- o carteiro -
Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres
O início do ano não é para mim a 1 de Janeiro, mas sim a 16 de Fevereiro. Não porque acredite que sou especial, mas porque cada um tem o seu tempo e o meu só me permite a renovação um mês e meio mais tarde do que aquilo que acontece com todas as pessoas. No entanto no início de 2011, ao levantar a minha taça desejei ter, até ao ano 2019 "a situação" resolvida. Caso contrário, para além dos quarenta, "a situação" daria não só um filme como muitas gargalhadas. Não quero cair ainda mais no ridículo. Aos 32 - e eu adoro este número que, segundo me disseram, é muito importante para programação - tenho tudo aquilo que nunca pensei vir a ter e nada daquilo que desejei quando pensava que ter 32 anos era quase estar com "os pés para a cova". Tenho família, tenho amigos (poucos, muito poucos e nem sequer acho que é por minha causa embora eu me esquive com frequência às noitadas por este tempo me ser hostil), tenho emprego, tenho uma casa... Mas com 6 anos, eu pensava que a felicidade suprema seria estar a trabalhar em Paris numa casa de alta costura com o meu nome. Filhos para compor o ramalhete e um maridinho que ainda não imaginava porque não tinha idade para essas coisas. Mais tarde com 16 substituí a moda pela arte e Paris por Nova Iorque. Acreditava que tal como no Português ou na História da Arte, iria tirar, quando chegasse a hora, boa nota nessa difícil arte de seduzir e fazer o outro apaixonar-se. Aos 26 perdeu-se Paris e Nova Iorque, quilos (e com eles Paris e Nova Iorque) e o interesse pelo âmbito das relações amorosas. A verdade é que não me lembro bem de muitas coisas daquele tempo, mas lembro-me de achar, mesmo aos 6 anos, as relações amorosas um âmbito bastante complexo para o qual era necessário especial traquejo. E se falo deste assunto aqui, é porque nos últimos tempos me tenho perguntado sobre a necessidade de ter alguém com quem namorar, sendo que este vocábulo engloba todas as variedades relacionadas. Pensava que queria todas as coisas normais, mas acho que não. Acho que não quero um maridinho e filhos. "Tudo bem", pensei, "é uma opção". O problema é que a este "alguma coisa" se contrapõe um "nada". Ou seja: se ter um/a companheiro/a é bom e recomendável, não ter parece ser nada. Termos saúde, dinheiro e sorte é bom. Se tivermos amor, melhor ainda. Mas se tivermos saúde, sorte e dinheiro e não tivermos amor não somos uns inúteis? Ainda que os outros não nos olhem como tal, não nos sentimos inúteis? Eu sinto. Não porque deseje um maridinho e filhos, mas porque tenho o direito de perceber se é isso que quero mesmo. E acima de tudo, com esta idade tenho o direito a experimentar. Mas ultrapassar a barreira que me separa do mundo, isso é que é o mais difícil: ultrapassar o medo de ser ridícula, infantil e unilateral. Deixar o pensamento fluir, ou nem sequer colocar o pensamento ao barulho.
Em Marcos, sobre a relação do Homem com o dinheiro e o Reino dos Céus o evangelista diz qualquer coisa como "é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino Dos Céus". O que a maior parte das pessoas não sabe é que existia em Jerusalém uma porta chamada Agulha, tão estreita que era impossível fazer passar por lá os animais. Eu gostaria, ainda que por breves momentos, de pertencer a esse grupo priveligiado de répteis de Jerusalém.
1 Comments:
Beluga,
para 1º marido não precisa de ser muito exigente (big smile).
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