quinta-feira, novembro 22, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Sabe-se que Cézanne não era um pintor de água; ou seja, as pinturas de Cézanne eram tectónicas que “aquáticas”, por assim dizer. Manet e Monte, por exemplo eram pintores de água. Pintaram muitas vezes temáticas ligadas à água. Como esta tem o poder de reflectir a cor, as temáticas que incluíam água eram, para os impressionistas, muito importantes. Outros preferiam temas diferentes, mas quando enveredavam por aqueles que não eram da sua “safra”, geralmente eram mal sucedidos. Foi o que aconteceu com Cézanne e que podemos ver aqui no “Le pont de Maincy". Ele mostra que não é bem sucedido porque a cena, o resultante do seu trabalho é algo desagradável: a água é fria, morta, glacial. É como um espelho que reflecte uma imagem indesejada. Mas esse efeito desagradável é dado mais pela construção da composição que é muito racional: as linhas simples e horizontais da ponte, as linhas verticais dos troncos das árvores, as linha oblíquas dos troncos tombados que servem de rampa de acesso. E ainda que não pareça, Cézanne chega aqui ao início de uma nova jornada que acabará por não percorrer: o abstraccionismo.

Esta fotografia de Jeff Wall resulta de um projecto curatorial do Louvre e do Musée d’Orsay que convidou vários artistas a escolher uma obra e o respectivo criador a partindo disso, fazerem eles próprios a sua interpretação. Não é a primeira vez que vemos Jeff Wall a “fotografar um clássico” e este The Drain é sem dúvida inspirado pelo quadro de Cézanne. Mas não se leva pela temática ou pela luz, ou mesmo pelo fracasso do pintor francês face ao elemento natural “água”. Jeff Wall pinta segundo os seus próprios cânones e elimina o cenográfico das fotografias. São simplesmente fotografias e por isso, muito naturais ao contrário do que sucedeu com a pintura de Cézanne.

Paul Cezanne
Le Pont de Maincy
1879
Musée d'Orsay, Paris



Jeff Wall
The Drain
1989