segunda-feira, abril 10, 2006

- não vai mais vinho para essa mesa -
Obviamente desempregada!

Charlie Chaplin
The Gold Rush

Neurónio 43 – Então é mesmo a sério.
Neurónio 67 – É. É, mas não é para já.
Neurónio 43 – E agora?
Neurónio 67 – Agora… Agora caramba, lideramos dois pés, coordenamos duas mãos, orientamos esta máquina toda…
Neurónio 43 – Ai se as células te ouvem!
Neurónio 67 – …Não vamos ficar sem ter o que fazer. Tenho a certeza que vai aparecer alguma coisa.
Neurónio 43 – Lojas de roupa outra vez?
Neurónio 67 – Espero que não, mas se tiver de ser…
Neurónio 43 – Horas à espera de uma entrevista, perguntas ridículas como...
Neurónio 67 – Como aquela “Se o mundo acabasse hoje quais destas dez personalidades escolhia para começar um novo mundo?”
Neurónio 43 – Sim, essa é fenomenal. E as respostas que ela tem de ouvir: “Ai eu não escolhia o homossexual porque se é homossexual não iria procriar”.
Neurónio 67 – A ideia dos comportamentos sexuais estanques…
Neurónio 43 – Pois! Eu bem lhe digo para ela não ir.
Neurónio 67 – E quando vamos, que maçada estar a fingir que não se percebe que os lugares já estão ocupados.
Neurónio 43 – Se mostra que tem habilitações…
Neurónio 67 – Porque tem habilitações e quando arranjar alguma coisa melhor vai-se pôr ao fresco.
Neurónio 43 – Se não mora naquela cidade…
Neurónio 67 – Porque não mora naquela cidade.
Neurónio 43 – Se está tudo bem, is the right girl for the role…
Neurónio 67 – Surge um idiota daquelas empresas que fazem entrevistas à hora e cuja sensibilidade é igual à de um hipopótamo perante a bicada de um colibri.
Neurónio 43 – Se passa todas as fases da entrevista…
Neurónio 67 – Francamente, achar que uma pessoa é mais ou menos qualificada para dobrar roupa consoante o número de palavras começadas pela letra “M” que conseguir escrever em dois minutos!
Neurónio 43 – Não ficas porque acham que há em ti qualquer coisa que não funciona. E de facto há qualquer coisa connosco que não funciona bem.
Neurónio 67 – Porque é que dizes isso? Fizeste Erasmus com neurónios de cérebros italianos?
Neurónio 43 – Não, mas acho.
Neurónio 67 – Até me dói a barriga só de pensar nisso.
Neurónio 43 – Em quê?
Neurónio 67 – Respostas a anúncios de jornais.
Neurónio 43 – Podes crer.
Neurónio 67 – Queres ir dar uma volta para espairecer?
Neurónio 43 – Não posso. Ainda estamos em serviço, lembras-te?
Neurónio 67 – O que é que há hoje?
Neurónio 43 – Animação em flash, leituras várias dos vidros ao Pós-Modernismo, trabalhos no freehand, e corrigir aquela tese.
Neurónio 67 – Cansado?
Neurónio 43 – Muito. De viver. Isto custa, sabes? O meu avô e o meu pai morreram aqui. E agora…
Neurónio 67 – Desempregada…
Neurónio 43 – E o pior não é isso!
Neurónio 67 – O pior é que se comenta à boca cheia – neurónios desocupados, tu sabes – que isto é o canto do cisne, que está incapaz de produzir seja o que for.
Neurónio 67 – Mentira. A notícia da sua morte é um exagero.
Neurónio 43 – Eu li isso em qualquer sítio…
Neurónio 67 – Mark Twain.
Neurónio 43 – Tens razão.

Neurónio 43 – E agora, queres vir tomar um copo? Ela está com a boca aberta. Podíamos ir para um canino e apanhar sol.
Neurónio 67 – Vamos lá.