quarta-feira, janeiro 04, 2006

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO


Henri Toulouse Lautrec
Alone
1896
Musée d' Orsay, Paris

Deve existir uma conspiração universal contra aqueles que se encontram sozinhos. Não são os que vão sozinhos a locais onde outros estão sozinhos, mas sim, os que estão sozinhos em locais onde todos os outros estão acompanhados. (Vamos sozinhos ao supermercado, mas estamos sozinhos no teatro, percebem a diferença?)
Segundo aquilo que me tem sido dado a observar, há uma hostilização ostensiva e que por isso, quase se legitima a si própria, sem pejo, sem dois dedos de testa, por parte daqueles que têm no pulso um Swatch dia dos namorados, perante os outros que mesmo sem dia dos namorados, têm o dia 14 de Fevereiro. Toda a gente, mesmo os que não ostentam o relógio edição limitada, impingem aos outros a ideia de que quem não tem companheiro/a, ou é “um pobre, feiinho, desinteressante”, ou então é uma “má pessoa, um tarado, alguém que não merece”. Ao deixarem-me apenas estas duas oportunidades, castram tudo aquilo que eu sei que sou, mas porque não tenho um relógio Swatch dia dos namorados edição limitada, porque não tenho quem se interesse por ir comigo à ópera, porque os meu amigos gostam mais de ir pôr música em discotecas do que apanhar overdoses culturais (às quais se calhar me dedico para esquecer que não tenho um Swatch), fica relegado para segundo plano.
Pisses me off a avaliação que fazem do passo de alguém que entra sozinho no cinema, a forma como nos perguntam: “tem a certeza que só quer um bilhete? Se pedir dois tem desconto na bebida”. Muito tentador, de facto. Aliás, até acho que isso devia ser um incentivo aos namoros, amassos, uniões de facto, encontros casuais na horizontal e outros que se encontram no catálogo das relações pessoais, mas cuja referência desconheço. (“Olhe, queríamos um CFF 244232”. Pode entregar em casa?)
Provavelmente para a maioria das pessoas que já encontrou o seu Swatch, este é um post de uma dessas pessoas: más ou feias. Mas não. Eu até gosto de estar sozinha. Não me afogo nisso, não reduzo a existência à minha solidão, só não quero que ma atirem à cara como se fosse algo contagioso.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

lol

6/1/06 1:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

apoiado, abaixo a ideia de que que o amor (ou a companhia) é o fim unico da existência do ser humano em geral e das mulheres em particular, pois a estigmatização é ainda maior para as mulheres que para os homens. Viva ao direito á companhia de nós proprios. cada um e cada uma temos o direito de casar-nos connosco e de fazer festa e receber presentes.

21/1/06 12:47 da manhã  

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