sexta-feira, junho 05, 2015

- o carteiro -

perdi o mesmo comboio duas vezes. perdi-o numa estação, meti-me no metro para tentar apanhá-lo duas estações mais à frente, e mesmo assim, perdi-o. depois, e para desanuviar o neurónio, fiz todo o caminho de regresso à primeira estação, a pé. ao atravessar a ponte, deu-me a melancolia sanjoanina. o s. joão deixa-me melancólica. recito para mim aquelas breves palavras do pessoa, que não obstante ter nascido no dia de santo antónio (daí o nome) dedicou à noite de s. joão esta preciosidade que sempre que recito, sinto com mais dor, dor essa que vai aumentando até culminar numa espécie de despeito, no dia 23 de junho:

Noite de São João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de São João.
Porque há São João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
(Alberto Caeiro)