terça-feira, novembro 10, 2015

- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (VIII)

Sob a influência de Teodora, os bispos monofisistas que até aí estavam exilados, voltam a Alexandria. Aliás Alexandria recebe agora um patriarca monofisista. Os monofisistas são também convidados ao palácio para discutirem teologia com Justiniano. Talvez devido a estes encontros, Justiniano dá inicio a algumas transformações no âmbito religioso e não só: codifica a lei romana, ordena obras em Hagia Sophia, empenha-se na reconciliação entre ortodoxos e monofisistas (ao convocar um concílio ecuménico no qual diz esperar dos bispos a resolução do conflito) e embarca numa grande campanha com vista a recuperar as províncias perdidas para os bárbaros, e desta forma restabelecer a antiga glória de Roma. Justiniano reconquista o Norte de África, Espanha e Ravena, a capital do Império a Ocidente após a queda de Roma. No que diz respeito à sua acção no campo religioso, e não obstante os seus esforços para a resolução do conflito entre ortodoxos e monofisistas (monofisistas estes apoiados por Teodora e talvez também pelo próprio Justiniano) a verdade é que a facção ortodoxa prevalece e a Igreja fica dividida para sempre. Com a morte de Teodora os monofisistas voltam a ser perseguidos e com a morte de Justiniano, as províncias recuperadas das mãos dos bárbaros, voltam a pertencer a estes. 

Enquanto a Ocidente é este o cenário que temos, a Oriente algo nasce: o Islão (ou submissão), uma religião capaz de competir com o Cristianismo em alguns aspectos, incluindo a conquista de território. Maomé que procurava algo para além do paganismo do seu povo. Ouve então uma voz, a voz de Alá, o criador do Universo. Maomé sente-se na obrigação de contar a todos que o único Deus é Alá, mas tem medo de ser mal entendido (muitas das contradições do Islão devem-se a isto: no início da "evangelização" levada a cabo por Maomé este não foi bem aceite. Como as escrituras no Corão não estão organizadas por ordem cronológica, da não-aceitação para a aceitação dos crentes, há constantes avanços e recuos entre palavras de incitação à luta contra os infiéis e palavras de tolerância para com estes). Confia então a sua visão apenas à esposa que o apoia e se torna a sua primeira discípula. Maomé começa então a pregar em Meca e proclama, em verso, o Corão. Nasce assim o Islão: aquilo que começou com um pequeno grupo de seguidores de Maomé, é hoje uma religião seguida por uma em cada cinco pessoas no mundo.

Para o Cristianismo, o Islão foi um rival à altura, mas não logo de início. Aliás, Maomé diz que a bíblia hebraica é a base das suas crenças e o próprio Maomé é apresentado como um profeta a par de Abraão, Moisés ou Jesus. Mas ao equiparar-se a Jesus e ao equiparar este a um profeta, o Islão coloca o Cristianismo em causa pois não reconhece Jesus como o Messias. Em 622, perseguido pela própria tribo, Maomé e os seus seguidores saem de Meca e vão para Medina numa viagem/êxodo, que ficou conhecido por Hégira e que, de resto, marca o início do calendário muçulmano. Em Medina, Maomé converte as tribos de beduínos pelo poder da espada. Apesar de Maomé ter morrido em 632, em 20 anos após a sua morte, os herdeiros do Islão espalham-se por todo o mundo.

Bizâncio não se interessa pelo fenómeno islâmico que vem do deserto e o Islão conquista assim áreas mais importantes, geográfica e economicamente, áreas que até aí pertenciam ao Cristianismo.