- o carteiro -
Caro AM:
“Estibe a inbestigar”, e nem precisei de investigar muito para perceber que este tema era comum aos impressionistas; ou seja, a água, assim como o alcoolismo, as bailarinas ou as corridas de cavalos eram temas comuns a vários pintores desta época. E dizia-se que Bazille era um pintor de água. A sua existência foi muito curta; morreu com vinte e nove anos quando ingressou na Infantaria na Guerra Franco Prussiana e veio a falecer no decorrer desse conflito. Entrou também já tardiamente no Impressionismo e sem grandes dificuldades: foi aceite por todos, a sua pintura ia ganhando consistência com a convivência com os outros impressionistas vinha de uma família da alta burguesia que não viu com bons olhos a mudança de profissão, mas que o apoiou e passou a ser tratado como igual entre os seus colegas pintores. Mas as suas pinturas de água, ao contrário das pinturas de água de outros pintores, envolvem quase sempre figuras masculinas (as suas figuras humanas eram fortes, consistentes e com presença) nuas, ou no caso dos banhistas, em fato de banho, obviamente. Obviamente não é o termo correcto, uma vez que anos mais tarde Thomas Eakins pintou praticamente a mesma cena, mas com os intervenientes despidos. E a cena parece-me bastante íntima, ou é a minha mente distorcida… Mas o quadro chama-se “The Swimming Hole” e não qualquer coisa como “Banhistas” ou “Tarde de Verão”. E não é por causa da palavra “Hole”, mas antes por uma intimidade que se sente na pintura. Já não são miúdos que nadam nas férias de Verão. São homens feitos e pode até nem ser Verão. Que altura do ano será? Que dia da semana será? Serão eles companheiros de trabalho e estão a tomar banho num sábado à tarde depois de um jogo de futebol?
Eakins, ThomasThe Swimming Hole
1884-85
Amon Carter Museum, Fort Worth
Se calhar estou a ser demasiado racional e talvez a pintura não peça nada disso. Mas a verdade é que uma e outra estão imbuídas dessa tal tensão sexual. Em que é que me baseio para dizer isto sobre o quadro de Bazille? No facto de ele nunca ter tido filhos (não é uma justificação, bem sei), nunca ter casado (também não serve de muito) e de correr um boato que era homossexual (o que me parece mais importante…). Ora isto não passa de um rumor que corria na altura e na altura a homossexualidade não era bem aceite, era mesmo vista com maus olhos não só pelos pintores impressionistas, mas também pela sociedade em geral. É portanto natural que não exista confirmação deste facto, apenas algumas insinuações em livros, fonte mais credível que do que as fontes que podemos encontrar na Internet.
Frédéric Bazille
Bathers
1869
Fogg Art Museum, Harvard University, Cambridge
Mas se notarmos a forma como Bazille pinta homens nus, fica-nos pelo menos a dúvida: há uma certa doçura que não é apenas fraternal na forma como o jovem que se deita sobre a relva, ou uma agressividade animal na perspectiva em que o pescador é apanhado, apoiado nas duas pernas mais recuadas relativamente ao tronco de modo que as nádegas ficam bem delineadas. E o conjunto de homens em fato de banho que deu o mote a este post, forma uma teia de olhares e cumplicidades. Pode ser só uma tendência minha, uma forma de ver o problema, mas acredito nessa tensão sexual e homossexual em certos quadros de Bazille. Há quem lhe chame integração do Homem na Natureza, um dos objectivos do Impressionismo, mas acho que é mais do que isso.
Mas se notarmos a forma como Bazille pinta homens nus, fica-nos pelo menos a dúvida: há uma certa doçura que não é apenas fraternal na forma como o jovem que se deita sobre a relva, ou uma agressividade animal na perspectiva em que o pescador é apanhado, apoiado nas duas pernas mais recuadas relativamente ao tronco de modo que as nádegas ficam bem delineadas. E o conjunto de homens em fato de banho que deu o mote a este post, forma uma teia de olhares e cumplicidades. Pode ser só uma tendência minha, uma forma de ver o problema, mas acredito nessa tensão sexual e homossexual em certos quadros de Bazille. Há quem lhe chame integração do Homem na Natureza, um dos objectivos do Impressionismo, mas acho que é mais do que isso.
Frédéric Bazille
Jeune homme nu couché sur l'herbe
1870
Musée Fabre
Frédéric Bazille
The Fisherman with a Net
1868
Foundation Rau pour le Tiers-Monde, Zurique
"A arte nunca é casta, se deveria mantê-la longe de todoos os cândidos ignorantes. Nunca se deveria deixar que gente impreparada se lhe aproximasse. Sim, a Arte é perigosa. Se é casta não é Arte." (Pablo Picasso)
3 Comments:
muita tensão, muita cumplicidade. sexual? não sei. mas há quem diga que toda a intensidade é sexual. eu cá não sei, mas gostei muito destes quadros. obrigada.
na volta do correio
http://odesproposito.blogspot.com/2007/11/na-volta-do-correio.html
ana, isso é uma daquelas conversas que temos de ter um dia destes...
AM, vou lá ver assim que me seja possível.
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