quinta-feira, novembro 22, 2007

- o carteiro -

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Qual será a imagem que a Inglaterra pode dar de si própria numa representação artística? Esta foi a imagem escolhida para representar a Grã-Bretanha no novo poster da campanha da Eurostar: um homem de cabeça rapada, tronco nu, uma cruz de São Jorge pintada nas costas a urinar contra uma parede, embora a urina mude a rota para uma chávena de chá. Eis uma imagem curiosa para representar um país pertencente ao G8, com tanta história, tão antigo e com 60 milhões de habitantes. Já sabemos que os ingleses bebem mal saem do trabalho. Chamam-lhe hora azul, porque era a altura do dia em que operários de macacão azul e os executivos, de fato azul, saiam dos empregos para uma bebida antes do regresso a casa. Daí a relação com o estar “blue”, estar triste, pois a bebida em demasia fazia com que as ruas se enchessem de pessoas melancólicas. Daí aos hooligans e a urinar no meio da rua é um passo pequeno, mas eleger esta imagem como a mais representativa de terras reais é quase irreal! Deve ser um fenómeno comum a muitos países. Há pouco tempo, aqui em Portugal elegeram um ditador temente a Deus e com o Credo na boca “O melhor português de sempre. A Inglaterra achou que “Fighting Temeraire” de Turner era a melhor pintura inglesa de sempre, vá-se lá saber porquê. Claro que aquilo que ela representa é muito importante para os ingleses, embora aquilo que representasse o senhor Salazar não fosse para recordar.

A imagem da Grã Bretanha hoje está mais ligada ao que chamo síndrome Princesa Diana: a Inglaterra tornou-se um país de lágrima pronta, que facilmente se choca, que fala muito para a comunicação social, que se rebela. É a Inglaterra pós Lady Di, pós Tatcher e pós Tony Blair. É também uma nação na vanguarda cultural que não caiu, como a França no marasmo dos movimentos artísticos obesos e sedentários. Que outra imagem a Inglaterra poderá dar de si mesma?
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Há garantidamente duas coisas boas sempre que começa um novo ano: o calendário Pirelli e o calendário Lavazza. Este ano há uma terceira (para os meus gostos confesso que é “a little bit too much”) e chama-se calendário Nerdcore ; ou seja, um calendário para o pessoal que se dedica à Web 2.0, aos computadores, que usa óculos de fundo de garrafa, sabe todos os jogos que acabam de sair e usa as camisas apertadas até ao último botão. E este ano o tema é comics. Por isso teremos raparigas a interpretar o papel de vilãs e de heroínas, parcialmente vestidas, fotografadas por Cherie Roberts e com design de Jason Adam, em tamanho gigante. E mais; não são nada feias. (Para mim são “a little bit too much”, mas fica aqui a notícia.)