terça-feira, julho 03, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipocrates
Saiu de cena no Domingo passado a peça O Avarento. O TNSJ recebeu o Teatro Praga numa comédia em cinco actos escrita por José Maria Vieira Mendes, tendo como ponto de partida O Avarento de Moliére.

Foi uma interpretação "Tchékhoviana", uma vez que os cinco actos demoraram três horas. Muito mau para o reumático e para corpos inquietos. Pode dizer-se que foi um longo (e penoso já para o fim) exercício de entretenimento. E digo exercício no sentido físico do termo: um exercício para quem protagonizou e um exercício para quem assistiu. De salientar favoravelmente o texto em si, bastante liberto e sem amarras a cenografias nem artifícios clássicos. A cenografia estava bem (não excelente, lamenta-se a piscina, os outdoors com o urso e a parafernália electrónica poderia estar reduzida a metade que o entendimento seria o mesmo), e no seu melhor quando a casa muda de dono, os móveis são deslocados e o local torna-se mais limpo, menos ataviado. O trabalho de luzes ajudou a criar o ambiente frio que era pretendido. De louvar o esforço dos actores que durante três horas não se limitaram a debitar guião. Corriam, tinham graça nos movimentos (nem todos), eram convincentes e cómicos. Este porém pode ser o ponto de partida para os aspectos menos positivos. Já há algum tempo que sinto e vejo que o teatro, o bom teatro se tem socorrido e amparado na muleta da stand up comedy. A sensação ao assistirmos a uma peça de teatro hoje em dia é que aquela fórmula já foi usada, que aqueles gestos, as piadas, a forma como são ditas, as expressões são conhecidas. O uso exagerado no texto do sexo como justificação para qualquer deixa que era na maior parte das vezes rematada por uma private joke, não ajudava à compreensão nem do texto, nem da intenção do autor. Os actores, talvez cansados como o público de um final previsível acabaram por dizer as suas falas demasiado rápido, tornando o entendimento impossível. No final ouvia-se um insonso “foi engraçado, mas muito longo”, o que me faz pensar e questionar a possibilidade do tempo reduzido da peça a tornar melhor. A resposta é não: menos não quer dizer melhor e neste caso, suponho que menos iria querer dizer “mais hermético”.