sexta-feira, abril 24, 2015

Pergunto-me muitas vezes porque é que trabalho e poupo tanto, uma vez que não quero ter bebés na barriguinha, nem casar, nem comprar casa a prestações uma vida inteira, nem escolher trens de cozinha no IKEA ao Domingo à tarde... enfim, todas essas coisas para que o dinheiro serve.
Bem, vou trabalhar.

12 Comments:

Blogger Dinis said...

então o que queres?

1/5/15 12:39 da tarde  
Anonymous countryman said...

Neste 1.º de Maio, dia do trabalhador (que não do trabalho), achei por bem dedicar alguns momentos de ócio a uma pesquisa sobre o mistério da condição humana e o imperativo do trabalho, de acordo com a prescrição divina: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” (Genesis 3, 19).

Aqui vai, pois, este modesto contributo, exclusivamente construído a partir de uma reflexão de J. Olney sobre o teatro de Samuel Beckett:
James Olney , Memory and the Narrative Imperative: St. Augustine and Samuel Beckett”, New Literary History, Vol. 24, No. 4, Papers from the Commonwealth Center for Literary and Cultural Change (Autumn, 1993), p.878.

“On the occasion of his seventieth birthday, Beckett told his British publisher, John Calder, that in old age work would be his company (…), his obligation, perhaps his salvation. It is as if Beckett responded to Freud's observation that there is nothing of value in human experience but love and work by shearing away the first and leaving only work. It is a mighty bleak vision, but as honest and courageous as it is bleak; what is especially curious about Beckett's vision, however, (…) is that it is positively lyrical, even buoyant in its rhythms, in its style and manner (…). It seems profoundly paradoxical that a statement about the apparent futility and meaninglessness of human life ( …) should be (as I feel it anyway) so songlike, so lyrical, so irrepressibly buoyant. But I wonder if this isn't merely a reformulation of the "wonderful sentence" that Beckett found in St. Augustine: "Do not despair; one of the thieves was saved. Do not presume; one of the thieves was damned."

About the passage in St. Augustine, see letter to H. Hobson, in Harold Hobson, "Samuel Beckett: Dramatist of the Year," International Theatre Annual, no. 1 (1956), 153-55. But especially Waiting for Godot where Didi, after musing, "One of the thieves was saved. ... It's a reasonable percentage," goes on to worry that, although all four of the evangelists "were there-or thereabouts" at the time of the crucifixion, only one of the four mentions that one of the thieves was saved. [i.e., Luke 23, 32-43] The blankness in the other three evangelical accounts presumably reduces the "reasonable percentage" considerably.
Beckett is also quoted by T. Driver (in Tom Driver, "Beckett by the Madeleine," Columbia University Forum, 4, no. 3 (Summer, 1961), p. 24), as saying:
“If there were only darkness, all would be clear. It is because there is not only darkness but also light that our situation becomes inexplicable. Take Augustine's doctrine of grace given and grace withheld: have you pondered the dramatic qualities in this theology? Two thieves are crucified with Christ, one saved and the other damned. How can we make sense of this division? In classical drama, such problems do not arise. The destiny of Racine's Phedre is sealed from the beginning: she will proceed into the dark. . . . Within this notion clarity is possible, but for us who are neither Greek nor Jansenist there is not such clarity. The question would also be removed if we believed in the contrary-total salvation. But where we have both dark and light we have also the inexplicable [i.e. the unknown, the mystery].”

1/5/15 5:16 da tarde  
Blogger Belogue said...

Olá Dinis, boa tarde:

Neste momento, quero fazer xixi.
Não, estou a brincar. Quero encontrar a cura para a SIDA, paz na Palestina, resolver a crise económica e encontrar a solução para o degelo nos pólos.


Agora a sério: não sei. queria que a vida não se limitasse a isso. queria poder fazer outras coisas, mas acho que agora já é demasiado tarde.

3/5/15 5:36 da tarde  
Blogger Belogue said...

Olá Countryman (acho que sei quem é este countryman. P.B.?):

Não sei se foi por o texto não estar todo transcrito, não percebi a passagem da preocupação de Beckett e de Freud com o trabalho para o episódio dos dois ladrões crucificados com Cristo. De que forma uma coisa se relaciona com a outra.
Vou ter que ler qualquer coisa acerca disso...
Se fôr o prof. PB, um beijo, se não fôr, adeusinho e até à próxima

3/5/15 5:43 da tarde  
Anonymous a fellow citizen said...

Freud disse:
a pessoa ‘normal’ (ou equilibrada, ou feliz) é aquela que é capaz de amor e trabalho (ou ‘actividade’, não precisa de ser trabalho remunerado).

Beckett disse:
esta vida é trabalho, trabalho e mais trabalho. Quero ter o trabalho como único companheiro na velhice. [Exclui até o amor].

J. Olney disse:
é uma visão particularmente negativa da condição humana. E, no entanto, tudo isto é dito num estilo despreocupado alegre, optimista (=buoyant). [dica: vd. a argumentação de Albert Camus, O Mito de Sísifo]

Depois J. Olney disse:
acho que é por causa do que Beckett disse que St. Agostinho disse [mas que parece que é muito difícil de encontrar em St. Agostinho, ou pelo menos Olney não conseguiu encontrá-lo]. Nem desespero nem certeza presunçosa. Há 50% de possibilidades – talvez tudo seja negro, talvez não. Se tudo fosse negro, então seria ‘claro’ (as coisas seriam claras). É muito mais interessante do que isso: há o mistério, o imponderável, o desconhecido.

3/5/15 6:59 da tarde  
Anonymous p.b. said...

Há pouco esqueci-me de me despedir!
Uma boa semana.
beijos,


“Friends, Romans, countrymen, lend me your ears…”

3/5/15 9:55 da tarde  
Blogger Dinis said...

Beluga, quais são os teus talentos?

4/5/15 9:00 da manhã  
Blogger Belogue said...

Caro Dinis:
Desculpe só responder hoje, mas uma pergunta desta magnitude requeria alguma introspeção e ontem não me apetecia "introspectar".
Ora bem, talentos, não é? Não toco piano e falo muito mal francês. Em compensação o meu bolo de mármore é muito apreciado.
Escrevo com desenvoltura sobre arte e tenho talento para a investigação. Por outro lado tenho pouco conhecimento das teorias estéticas ao longo dos tempos e isso limita-me na escrita. Tenho boa memória fotográfica e relaciono com facilidade diferentes acontecimentos e realizações artísticas. Tenho talento para encontrar consensos, para ouvir pessoas e fazê-las sentir que o que elas fazem é importante. Acho-me uma boa líder (talvez não para os parâmetros de uma economia canibal) e tenho espírito de sacrifício (poderia ter seguido uma carreira de bailarina ou atleta). Não sei se respondi à sua questão.
Boa noite

5/5/15 10:37 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro countryman, p.b. e fellow citizen:
Até ao final desta semana leio o que enviou, pode ser? Tenho de ir à minha vida. Desculpe, mas prometo que não me esqueço. Beijos, beluga

5/5/15 10:40 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro A Fellow Citizen:

Sou pelo Beckett: acho as relações amorosas dispensáveis para viver uma vida feliz. Acho-as até impossíveis; condenadas ao fracasso. Todas! Freud talvez tenha dito isso dentro do espírito da época. (estava a ler uma coisa que dizia que para os gregos a felicidade era a pólis, a vida em sociedade, o ser um cidadão respeitado e, e isto é mais notório num mundo que era extremamente violento, viver até certa idade, o suficiente para ver os filhos crescer. Com a Revolução Francesa o centro da questão começou a ser muito mais o próprio e menos a sua relação com os outros).
Devemos ser mesmo feitos para trabalhar. Talvez - talvez não, certamente - sejamos explorados, mas sem trabalho, mesmo que esse trabalho seja um prazer, a vida é um aborrecimento.

Quanto ao Olney... tinha de ler a coisa em concreto.


Mas isto é só uma opinião.

10/5/15 12:34 da tarde  
Blogger Dinis said...

As relações não têm de durar para sempre.

10/5/15 10:36 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro Dinis:

Sei pouquíssimo sobre isso. O que acho, é que as relações, durem muito ou pouco, são naturalmente fracassadas porque há sempre desconfianças, ciúmes, mentiras, omissões, silêncios. Claro que também há a parte boa: amizade, cumplicidade, partilha, intimidade. Mas acho que a parte boa não equilibra a balança. O bem que sabe não compensa o que se sofre. Parece-me preferível não ter relação nenhuma a viver com esse espectro do fracasso.

Bem, vou trabalhar que está na minha hora

13/5/15 10:01 da manhã  

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