- o carteiro -
No Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa encontra-se uma obra de Bosch muito conhecida (“As tentações de Santo Antão”), mas pouco compreendida. Fala-se na “estética da época”, do exorcizar do próximo milénio, mas não se aprofunda uma obra repleta de significados e curiosidades que serviriam como íman natural visto procurar paralelo com a nossa vida. É que, sabem… o que acho que falta muitas vezes nos museus, galerias and so on é a descida de um nível (em alguns casos, de dois níveis) face ao visitante. Não se pode partir do princípio que as pessoas sabem tudo. Então como manter alguém interessado se a arte se distancia do espectador e o museu é o promotor desse distanciamento? Sou pela observação atenta, pelo pormenor. Não acredito, em Bosch, na aleatoriedade dos elementos, mas isto já não interessa nada para o post. O que interessa é que em vez de nos queixarmos por não termos uma Capela Sistina, podemos mostrar algum orgulho por termos "As tentações de Santo Antão" do Bosch.
O que se sabe sobre Bosch a nível biográfico, não interessa muito e é escasso, mas há um pormenor, comum a Bosch e a Bruegel que faz muita diferença. Desde que nasceu até que morreu, Bosch pintou e viveu sempre na mesma cidade; ou seja pode aplicar-se a frase “pinta a tua aldeia e pintarás o mundo” de Tolstoi. A vida que levou e a época em que viveu muito dizem sobre o artista e a sua obra. Não é alguém, como não o foram os seus coetâneos, que passou por uma época repleta de polémicas e transformações sem a devida reflexão. As suas obras antevêem o que aconteceu desde a incorporação do Platonismo com o Cristianismo, o Renascimento, a descoberta da ciência, o século das luzes, até aos nosso tempos. Por outro lado é o reflexo de uma sociedade que vivia no temor do Juízo Final, assolada por diversas pragas, uma sociedade corrupta que não conhecia outra forma que não o sacrifício físico para se purgar das atrocidades cometidas pela mais simples hierarquia, que oscilava entre a crença na teoria Heliocêntrica, a Teocêntrica e a Geocêntrica e que, acima de tudo, era composta por uma grande camada de pobres que viviam na miséria. E já se sabe que em casa onde não há pão… também não há educação.
O quadro “As tentações de Santo Antão”, por vezes mal traduzido para “As tentações de Santo António”, insere-se nesta preocupação de Bosch de pintar o seu quotidiano com alguma crítica social. Na minha opinião, nem tudo nos quadros de Bosch é crítica; ou seja, o pintor faz uma crítica social, mas não no sentido da libertação religiosa. Se notarmos bem, neste quadro de Bosch, o que é exposto é o pecado humano e a forma como ele pode ser punido. Não há uma crítica à maneira como a religião tenta impingir o pecado ao mais fraco, sendo ela portadora de muitos pecados, bem como do poder da sua absolvição. Vemos estas contradições em Bosch quando notamos que o seu herói, o herói dos seus quadros não é aquele que denuncia a hipocrisia religiosa, mas o próprio religioso, que se verga a uma vida ascética em nome da expiação dos pecados dos outros. Bosch preocupava-se com temas como o tormento das almas pecaminosas, que logo substituiram as belas imagens de Cristo e da Virgem por imagens em que o medo, a ansiedade, a culpa e a piedade dominam a temática. Outra das fontes a que Bosch foi buscar inspiração, para além do espírito do seu tempo, foi ao que se passava nos recantos mais escônditos das catedrais, ao obscurantismo da imaginação medieval, às ilustrações marginais dos manuscritos e às gárgulas e restantes elementos decorativos ou arquitectónicos, concebidos para provocar o temor nos crentes.
O que se sabe sobre Bosch a nível biográfico, não interessa muito e é escasso, mas há um pormenor, comum a Bosch e a Bruegel que faz muita diferença. Desde que nasceu até que morreu, Bosch pintou e viveu sempre na mesma cidade; ou seja pode aplicar-se a frase “pinta a tua aldeia e pintarás o mundo” de Tolstoi. A vida que levou e a época em que viveu muito dizem sobre o artista e a sua obra. Não é alguém, como não o foram os seus coetâneos, que passou por uma época repleta de polémicas e transformações sem a devida reflexão. As suas obras antevêem o que aconteceu desde a incorporação do Platonismo com o Cristianismo, o Renascimento, a descoberta da ciência, o século das luzes, até aos nosso tempos. Por outro lado é o reflexo de uma sociedade que vivia no temor do Juízo Final, assolada por diversas pragas, uma sociedade corrupta que não conhecia outra forma que não o sacrifício físico para se purgar das atrocidades cometidas pela mais simples hierarquia, que oscilava entre a crença na teoria Heliocêntrica, a Teocêntrica e a Geocêntrica e que, acima de tudo, era composta por uma grande camada de pobres que viviam na miséria. E já se sabe que em casa onde não há pão… também não há educação.
O quadro “As tentações de Santo Antão”, por vezes mal traduzido para “As tentações de Santo António”, insere-se nesta preocupação de Bosch de pintar o seu quotidiano com alguma crítica social. Na minha opinião, nem tudo nos quadros de Bosch é crítica; ou seja, o pintor faz uma crítica social, mas não no sentido da libertação religiosa. Se notarmos bem, neste quadro de Bosch, o que é exposto é o pecado humano e a forma como ele pode ser punido. Não há uma crítica à maneira como a religião tenta impingir o pecado ao mais fraco, sendo ela portadora de muitos pecados, bem como do poder da sua absolvição. Vemos estas contradições em Bosch quando notamos que o seu herói, o herói dos seus quadros não é aquele que denuncia a hipocrisia religiosa, mas o próprio religioso, que se verga a uma vida ascética em nome da expiação dos pecados dos outros. Bosch preocupava-se com temas como o tormento das almas pecaminosas, que logo substituiram as belas imagens de Cristo e da Virgem por imagens em que o medo, a ansiedade, a culpa e a piedade dominam a temática. Outra das fontes a que Bosch foi buscar inspiração, para além do espírito do seu tempo, foi ao que se passava nos recantos mais escônditos das catedrais, ao obscurantismo da imaginação medieval, às ilustrações marginais dos manuscritos e às gárgulas e restantes elementos decorativos ou arquitectónicos, concebidos para provocar o temor nos crentes.
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Entre os santos que Bosch mais gostava de pintar encontra-se Santo Antão. Há uma grande confusão entre Santo Antão e Santo António, mas este de quem vamos aqui falar é Antão, também conhecido por António, o Grande ou António do Egipto (exactamente por o seu nome em latim ser Antonius). Antão era um cristão com posses e que após a morte dos pais vendeu todos os seus bens e foi viver para o deserto no Egipto como um ermita, mantendo-se nesta solidão e ascetismo durante muitos anos. (fuga mundi, fuga do mundo como penitência em vez dos martírios que estavam demodé). Por isso é hoje considerado como o fundador do Monaquismo que privilegia a vida dentro da regra dos mosteiros (mesmo que em comunidade, o que não era o caso de Antão, mas sempre dedicada ao recolhimento) – Clero Regular, por oposição aos religiosos que fazem a sua vida fora dos mosteiros como os padres, estes designados por Clero Secular (de “século”, "mundo" em latim). Não existiu uma intervenção directa de Santo Antão na cura de doenças como se pode acreditar pela sua história. A devoção de que hoje é alvo veio de uma admiração involuntária e imitação dos passos dados pelos anacoretas. O que aconteceu foi que a devoção ao santo dedicada era tão forte, que se fundou uma Ordem hospitalar dos Antonitas que curava, acima de tudo, doenças contagiosas que grassavam a Europa da época, tais como a sífilis, a peste e uma que se chama erisipela gangrenosa (nome elucidativo!), também conhecida por fogo de Santo Antão pois quem dela padecia sentia um fogo a consumir-lhe, primeiro o cérebro e depois o corpo. Isto acontecia pois, como já foi dito aqui outras vezes, o pão era colhido antes do tempo por causa das doenças que atacavam as colheitas. Como o pão de centeio não tinha tempo de fermentar, desenvolvia um fungo especial que causava a tal doença. Os sintomas eram a propagação da gangrena até às extremidades do corpo como dedos, orelhas, nariz o que causava dores lancinantes, perda de sensação periférica e em último caso, morte. Também fazia com que os doentes padecessem de náuseas, vómitos, diarreias e sintomas do sistema nervoso central como alucinações muito semelhantes às que o LSD produz hoje. Nas alucinações os doentes acreditavam que estavam a ser atacados po demónios, tal como se fosse uma tentação. Seria esta a relação entre o ergotismo e Santo Antão
O Tríptico das “Tentações de Santo Antão” não é mais do que a visão de Bosch do que seriam as punições aplicadas aos que caiam em tentação. Estas punições assumiam duas formas: o assédio dos demónios e as visões eróticas. No painel central temos a Missa Negra; ou seja, a missa dedicada ao demónio. No painel da esquerda podemos ver os castigos físicos infligidos pelos demónios e no painel que se situa à direita notamos que as cenas se referem a pequenas passagens pictóricas acerca da comida e do sexo. Os detalhes necessários para pintar o quadro vieram do conhecimento do pintor das vidas dos Patriaracas nos Génesis e da Legenda Áurea. No geral, e mesmo não estando num grau de análise profundo, podemos notar nesta obra, bem como em outras como "O jardim das delícias" que o universo pictórico de Bosch se pauta pelas criações da sua própria imaginação que por seu lado não são mais do que um mundo assombrado por mosntros estranhos, plantas hediondas, frutos com poder vingativo, estruturas fantásticas, formas minerais, novas formas. Apesar de sabermos que esta temática faz um pouco parte da estética religiosa da época, ela também é - como referido - uma expressão muito própria dos provérbios da época, da iconografia, das crenças religiosas do povo, do folclore e da literatura medieval como a de Guillaume de Deguilleville .
O painel esquerdo representa a fuga e o insucesso de Santo Antão. Como já foi dito aqui o santo em questão esteve no Egipto onde foi tentado inúmeras vezes por demónios. Numa dessas tentativas de que o santo caísse em tentação, os demónios bateram-lhe tanto que o santo quase morreu. Depois de alguns amigos ermitas terem ido em auxílio de Santo Antão este recuperou, mas voltou para o sítio onde tinha sido espancado. Lá, e pela segunda vez, encontrou os demónios que agora, para além de o espancarem, brincaram com o corpo frágil do santo, atirando-o sucessivamente para o ar. O seu tormento só terminou graças a uma intervenção divina que fez incidir no interior do lugar ocupado por Santo Antão, uma luz que afastou os demónios. Satanás não desistiu e apareceu mais tarde sob a forma de uma lindíssima e muito digna rainha que Santo Antão viu banhar-se nua num rio. A rainha levou o nosso santo para a sua cidade onde supostamente teria feito inúmeras obras de caridade e tentou seduzi-lo. Só neste momento é que o santo se deu conta do engodo em que tinha caído e viu que era Satanás, que sob o pretexto do sexo procurava desencaminhá-lo. É esta a história que está parcialmente descrita através de dois episódios no painel esquerdo. Em primeiro plano vemos Santo Antão inconsciente a ser levado por um grupo de amigos para um lugar mais seguro. Um desses amigos (o de vermelho), segundo quem sabe, é o próprio Bosch, que juntamente com os outros leva o santo a atravessar a ponte. Diz-se que é o auto-retrato de Bosch porque os outros dois companheiros trazem o hábito dos Antonitas. Mas na mesma cena, no mesmo espaço físico do tríptico, Santo Antão é transportado pelos céus pelos referidos demónios, enquanto os outros seres monstruosos rodeiam e zunem como insectos furiosos. Bosch não fugiu à lenda do santo, mas incutiu na sua representação pormenores que a tornam mais dramática. Notemos então na presença de três criaturas de aspecto monstruoso debaixo da ponte por onde Antão é levado. Os três conferenciam enquanto se aproxima do grupo um ser mutante com bico de pássaro, corpo estranho, esquiador e portador de uma mensagem. Do lado esquerdo deste painel um pássaro abre o bico e engole de uma assentada um fruto de um ovo chocado. Na estrada pela qual segue Santo Antão amparado por amigos, encontramos mais à frente outro grupo de demónios e aquilo que parece ser o corpo (pernas) de um homem ajoelhado e inclinado para frente, como se o seu rabiosque fosse a entrada para edifício que o corpo forma e que é um bordel. Do lado esquerdo da pintura podemos ver uma representação do Leviatã; ou seja um monstro híbrido (há quem diga que é um crocodilo, uma baleia, ou a mistura de vários animais) que habita o mar e que, de vez em quando ataca os marinheiros e todos os que passam pela água ou ousam confrontá-lo. O melhor do Leviatã, é que é uma personagem com lugar na Bíblia.
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel esquerdo)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel esquerdo pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel esquerdo pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel esquerdo pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Observemos então o painel central. Este é certamente o auge da Tentação de Santo Antão. No geral podemos dizer que o que vemos é um santo, Santo Antão, que exausto pelos tormentos sofridos tenta reconfrontar a alma através da participação numa missa sagrada, à qual assiste juntamente com uma devota. Mas neste tríptico de Bosch, nada é o que parece: a mulher muito devota que acompanhava Santo Antão revela-se afinal uma servidora do Diabo e a Missa não é mais do que a Missa Negra, ou missa em que se faz a invocação e glorificação do diabo. Santo Antão olha-nos desiludido enquanto Cristo aponta para a imagem da sua própria crucificação que é o verdadeiro caminho da Salvação. Parece assim que para o santo só há duas formas de vida: perder-se e cair em tentação "como o diabo gosta", ou redimir-se, dedicar a sua vida aos outros através da oração e do exemplo do seu ascetismo, à imagem de Cristo.
Neste painel vemos também, e isto numa análise mais pormenorizada, a chegada ao local onde terá lugar a missa negra e onde Santo Antão será tentado (a história é contada como um encadeamento de imagens, mas sem uma leitura orientada. As figuras e diversas passagens acumulam-se no mesmo espaço. Para o painel central convergem todos os demónios, todas as espécies humanas ou não mais grotescas, vindas pelo mar, pelo ar e pela terra, em direcção a um túmulo em ruínas no centro do quadro. Numa plataforma frente ao túmulo, um casal bastante elegante colocou a mesa e nela distribui bebidas às suas companhias. Ao lado podemos ver uma mulher com um estranho penteado e um vestido extravagante a oferecer uma taça à figura masculina que se encontra à sua frente. Santo Antão está quase imperceptível, no meio das diatribes do quadro, mas podemos vê-lo ajoelhado junto à referida mulher. Santo Antão interage com o observador pois olha-nos directamente e levanta a sua mão direita para fazer o sinal da cruz como se estivesse a benzer-nos e a benzer-se, na minha humilde opinião. Este seu gesto tem um simétrico no gesto de Cristo, parcialmente escondido na profundidade do túmulo, convertido numa capela por Santo Antão. Parece não existir uma narrativa no quadro, mas várias e muitas vezes estas narrativas não têm, ou pelo menos não mostram ligação entre si. A parede do lado direito deste pequeno santuário construído por Santo Antão termina numa pequena torre coberta com cenas monocromáticas. Uma espécie de coluna de Trajano, mas sem relevo. Nessa mesma torre podemos identificar três imagens: a adoração do bezerro de ouro e um grupo, não identificado biblicamente, a fazer ofertas a um símio, naquilo que podem ser consideradas cenas de idolatria. Na terceira imagem da coluna vemos o regresso dos Israelitas de Canaã, com um cacho de uvas que representa Cristo. Nem por acaso, esta cena faz o contraponto com a imagem de Cristo a carregar a cruz, imagem esta que está presente na parte exterior do tríptico. Para além disto notamos que uma vila em chamas ilumina o fundo numa referência ao ergotismo cujas vítimas referiam o nome de Santo Antão na procura de alívio.
Os demónios que circundam o santo apresentam uma orientação que não é muito comum, nem para a época, nem para Bosch, segundo os entendidos. No grupo mais à direita podemos ver o tronco de uma árvore desfeita que se transforma no corpo, braços, cabeça de uma velha cujo corpo termina numa cauda de lagarto. Nos braços, a mulher, montada no dorso de um rato gigante, transporta um bebé. Ao lado do rato gigante, à esquerda deste notamos a presença de um animal no mínimo... nojento. É um jarro que se transforma em besta, com a boca do mesmo a fazer de ânus do animal. O homem que o monta mal consegue segurar na cabeça a coroa e desequilibra-se como um bêbado. E porque estes dois "animais" têm os pés na água, vale a pena falar dela. Ali, um homem foi sugado para o interior de uma pequena embarcação que tanto tem a forma e aspecto de peixe como de ave, uma vez que tem asas. Mais ou menos nesta direcção, mas do lado esquerdo do quadro um demónio toca alaúde em cima de um pato depenado com sapatos e cujo pescoço acaba, não num bico, mas na cabeça de uma ovelha com capuz. No lado direito da pintura, mesmo nas suas margens um pecado mortal está representado. É ele a Luxúria, através de um edifício em ruínas e outro que parece estar a ser evacuado, pois vemos um homem barbudo a sair do edifício nu, várias escadas entre as janelas, talvez numa alusão à passagem de um mosteiro para o bordel. Isto porque se repararmos com atenção no topo deste edifício um monge e uma prostituta bebem amistosamente. O pecado da Luxúria estava muito explícito na vida do clero; ou seja, não havia forma de um membro do clero alegar desconhecer ter cometido o pecado da Luxúria, uma vez que este pecado estava associado imediatamente ao sexo. Se dúvidas houvesse, qualquer clérigo com elas poderia ser esclarecido através do “Malleus Maleficarum”. Ufa... Todas estas formas, que Dali admirou e com toda a razão, mostram uma variedade de cores que conferem à pintura um visual simultaneamente brilhante e kitsch.
Esta ostentação demoníaca ajuda a ilustrar a segunda parte da tentação de Santo Antão muito bem exemplificada através do céu em chamas que cresce atrás da cidade. Os mesmos demónios serão destruídos através de um raio muito pequeno – é provável que não se veja assim e seja necessário aumentar a imagem, o que aconselho porque é um pormenor interessante e não porque fui eu quem escreveu este post – que fura a parede do templo/capela e ilumina dirigido para o grupo de demónios do lado direito deste painel central. Não há nunca uma destruição física, nem em relação ao grupo demoníaco nem em relação ao santo: eles nunca lhe tocam. Há uma destruição, quando muito, da forma humana que eles como demónios jamais poderiam ter, mas isso da parte de Bosch. O propósito desta “Tentação Fria” é assegurar que os tormentos, tanto os de um lado como de outro, são entendidos num sentido de redenção.
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel central)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel central pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel central pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel central pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel central pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel central pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel central pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
O painel do lado direito representa Santo Antão em meditação. Embora pareça, até pelo tema, que neste painel Bosch não tratou o episódio de Santo Antão da mesma forma surreal ou mesmo macabra que no painel esquerdo, a verdade é que o pintor introduz mesmo assim o episódio da mulher aparentemente virtuosa que se banha no rio e que vimos no painel central. Esta rainha diabólica apresenta-se no rio perante Santo Antão a tapar as “vergonhas” com um falso pudor e rodeada da sua corte demoníaca. De facto Santo Antão não olha para ela, olha para um grupo que está no canto esquerdo do painel. Este grupo de demónios tem a mesa posta, mesa essa que funciona um pouco como tenda, a árvore um pouco destruída e os demónios que atrás dela servem vinho é a ridicularização da cena tradicional do Jardim do Amor.
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel direito)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel direito pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel direito pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Hieronymus Bosch
Triptych of Temptation of St Anthony (painel direito pormenor)
1505-06
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
4 Comments:
Há alguma razão para a preferência de temas de arte religiosa?
António Regedor
ai, ai, ai, os títulos dos painéis em inglês... ai, ai
Caro António Regedor:
humm..........
há.
Trabalho a arte religiosa por defeito de formação. Porque trabalhei num local onde tinha de lidar com arte religiosa e porque fiz a escolinha toda dentro do catolicismo (baptismo, 1ª comunhão, segunda, comunhão, crisma e até "grupo de jovens"). O que gosto é de ver a forma como as escrituras santas influenciam a arte e como esta influencia quem vê. E como quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto, quando a informação chega a quem vê, já vem deturpada. Exemplo, muito próximo de nós é o da assunção de nossa senhora, que não vem nas escrituras, foi uma decisão após o término da bíblia, foi uma necessidade da Igreja para responder às múltiplas questões levantadas pelos artistas e pelos teólogos: que papel dar à mãe de Cristo que não tem culpa nenhuma de ser mulher? Interesso-me também pelo inverso: a forma como se pinta ou esculpe dá-nos a ideia de uma religião que é folclórica, é parte da nossa imaginação. Uma religião útil que serve as nossas necessidades diárias, mas foge da verdadeira concepção do Catolicismo e nem sabe da existência de questões teológicas bizantinas.
No fundo interesso-me por tudo excepto por duas coisas. Uma delas é gadgets (gps, telemóvel xpto, pda's, aspiradores redondos e telecomandados, carros que voam...) Criam no fundo necessidades desnecessárias em nós e não nos tornam mais felizes. Nem facilitam a vida como as pessoas dizem.
Caro João Barbosa:
Do local onde retiro as imagens, na internet, os títulos surgem em inglês. Como nunca traduzo porque às vezes a minha tradução poderia ficar aquém do original, também não traduzi para este caso. É uma opção. Se vir, o nome da cidade em que se encontra o museu que alberga o quadro é sempre em português.
Boa tarde Beluga
Desde há uns tempos para cá ando a tentar escrever um romance que se pode considerar contemporâneo e sem grandes pretensões literárias, no entanto, estou a tentar incluir algumas temáticas que dizem respeito a temas e pensamentos menos actuais. No meio de uma pesquisa à interpretação/comentários à obra de Bosch (que não precisa de ser muito profunda) encontrei este seu post do qual gostei muito e do qual se depreende o seu grande conhecimento sobre a obra do pintor. Como tal gostava de saber se me pode sugerir algum documento (tipo pdf) algures aqui na net, que desenvolva um pouco mais esta temática em particular, em especial, por exemplo para outro quadro dele, o "A estrada da vida"? Eu sei que deve existir incontáveis livros que façam este tipo de crítica. Não é uma questão de preguiça (um dos pecados mortais :) mas sim, por não necessitar de textos extremamente profundos.
Se me puder ajudar, pode contactar-me através do meu mail: eumesmagr@gmail.com
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