terça-feira, março 15, 2016

- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (XII)
 
Em Bizâncio o cristianismo também faz progressos: em 926 os búlgaros são convertidos, em 974, os sérvios, e em 988 Vladimir, príncipe de Kiev é baptizado. Toda a Rússia é, aliás, convertida. Há uma nova vitalidade que pode ser vista na proliferação de catedrais (cada vez mais e maiores) como o Duomo em Siena, São Marcos em Veneza, Santiago de Compostela em Espanha... Elas são não só o contexto para o ritual, como também, pólos de ensino e conhecimento (universidades). Apesar da estabilidade que a cristandade vive, há dois conflitos que permanecem: o conflito entre Roma e Bizâncio (com os líderes das duas Igrejas a excomungarem-se mutuamente) e o conflito entre o poder religioso e o poder político.

Neste último caso, destaca-se o episódio de Canossa em 1077 quando o Imperador Henrique IV pede ao Papa Gregório VII que revogue a sua excomunhão. O Imperador desloca-se até Canossa, local onde o Papa se encontra para pedir que ele reveja a sua excomunhão (esta excomunhão tinha sido proferida na sequência da Questão das Investiduras, quando imperador e Papa discutem entre si para ver qual deles decide que bispos deviam ser investidos). Assim, e durante 3 dias, o Imperador ajoelha-se na neve, no exterior do Castelo do Papa e pede perdão para salvar a sua alma mortal. Este acto, que ficou para História (até se usa a expressão "ir a Canossa" - humilhar-se), pode ter sido apenas uma estratégia de Henrique IV para recuperar o poder aos olhos dos seus súbditos, bem como uma forma de acalmar os ânimos. Com o perdão do Papa Henrique poderia continuar a ser imperador e, quem sabe, reunir forças para enfrentar novamente o Papa. De facto, em 1080, Henrique IV regressa, leva ao exílio Gregório VII e coloca no poder um Papa que lhe é mais favorável (o Antipapa Clemente III). Note-se aqui algo importante: Gregório VII foi o Papa que insistiu no celibato dos clérigos. Isto hoje pode parecer-nos natural, mas foi, na altura, muito difícil. Até aí os padres tinham as suas famílias (filhos, esposas...) e de um momento para o outro foi-lhes dito que os seus filhos eram réprobos e as suas esposas, prostitutas.

Outro episódio importante no conflito entre Igreja e Estado ocorre em 1170 e mais uma vez, opõe dois homens persistentes e poderosos: o Rei Henrique II e Thomas Becket. Henrique II nomeou Thomas Becket Arcebispo da Cantuária, em troca de alguns favores. Mas Becket não cede, levando o monarca ao desespero. Convencidos que estão a fazer a vontade do rei, 4 cavaleiros mostram-se disponíveis para matar Becket, o que acaba por acontecer, e no altar. O crime choca a Europa... Mesmo assim, mesmo após perder um dos seus mais devotos discípulos, a Igreja atinge uma vitória moral. Uma vitória de Pirro, digo eu...