- ars longa, vita brevis -

hipócrates

antes e depois:

“não sou freira nem sou p***…” (Maria Rita) e com razão. Eis o exemplo da freira e da outra, com a mesma posição de mãos. Eu cá vou dizer a verdade, uma verdade que é pouco falada: Ticiano tinha a tendência para pintar os temas mitológicos de forma, digamos, brejeira. Ele e outros artistas Piero di Cosimo, Tintoretto procuravam um lado cómico nestas cenas e episódios, até porque ao contrário do que acontece com as cenas bíblicas, havia muito o que explorar e não se sentia a mão pesada da Igreja, entidade que encomenda. Para além disso, os episódios mitológicos retratavam cenas de traição e nascimentos bizarros que se predispunham a isso. Desconheço se Ticiano procurou inspiração para esta Madalena na Vénus de Botticelli, até porque isso seria a inversão de tudo: um pintor pouco dado aos rigores do catolicismo que pinta uma personagem bíblica inspirando-se numa personagem mitológica pintada por um pintor que se converteu aos rigores de Savonarolla. Mas que esta Madalena tem alguma coisa de Vénus, lá isso tem: Ticiano procurou enfatizar mais a sensualidade da santa do que a sua virtude. Ela tem o cabelo solto (somente as mulheres que eram virgens eram pintadas com cabelo solto) a correr-lhe pelo corpo e acima de tudo, a ajudar a delineá-lo. Não foi um grande antes e depois, mas para hoje é o que há e “hora a hora deus melhora” e “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”, e “quem feio ama bonito lhe parece” e “o futebol é mesmo assim, são onze para cada lado”:

Botticelli
The Birth of Venus (pormenor)
1485
Galleria degli Uffizi, Florence


Tiziano
St Mary Magdalene
1532
Galleria Palatina (Palazzo Pitti), Florence