quarta-feira, julho 04, 2007

- o carteiro -
Este quadro conta a história apócrifa de Tobias que um dia, acompanhado do arcanjo Rafael, pesca um peixe e com as vísceras do animal cura a cegueira do seu pai. Há semelhanças entre este texto que não se encontra na Bíblia e a lenda pagã que falava de Antígona, a filha de Édipo que acompanhou o pai durante os últimos dias de vida e quando este estava cego após ter perfurado os olhos com a fivela do cinto da própria filha. Antígona não o curou, mas acompanhou-o e no século XVI foram feitas muitas encomendas deste tema (Tobias com o peixe), numa invocação da benesse de Tobias para com o pai. Pretendia-se assim que os filhos acompanhassem e protegessem os pais por longos e longos (e longos) anos. Vemos desta forma Tobias com o peixe na mão, e o arcanjo da lado esquerdo do quadro. Do lado direito está São Marcos. O leão aos pés do evangelista, não engana. E quem se lembrar da Praça de São Marcos em Veneza também não sentirá dificuldades de interpretação iconológica (iconologia é a identificação e iconografia é a explicação). A Madona ao centro assume uma postura serena, e entronizada é protagonista da assimetria: uma vez que se encontra num trono, as outras figuras são subalternizadas.

Raphael
The Madonna of the Fish
1513
Museo del Prado, Madrid, Spain

A assimetria não perturba Rafael, até porque o modelo desta mãe está aqui, em Miguel Ângelo. A Sibila de Delfos presente na Capela Sistina tem a mesma pose descontraída e conhecedora.

Miguel Ângelo

The Delphic Sibyl
1509
Cappella Sistina, Vatican