Younger
Portrait of the Merchant Georg Gisze
1532
Staatliche Museen, Berlim
3 Comments:
Gostei da boca dos desocupados.
"desocupados" retirados.
Atão? estava gira e ficava bem a boca... acredite que faço mesmo muito pouco... infelizmente não vivo de rendimentos (só os do meu pouco trabalho)... milionário sem dinheiro, portanto
Enviar um comentário
<< Home