COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
[No Centro de Saúde]
- Sr...?
- Guilherme.
- d'Oliveira Martins?
- Como?
- Nada, era uma piada.
- Se fosse d'Oliveira Martins pode ter a certeza que eu não estava à espera desde as 9h da manhã por uma consulta que está marcada há mais de 3 meses.
- Bom, vamos lá ao que interessa. Idade?
- 71 feitos a semana passada.
- Escorpião, portanto?
- Sim...
- E dói-lhe onde? Aí? Deve ser a ciática, vamos ver.
(...)
- Sr. Guilherme, leva aqui o Zytopal e o Mergilev. Se for à farmácia do Sr. Lopes, mande-lhe cumprimentos.
[Na farmácia Lopes]
- Sr. Guilherme, é sempre bom vê-lo.
- Aqui?
- ... bom, é bom vê-lo.
- Queria que me aviasse isto, por favor. E o Sr. Doutor manda-lhe cumprimentos.
(...)
- Mas isto fica muito caro.
- Também não é assim grande diferença.
- Deve-se a quê?
- A quê o quê?
- O aumento dos medicamentos, Sr. Lopes.
- Ah! É que os medicamentos comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde estão mais baratos.
- Mas estes são genéricos.
- Pois, e os genéricos deixaram de ser comparticipados a 100%.
- Bom, estou sem palavras. Não perguntarei mais nada.
[Na paragem do autocarro]
- Vai no 78?
- Vou, vou para a zona do hospital. Moro lá perto.
- E já sabe?
- O quê? Outro atentado?
- Não, mas quase.
- O quê? Diga.
- Como não o vejo aqui há muito tempo não deve saber que o preço dos bilhetes aumentou.
- Muito?
- 4%
- Mas ainda não tinha aumentado em Maio?
- Sim, 3,7%.
- Olhe, hoje tem de ser. Tenho 71 anos, venho do Centro de Saúde e da farmácia e a ciática está a dar comigo em doido.
[Na padaria]
- 2 pãezinhos da avó, por favor.
- Então Sr. Guilherme, como vai?
- Ah homem, não o tinha visto. Muito trabalho, não é?
- Pois, ninguém deixa de comer pão.
- E vai ficar mais caro, estou a ver no papelinho.
- Tem de ser. A gente também tem de lucrar com este trabalho que nos leva quase a pele.
- Foi uma cartelizaçãozinha, nãofoi?
- Não diria tanto, foi um acordo de preços entre entidades.
- Estou a ver. Ninguém deixa de comer pão.
[Em casa, pão na mesa, cobertor nas pernas, jornal no colo]
"Luz aumenta este Inverno"
[Em casa, pão na mesa, cobertor nas pernas, jornal ao lado, bloco de notas no colo]
"Carlos, como é que está a vida aí no Luxemburgo? Estou prestes a "escorpiozar-me"*. O teu pai, Guilherme".
Rembrandt
Portrait of an Old Man in Red
1652-54
Hermitage, S. Petersburg
*(Escorpiozar - Neologismo para designar a acção que a pessoa que está na iminência de fazer: ferir-se como o Escorpião para que os outros não o façam.)
[No Centro de Saúde]
- Sr...?
- Guilherme.
- d'Oliveira Martins?
- Como?
- Nada, era uma piada.
- Se fosse d'Oliveira Martins pode ter a certeza que eu não estava à espera desde as 9h da manhã por uma consulta que está marcada há mais de 3 meses.
- Bom, vamos lá ao que interessa. Idade?
- 71 feitos a semana passada.
- Escorpião, portanto?
- Sim...
- E dói-lhe onde? Aí? Deve ser a ciática, vamos ver.
(...)
- Sr. Guilherme, leva aqui o Zytopal e o Mergilev. Se for à farmácia do Sr. Lopes, mande-lhe cumprimentos.
[Na farmácia Lopes]
- Sr. Guilherme, é sempre bom vê-lo.
- Aqui?
- ... bom, é bom vê-lo.
- Queria que me aviasse isto, por favor. E o Sr. Doutor manda-lhe cumprimentos.
(...)
- Mas isto fica muito caro.
- Também não é assim grande diferença.
- Deve-se a quê?
- A quê o quê?
- O aumento dos medicamentos, Sr. Lopes.
- Ah! É que os medicamentos comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde estão mais baratos.
- Mas estes são genéricos.
- Pois, e os genéricos deixaram de ser comparticipados a 100%.
- Bom, estou sem palavras. Não perguntarei mais nada.
[Na paragem do autocarro]
- Vai no 78?
- Vou, vou para a zona do hospital. Moro lá perto.
- E já sabe?
- O quê? Outro atentado?
- Não, mas quase.
- O quê? Diga.
- Como não o vejo aqui há muito tempo não deve saber que o preço dos bilhetes aumentou.
- Muito?
- 4%
- Mas ainda não tinha aumentado em Maio?
- Sim, 3,7%.
- Olhe, hoje tem de ser. Tenho 71 anos, venho do Centro de Saúde e da farmácia e a ciática está a dar comigo em doido.
[Na padaria]
- 2 pãezinhos da avó, por favor.
- Então Sr. Guilherme, como vai?
- Ah homem, não o tinha visto. Muito trabalho, não é?
- Pois, ninguém deixa de comer pão.
- E vai ficar mais caro, estou a ver no papelinho.
- Tem de ser. A gente também tem de lucrar com este trabalho que nos leva quase a pele.
- Foi uma cartelizaçãozinha, nãofoi?
- Não diria tanto, foi um acordo de preços entre entidades.
- Estou a ver. Ninguém deixa de comer pão.
[Em casa, pão na mesa, cobertor nas pernas, jornal no colo]
"Luz aumenta este Inverno"
[Em casa, pão na mesa, cobertor nas pernas, jornal ao lado, bloco de notas no colo]
"Carlos, como é que está a vida aí no Luxemburgo? Estou prestes a "escorpiozar-me"*. O teu pai, Guilherme".
Rembrandt
Portrait of an Old Man in Red
1652-54
Hermitage, S. Petersburg
*(Escorpiozar - Neologismo para designar a acção que a pessoa que está na iminência de fazer: ferir-se como o Escorpião para que os outros não o façam.)
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