domingo, fevereiro 10, 2013

- o carteiro -

por estes dias festeja-se o dia dos namorados. 
nunca namorei.
não é que tenha alguma deficiência física ou psicológica. pelo menos, nada que saiba. faço xixi e cocó como toda a gente. sou especial como cada um de nós é especial dentro da sua especialidade. nem no liceu namorei. por várias razões. uma delas era ter um problema familiar que me tirava o sono e portanto, não me dava paz para isso. depois porque uma amiga, que na altura tinha um chamego com um tipo lá do liceu, disse acerca dele que era um "bocado tucano" (e não se referia ao nariz. mais não digo). e depois porque descobri a literatura

["ah que pedante. já foste tarde!"]

é verdade, as três coisas: descobri a literatura, isto é uma frase pedante e já fui tarde. digo como: lá em casa alguém comprou um leitor de cd's e cassetes pelo Ediclube e recebeu também um conjunto de clássicos todos janotas. ora como eu chegava sempre cedo ao liceu e tinha de esperar, lia. e não me parecia que os tipos como o tucano gostassem dessas pedantices. Por outro lado, não namorei no liceu porque era demasiado insegura e achava sempre que eles não iam gostar de mim. e na faculdade descobri o poder do emagrecimento. para além disso eu e ana descobrimos a poética de aristóteles e o nome da rosa do umberto eco. juntada a legitimidade do riso com o poder do emagrecimento... ui, nem queiram saber.
o que é que eu acho? na maior parte das vezes não acho nada. o resto das vezes, depende: às vezes penso que isto é uma vergonha, outras vezes que não serei a única a nunca ter namorado com esta idade: haverá provavelmente uma vestal algures em Creta que estima os seus cabelos. como nunca namorei, não sei o que perco, como não sei o que ganho. a verdade verdadinha, é que a galação protocolar me aborrece, 
um dia um professor, a propósito do êxtase de santa teresa d'ávila do bernini disse: "bem sabem que o mais difícil não é colocar a seta, é tirá-la de lá". calei-me. a simultaneidade é cada vez mais rara. ou cada vez mais forjada e não queria muito cumprir calendário.



















Bernini
The Ecstasy of Saint Therese
1647-52
Cappella Cornaro, Santa Maria della Vittoria, Roma


estava a pensar acabar este post com a Françoise Hardy que é muito bonita, com a sua franjinha e com o seu estilo francês, mas a minha idade não é a da Françoise Hardy e a música na meu caso só pode soar a ridículo. ou com o chico que com esta música me dá sempre uma espécie de alegria. mas acabo como comecei: com os livros

5 Comments:

Anonymous ana said...

ah, a poética, a república e o banquete... já não me lembro por que ordem, nem em que tempo, mas foi bom.

11/2/13 11:55 da manhã  
Blogger Belogue said...

ah, uma bolacha integral ao pequeno almoço, uma ao almoço. bons tempos.

11/2/13 1:50 da tarde  
Blogger Belogue said...

temos de conversar.

11/2/13 1:50 da tarde  
Blogger alma said...

Beluga,
Os livros são muito bons amigos, mas namorar é preciso.
Aconselho levantar os olhos dos livros de vez em quando, quem sabe não encontra outro leitor à sua espera.

No dia dos namorados ia eu a subir a rua era noite e passa por mim um balão gigante em forma de coração cor de rosa a voar, achei lindo...

19/2/13 4:58 da tarde  
Blogger Belogue said...

durante um tempo os livros foram os melhores amigos, mas às vezes sinto falta de algo que não sei se é um namorado/amigo/amante...
deve ser bom namorar, mas não consigo interessar-me por ninguém. e não me parece - com toda a honestidade e sem nenhuma auto comiseração - que alguém se interesse por mim. se toda a gente namorasse não havia quem cuidasse dos animais abandonados e das causas perdidas. só a santa rita de cássia.

desculpe, acho que hoje estou introspetiva

19/2/13 11:56 da tarde  

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