- o carteiro -
there's a new JV* in town**
Olek, nascida Agata Oleksiak, polaca, pode não ser mais famosa do que a nossa JV, mas por aquilo que vi, parece-me muito melhor. Na Johantan LeVine Gallery apresenta-se com uma pequena exposição intitulada "The Bad Artists Imitate, The Great Artists Steal" (não sei se concordo, mas sempre são melhores os que roubam do que aqueles que fazem de modo a parecer ocasional). Continuando... nos seus trabalhos podemos ver de tudo: tanto encontramos entre eles os bibelots à la Joana Vasconcelos, devidamente cobertos pelos paninhos da tia Celeste, que Deus a tenha, como (e isso sim é o melhor) rouba aos grandes artistas as suas obras mais emblemáticas para tricotá-las. Quando eu era pequenina aprendi a trabalhar com um tear e aquilo que mais gostava era poder ver o tecido a sair daquele emaranhado de linhas e pinos. Demorava, mas saía. A verdade era que pouco depois perdia o interesse por aquilo, mas enquanto não tivesse um tecido que traduzisse as voltas do ponto que tinha inventado, não descansava.
Mais do que cobrir por crochet ou tricot, trata-se de fazer desse tecido um casulo, um ventre (eu hoje estou tão inspirada), que envolva a obra em si, pelo menos no caso de Olek. Assim, e no seguimento daquilo que estava a dizer acima, Olek vai buscar obras como a fotografia de Annie Leibovitz de Keith Haring camuflado na sua própria obra e tricota-a, mas substitui a figura de Keith Haring por a de uma obra de Louise Bourgeois. Ela pura e simplesmente tricota em 3 dimensões a fotografia de Leibovitz; ou seja, ela passa para 3 dimensões aquilo que originalmente foi de 3 (o próprio Keith Haring) e depois de 2 dimensões (a fotografia), fazendo não só algo em 3 dimensões (porque é material, é palpável, é visitável), mas também em 2 pois a analogia só é percebida quando a obra é vista de frente.
Olek
Keith Meets Arch of Hysteria
Nesta mostra também podemos ver "roubos" de obras de Duchamp e Picasso, só que no caso da cabeça de touro de Picasso (salvo seja) feita de manípulos de bicicleta e um assento, ela costurou sobre uma bicicleta de ginástica e uma cadeira de cabeleireiro. O recheio da sua casa, devidamente tricotado, foi vendido ao Smithsonian que irá mostrá-lo no próximo ano. Não sei se isso é arte, mas pelo menos é alguma coisa; ou seja, são os bens dela que sempre são de algum valor (não estou a falar do valor pecuniário) e não uma coisa qualquer comprada nos chineses e embrulhada em napron. Mas visto por esse prisma, talvez isso também seja uma pertinência e devidamente enquadrado dentro da galeria, do museu, tudo ou quase tudo passe por arte. (é por estas e por outras que estou a fazer a minha própria história da arte do futuro).
* Joana Vasconcelos
** ou melhor, "há um novo Christo-Burda-Moda na cidade"
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