- o carteiro -
Caro AM (não me parece ser para já o abandono deste formalismo. Para hoje fica assim, um dia tarde será qualquer coisa como “bacano yoh”):
As segundas-feiras são definitivamente propícias às respostas, por isso cá vai a resposta a este pedido, embora chegue atrasada. Um médico disse-me que todos os génios são atormentados. Eu respondi-lhe que aquilo era treta cinematográfica (ele é também crítico de cinema) e que havia alguns génios que tinham tido uma vida plácida, calma, alguns com reconhecimento em vida, mortes simples e algumas até no fausto, se é que isso interessa para quem morre. Ele pediu desculpa, que nunca tinha dito aquilo a um paciente, mas disse-me para eu ir àquele sítio que começa pela letra “m”. Ambos sabíamos que não era verdade, mas se fosse, Toulouse-Lautrec seria um bom exemplo dessa vida em desgraça. Nasceu no seio de uma família rica, aristocrática, mas marcada pela endogamia (casar e procriar entre família). Os país eram primos em primeiro grau, havia mais casos na família de casamento entre primos que tinham resultado em filhos com poucas capacidades físicas ou mentais e mesmo em mortes. Com Lautrec, cedo se percebeu que havia um problema de crescimento e que se acentuou quando o pintor partiu os fémures (um num ano e outro no ano seguinte). Os pais perceberam também que não tinham sido feitos um para o outro: a mãe prosseguiu com a sua vida pautada por uma religiosidade exacerbada e o pai, um excêntrico que amava a natureza, continuou as suas viagens e caçadas. Dos escritos do pai ao filho destaca-se uma dedicatória em que lhe diz que não há bem mais precioso que a luz do dia e a liberdade e que ele nunca estará sozinho quando estiver no meio de cavalos e falcões. Em jeito de resposta, não sei se antes se depois da dedicatória, Toulouse-Lautrec disse: “se as minhas pernas tivessem sido um pouco mais compridas, eu não teria pintado”. A partir dos treze anos não ultrapassou a altura de 1 metro e meio e com movia-se com dificuldade. Para além disso o seu rosto tornou-se estranho, com o nariz e os lábios muito pronunciados. Ele sabia que não ía levar a vida ambicionada pelo pai, o que também o entristecia (embora fizesse piadas com o seu aspecto) e que a pintura e o desenho começavam a ser um escape, uma inevitabilidade e uma vingança perante a doença.
As segundas-feiras são definitivamente propícias às respostas, por isso cá vai a resposta a este pedido, embora chegue atrasada. Um médico disse-me que todos os génios são atormentados. Eu respondi-lhe que aquilo era treta cinematográfica (ele é também crítico de cinema) e que havia alguns génios que tinham tido uma vida plácida, calma, alguns com reconhecimento em vida, mortes simples e algumas até no fausto, se é que isso interessa para quem morre. Ele pediu desculpa, que nunca tinha dito aquilo a um paciente, mas disse-me para eu ir àquele sítio que começa pela letra “m”. Ambos sabíamos que não era verdade, mas se fosse, Toulouse-Lautrec seria um bom exemplo dessa vida em desgraça. Nasceu no seio de uma família rica, aristocrática, mas marcada pela endogamia (casar e procriar entre família). Os país eram primos em primeiro grau, havia mais casos na família de casamento entre primos que tinham resultado em filhos com poucas capacidades físicas ou mentais e mesmo em mortes. Com Lautrec, cedo se percebeu que havia um problema de crescimento e que se acentuou quando o pintor partiu os fémures (um num ano e outro no ano seguinte). Os pais perceberam também que não tinham sido feitos um para o outro: a mãe prosseguiu com a sua vida pautada por uma religiosidade exacerbada e o pai, um excêntrico que amava a natureza, continuou as suas viagens e caçadas. Dos escritos do pai ao filho destaca-se uma dedicatória em que lhe diz que não há bem mais precioso que a luz do dia e a liberdade e que ele nunca estará sozinho quando estiver no meio de cavalos e falcões. Em jeito de resposta, não sei se antes se depois da dedicatória, Toulouse-Lautrec disse: “se as minhas pernas tivessem sido um pouco mais compridas, eu não teria pintado”. A partir dos treze anos não ultrapassou a altura de 1 metro e meio e com movia-se com dificuldade. Para além disso o seu rosto tornou-se estranho, com o nariz e os lábios muito pronunciados. Ele sabia que não ía levar a vida ambicionada pelo pai, o que também o entristecia (embora fizesse piadas com o seu aspecto) e que a pintura e o desenho começavam a ser um escape, uma inevitabilidade e uma vingança perante a doença.
Este longo parágrafo em que parece que estive a debitar conhecimento serve apenas para dizer que o ponto de visto do mundo para Toulouse-Lautrec era diferente da maioria dos seus coetâneos. Temo mesmo parecer demasiado assertiva nesta afirmação, mas acho que Toulouse-Lautrec procurou gozar a vida ao máximo e num curto espaço de tempo, tendo para isso mergulhado na boémia dos cabarets, das prostitutas, da bebida, e de uma vida que em nada estava relacionada com as caçadas, o ar livre, os cavalos e os falcões. De facto, depois de um período a pintar cavalos, a temática de Lautrec mudou: passou para temas da vida quotidiana, próximos dos temas dos impressionistas, mas foi influenciado pelo Cloissonismo (o nome vem de cloissonné que era uma técnica artística de separar as cores por uma linha de metal). Talvez isso não seja notório de imediato, mas ele também se socorreu do japonesismo, abusou das diagonais na composição (o que pode explicar as “truncadas lautrequianas”), também fez uso das figuras recortadas como se fossem colagens e dos arabescos em elementos decorativos. O uso das diagonais permite movimento ás composições, mas se esse movimento for ainda enfatizado com temas como os bailes ou as arenas de circo, ficamos com justificação para colocar os elementos de um quadro nas margens do mesmo com vista a transmitir esse tal movimento que só uma máquina fotográfica ou a memória podem captar. Os impressionistas já tinham descoberto isso, mas a sua base não foi a oposição ou a diversão; foi o estudo. A base de Lautrec foi a diversão, a observação de um mundo que ele não podia acompanhar fisicamente. Podia ficar sentado na mesa a ver dançar, mas não podia dançar. Ele captava os momentos que ninguém até aí se lembrou de captar: aquela altura em que num rodopio o baile entra num ritmo alucinante e em que por breves instantes explode. Abre-se uma clareira por breves segundos para se fechar outra vez. Compare-se este baile de Lautrec com este de Renoir. Não muitos anos os separam, mas a visão de Renoir é centrada na exploração técnica e não na temática. Lauterc por seu turno aplica várias técnicas sem ser por isso considerado um génio ou categorizado num estilo (que é meio caminho para ser considerado um “bom artista”), mas explora os momentos da vida com a intensidade com que não poderá vivê-los.
Toulouse-Lautrec
A Dança no Moulin Rouge
1890
Philadelphia Museum of Art
Renoir
Le Moulin de la Galette
1876
Musee d'Orsay, Paris
3 Comments:
bacano yoh, parece-me bem...
Caro AM:
quando o caro bacano yoh and murcho ou é o tempo?
mmm... muito
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