sexta-feira, setembro 15, 2006

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Conceptualismo, Platonismo, ou "não devia ir mais vinho para essa mesa":

Joseph Kosuth
Relógio (um a cinco), Versão Inglês/Latim (Versão de Exposição)
1965, 1997

Se para o Conceptualismo a Arte é mais do que a materialização, é antes a Ideia, o conceito, isto poderia indicar que se aproxima do público mais do que qualquer outro movimento, uma vez que para compreender a obra, bastaria ter compreendido a ideia. Talvez até possamos afirmar que o Conceptualismo é a primeira aproximação a uma arte que poderíamos chamar de tele-arte: assim como a tele-medicina, não necessita do contacto físico entre as duas partes. Desta forma, o Conceptualismo também faz uma crítica à sociedade de consumo: a Ideia não tem preço, não pode ser exposta, não pode entrar no mercado das transacções comerciais. Bem, se este conceito não colocou um ponto final ao mercado da arte, veio pelo menos confundi-lo. Se a Arte era Ideia, qualquer um de nós, quem quer que a compreendesse, poderia ser um crítico de Arte, não ficando essa tarefa confinada para uma espécie de elite iluminada pelo conhecimento e pelo poder económico.
Se coloco a tónica na Ideia é porque os conceptualistas sempre me fizeram lembrar Platão e duas situaçõe sem particular: a alegoria do carro alado (no Fedro) e a da caverna (na República). No primeiro porque tal como na obra de Kosuth nota-se uma divisão do todo: a fotografia do relógio, o relógio, a definição de tempo, de mecanismo e de objecto. Na alegoria do carro alado, também o Ser ( a alma, o arche) é partido em dois: o bom e o mau que são guiados pelo auriga que representa a razão. (Isto já se observava nas heresias que antecederam o Cristianismo: algumas seitas acreditavam existir um Deus bom e outro mau.) É claro que para Platão vencia sempre o Ser bom porque o Ser bom conseguia alcançar o mundo supremo que era o das Ideias. Mas Platão não via a Ideia como hoje a concebemos e como os conceptualistas a viam: para Platão a Ideia era algo objectivo, que embora não tendo materialidade, existia em si (talvez por não ter materialidade é que existia em si). Já na alegoria da caverna, podemos estabelecer o paralelismo com os relógios: as sombras da caverna podem ser a fotografia do relógio, a fogueira que projectava as sombras na caverna poderá ser o relógio em si, e os seres que fazem sombra podem ser as diferentes definições de relógio.

1 Comments:

Blogger Art&Tal said...

o resto é para alimentar a cultura

16/9/06 7:56 da manhã  

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