- o carteiro -
Este Verão há exposições pró menino e prá menina, para o pai do menino, para a tia do menino, para a irmã mais velha, para a avó do menino, para o avô e para aquele primo rebelde que só vemos nas comunhões e baptizados, mas nunca dentro da igreja. Ora muito bem… Para o menino e para a menina temos a exposição de Takeshi Kitano, “Gosse de Peintre” na Fundação Cartier em Paris até 12 de Setembro. É uma boa exposição para os meninos e para as meninas porque Kitano não pretende fazer nenhuma crítica social (ele é cómico, actor e uma figura conhecida da televisão japonesa), mas apenas regressar à infância, algo que se nota não só no nome da exposição (“gosse” é rapaz em francês), mas também no facto de as suas obras terem alguma nostalgia e apontamentos autobiográficos. Se lhe pudermos apontar uma pertinência mais global, podemos dizer que vista no seu todo a obra de Takeshi Kitano pretende também apontar o dedo ao seu país que vive em demasia a seriedade e a honra, fruto de alguns clichés que o artista tenta desmontar.
A irmã mais velha da menina vai gostar de ver a exposição de Sonia Rykiel na Galerie Catherine Houard (não há link), Paris, de 4 de Junho (não sei quando me vai apetecer postar isto por isso aqui fica a data de inauguração) até 24 de Julho. A irmã mais velha da menina vai gostar de saber que Sónia Rykiel não é só uma cabeleira hirsuta e em brasa, mas também uma conhecedora da arte (que tenta incorporar isso na roupa que desenha (interessada pelo design e pela ilustração, tendo mesmo publicado nove livros e colaborado em projectos de decoração. Ainda que isto não me leve, a medalha da Legião de Honra desfaz-me a dúvida. Foi dada em ano de colheita presidencial boa (Mitterrand). Mais: a senhora celebra 40 anos de carreira e esta mostra é inédita: estes desenhos nunca foram expostos.
A tia do menino pode ir até Bruxelas enquanto a família passeia por Paris nos Campos Elísios a balançar a máquina fotográfica no pulso, e aí chorar baba e ranho por a cidade das luzes não lhe ter deixado um príncipe encantado no sapatinho. Enquanto medita nestas e em outras pequenas tristezas da vida, entrará no Royal Museum of Fine Arts da Bélgica para ver a exposição “Le Symbolisme en Belgique” que ela achará muito inspirador para a sua condição de solteirona romântica. A exposição, que ela verá até ao dia 27 deste mês terá como foco a arte belga do fim do século XIX antes mesmo da entrada do Surrealismo que a solteirona não apreciará tanto por achar uma arte invasiva. Professora de francês com tendência à retenção de líquidos e prisão de ventre, fã dos clássicos da literatura a tia do menino poderá ver Khnopf, Rops e Spilliaert, todos influenciados pela literatura dos Pré-Rafaelitas, pela música de Wagner e que levaram ao nascimento da Arte Nova, movimento no qual a Bélgica teve um importante papel.
O pai do menino, que é dado a estas coisas do “désaine” fará uma perninha na net para aproveitar simultaneamente as férias em família em Paris e visitar Nova Iorque sem ter de lá ir, coisa que dava muito trabalho e custaria muito dinheirinho, ainda para mais a ele, que não confessa, mas é sovina. Ele irá ver no site da Phillips de Pury as peças de Marc Newson que adoraria adquirir, mas como já anda com o divórcio na ideia, preferirá esperar para tempos de vacas gordas. Oscilará entre comprar a Pod of Drawers de 1987 a Event horizontal table já de 1992 ou a Voronoi Shelf de 2006, opção a ponderar para engatar umas miúdas deslumbradas, mal saiam os papéis.
O primo rebelde que gosta de “cenas estranhas e é ‘emo’ porque é um tipo emocional e especial, ‘tás a ver” fará uma perninha à pala da mãe que gosta é de vê-lo pelas costas e tentar fotografar as montras para depois levar à Mirinha as fotografias e ver se ela faz igualzinho. O miúdo argumenta que assim como a tia solteirona pode ir a Bruxelas, ele pode ir a Basel. A mãe dá-lhe dinheiro, o pai diz-lhe que com 15 anos ele tem idade é para sair com miúdas e charrar-se no banco de trás do carro enquanto ouve Beatles e não andar a gastar dinheiro em paneleirices como “arte”. O primo argumenta que não gosta de Beatles e o pai remata dizendo que não gosta de maricas. Nem arte. O rapaz lá vai ver a exposição “Basquiat” na Foundation Beyeler, dedicada a Basquiat, um tipo que se fosse homossexual era gay e não maricas porque os pobres é que são maricas. Os artistas são gays. O miúdo terá razões em ir: é a primeira retrospectiva, introspectiva dedicada a Basquiat em solo europeu e por cá ficará até 5 de Setembro. Ele é mais de 100 pinturas, mais objectos, mais papéis e mais coisas que nem ao diabo lembraria. O miúdo ficará desapontado e com receio de ser descoberto ao saber que a exposição seguirá posteriormente para Paris. “Que se lixe, o cota não liga a estas cenas, ‘tas a ver? Tipo…”
A avó do menino que pariu o pai do menino no ido ano de 1959 vai deleitar-se com esta exposição: “Mean to Me, 1936”, de McDermott e McGough na Galerie Jerome de Noirmont. Não que a avó do menino tenha ido alguma vez a um drive-in, ou tenha vestido um vison, sabido da chegada do homem à Lua em directo ou lavado os dentes com pasta medicinal Couto, mas qualquer forma, saberá bem gozar por instantes aqueles tempos medeiam o ano em que nasceu (1936) e o ano em que deu à luz (1959). A exposição destes dois artistas que são muitas vezes relacionados com os anos 50 e 60, regressam por outros caminhos a esses anos. Vão buscar a inspiração que os anos 50 e 60 tiveram e que lhes cehgou do fascínio exercido pelas estrelas de Hollywood e pelos filmes de Fritz Lang e Hitchcock; ou seja, o período da Depressão americana pré-pré-pop arte.
O avô do menino, que é um melómano deslocado no espaço embora nunca no tempo, irá dar um tempo à avó que muito ama em todas as suas rugas e deslocar-se-á até ao Musée de la Vie Romantique em Paris para poder apreciar, até 21 de Julho a exposição dedicada a Chopin entitulada: “Frédéric Chopin, La Note Bleue”. Esta exposição que tem como propósito celebrar o bicentenário do nascimento de Chopin. “O espaço da exposição foi anteriormente a casa do pintor Ary Scheffer que chegou a receber Chopin como seu convidado, bem como outras figuras da cultura da época”, dirá para si, em tom sapiente o avô de menino, ao entrar no museu. A exposição focará os anos em que Chopin viveu em Paris e todo o ambiente que envolveu essas quase duas décadas de 1831 a 1839. O avô do menino observará com toda a perspicácia e razão que esta exposição estará direccionada tanto para Chopin como para outro qualquer, já que os cerca de noventa quadros foram realizados por Corot, Courbet, Delacroix e “à excepção da mão e dos seus retratos, as pinturas das mulheres com quem Chopin se relacionou não eram motivo suficiente para integrá-las numa exposição. Mas por outro lado, pelo lado de quem a organizou, tudo isto faria sentido. Sim, faz sentido. Mais sentido do que aquele em que fiquei quando ouvi os “violinos de Chopin”. Eh caramba é que Chopin a compor para violino é como Pedro Passos Coelho a ler a Fenomenologia do Ser de Sartre! Bom, mas que sei eu? Um velho incontinente no mijo e no pensamento”
E assim acontece!
7 Comments:
se a família Adams fosse particularmente dada às artes...
tenho lidado com famílias pseudo ligadas às artes e não fosse o escasso orçamento dos nossos dias, quase me arriscava a dizer que isto podia acontecer. todas as famílias são estranhas, mas olhe que andam umas por aí...
não quero julgar ninguém (se calhar já o estou a fazer), mas isto poderia acontecer.
Venha sempre. Quer dizer, venha quando houver novidades. se lhe apetecer. claro
acho que a família Adams é bem ligada às artes. custa-me a crer que não seja.
.
o primo rebelde toca-me a mim na minha família :-S
Beluga,
mesmo assim uma familia com alguma curiosidade...
A única exposição que retive foi a da Sónia Rykiel*
sei que está o lucien freud no pompidou
*(avise o pai de familia) nas traseiras da loja da Sónia no boulevard saint germain a filha desta abriu uma sexy shop com désaine...
Cara Alma:
quer-me parecer que alguém foi a Paris recentemente...
(a net é um ovo)
Beluga,
Nã !
amigos que foram ...
e depois a net é um ovo
Cara Alma:
olhe se não foi, devia ter ido ue sempre era melhor.
É por isso que não como muitos ovos!
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