segunda-feira, outubro 31, 2005

O CARTEIRO

O carteiro deixou aqui ficar este poema de Jorge de Sena. E está lá fora à chuva à espera de resposta.

Conheço o Sal

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que
bebemos
quando das bocas se estreitavam
lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos
negros
ou louros ou cinzentos que se
enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minha
mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus
mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em
mim,
um cristalino pó de amantes
enlaçados.

Jorge de Sena