sábado, abril 04, 2015

- o carteiro -

Lagarto, Lagarto, Lagarto
olá amiguinhos! há quanto tempo, não é verdade? Pois é, agora que me movimento no mundo da arte (aka, trabalho nu mundo da arte), nunca estive tão longe dela, no sentido que trabalho 6 dias por semana e não tenho tempo para estar com os amigos, com a família, ir nadar e muito menos, escrever. Ler, só nos transportes públicos...
Bem, hoje trago-vos uma coisinha que pela sua singeleza vale a pena. 

Não sei se a sorte existe. Quem diz a sorte diz, por consequência, o azar. O que muitos atribuem à sorte ou ao azar, outros atribuem a deus ou ao diabo. e há ainda aqueles que como eu acham que foi bom trabalho ou aselhice do próprio e não sorte, azar, deus ou o diabo. e quem diz o diabo, diz as bruxas, que podem actuar contra nós ou em nosso favor. e como acreditar não faz mal nenhum a ninguém, mais vale acreditar, fazer as rezas, tomar as poções, cumprir os ritos e usar os amuletos. São exactamente os amuletos que me trazem hoje até vós, coisas lindas do meu coração, meus filhinhos (andei a ler Dostoievsky).  



















Este é o retrato do Príncipe Filipe, o Próspero pintado por Velazquez. Acho que já falei deste retrato a propósito do cão, num post em que falava nas raças dos cães que surgiam nas pinturas com monarcas. (aqui). Bom o príncipe morreu com três ou quatro anos e por isso não há muito a dizer; a não ser que essa morte deveu-se, em grande parte, ao estado de saúde da criança. Era uma criança debilitada, como o prova o retrato de Velazquez: para além do rosto muito pálido, a criança traz consigo vários amuletos. Na mão tem uma pequena esfera de cheiros (principalmente maçã) que afastavam as infecções. Pelo menos era aquilo em que se acreditava na Idade Média, quando se procurava afastar a Peste Negra.
























Mas há mais. À cintura o rapaz tem um sino que como vocês podem compreender tem a capacidade de afastar os maus-olhados, já que os maus-olhados têm bons ouvidos. Bom, no fundo é o carácter apotropaico do sino: quando os sinos tocam, assim como quando de noite o cães latem, o que é mau afasta-se e não assombra. Aliás, até se diz que cão que vai morder não late antes para avisar. Curioso é que os sinos também eram usados naqueles que tinham doenças contagiosas para avisarem os sãos da sua aproximação.
























Para além disso há uma figa feita em azeviche, como devia ser e que servia, em muitos países como Espanha e Itália (principalmente estes), para afastar os mais espíritos das crianças. Há quem diga que a figa veio de uma palavra do género feminino, pois de facto as figas deveriam ser para pendentes de brincos e, por isso, para mulheres. Além disso, quem defende esta tese, defende também que a figa é uma forma de representar o falo dentro da vagina. Havia um outro amuleto também fálico, que nós ainda hoje fazemos e que consiste em mostrar o digitus impudicus.



















O outro amuleto que consigo identificar é o corno, muito comum ainda hoje em Itália e que, tal como a figa, parece ter um significado de índole fálica. O corno é o símbolo dos animais fortes, férteis, como o touro. Uma vez li que o termo cornudo era uma forma de insulto que homens menos poderosos dirigiam aos mais poderosos. Quem tivesse o corno não seria afectado por nada que destruísse a sua força. Aliás, o corno de animais como o rinoceronte e o unicórnio (brincadeira) é muito apreciado em África. E em Itália, o corno de touro era um amuleto protector essencialmente das gentes da aristocracia enquanto o da cabra era das classes mais baixas. Em Espanha, por exemplo, as crianças usavam o corno ao pescoço, preso por uma madeixa de cabelo sua. Na realidade há bastantes amuletos que vêm de partes do corpo de animais: a pata de coelho, o corno de cabra ou de touro, a ferradura de cavalo... O corno era em coral ou, quando não era possível, num material que tivesse a mesma cor do coral.
























Bem, vou embora ler que a minha vida não é só isto, embora eu gostasse que muito que fosse. beijos e abraços