- o carteiro -
Aconteceu, por acaso, estar a meio da leitura do livro (agora acabada) quando soube do filme. Fui logo vê-lo, claro. O livro fala da Europa que se perdeu com a Primeira Guerra Mundial e, sobretudo, com a Segunda. Como a confiança, a segurança, a crença no progresso e na razão deram lugar à barbárie, à desconfiança nos governantes e principalmente, a desconfiança face ao outro de que é paradigmática a instauração de limites geográficos e burocráticos. Fala de um certo laissez faire laissez passez que tornou mais fácil dois conflitos bélicos de monta em menos de 50 anos no mesmo espaço físico e com os mesmos actores. Ninguém acredita que um raio caia duas vezes no mesmo sítio. Mas tendo caído duas vezes no mesmo sítio, acreditará alguém que cairá uma terceira vez? Estes excertos fizeram-me tremer. Note-se que o livro foi escrito em antes de 1942 e que após um exílio forçado no Brasil, o expatriado Stefan Zweig e a mulher se suicidaram no “país tropical abençoado por Deus”.
“De um dia para o outro voltei a descer mais um degrau. Ontem ainda hóspede estrangeiro e, por assim dizer, um gentleman que aqui vivia dos seus rendimentos internacionais e pagava os seus impostos, e agora um emigrante, um refugee. Tinha resvalado para uma categoria inferior, embora não desonrosa. Por outro lado, qualquer visto para o estrangeiro que fosse posto naquela folha branca de papel tinha de ser expressamente requisitado, pois em todos os países se desconfiava daquele “tipo” de pessoas a que eu subitamente também pertencia, pessoas sem direitos, sem pátria que, quando se tornavam incómodas ou ficavam tempo de mais, não podiam ser expulsas caso necessário nem reenviadas para os seus países de origem como as outras. (ZWEIG, Stefan – O Mundo de Ontem. Lisboa: Porto Editora, 2004, p. 476)
“E lá ficavam à espera junto às fronteiras, lá iam mendigando à porta dos consulados, quase sempre em vão, pois que país estava disposto a receber despojados, pedintes? (ZWEIG, Stefan – O Mundo de Ontem. Lisboa: Porto Editora, 2004, p. 495)
“De um dia para o outro voltei a descer mais um degrau. Ontem ainda hóspede estrangeiro e, por assim dizer, um gentleman que aqui vivia dos seus rendimentos internacionais e pagava os seus impostos, e agora um emigrante, um refugee. Tinha resvalado para uma categoria inferior, embora não desonrosa. Por outro lado, qualquer visto para o estrangeiro que fosse posto naquela folha branca de papel tinha de ser expressamente requisitado, pois em todos os países se desconfiava daquele “tipo” de pessoas a que eu subitamente também pertencia, pessoas sem direitos, sem pátria que, quando se tornavam incómodas ou ficavam tempo de mais, não podiam ser expulsas caso necessário nem reenviadas para os seus países de origem como as outras. (ZWEIG, Stefan – O Mundo de Ontem. Lisboa: Porto Editora, 2004, p. 476)
“E lá ficavam à espera junto às fronteiras, lá iam mendigando à porta dos consulados, quase sempre em vão, pois que país estava disposto a receber despojados, pedintes? (ZWEIG, Stefan – O Mundo de Ontem. Lisboa: Porto Editora, 2004, p. 495)
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