O CARTEIRO
Todos os caminhos vão dar ao Médio-Oriente
Todos os caminhos vão dar ao Médio-Oriente
Aqui no Belogue não somos alheios ao que se passa no mundo: não vivemos em galerias de arte a teorizar a possibilidade do infinito vertical, nem habitamos no nosso umbigo, embora pareça. Serve isto para explicar que o silêncio do Belogue à volta do que se passa no mundo israelo-árabe é tratado hoje porque só hoje o carteiro conseguiu reunir todas as peças do puzzle. Uma dessas peças foi a vitória do Hamas nas eleições legislativas palestinianas a 26 de Janeiro deste ano., que surpreendeu pelo perigo de que parece ser portadora para um (ainda???) possível processo de paz.
No ano de 1930, após um governo minoritário, que não tinha o apoio dos alemães, o Parlamento elegeu cento e sete nazis onde antes só havia 12. Não havia maioria para governar os nazis juntaram-se à direita. Daí para a eleição de Hitler foi uma sucessão de infelizes acontecimentos. De lá para cá muito mudou e esta não é uma brincadeira Bush-Chavez para ver “Quem é mais parecido com o ditador”. Na altura o partido de Hitler ganhou, não porque apresentasse propostas para uma Alemanha desmoralizada com a derrota na Primeira Guerra Mundial, mas porque apresentava essa nação como a nação destinada a vencer. Incutiu no povo alemão uma espécie de orgulho, de desígnio nacional para a vitória que agora vemos com alguma sobranceria. Quem vota fá-lo consciente da responsabilidade que o conjunto em que o seu voto se insere pode ter no futuro, ou deposita num papel e numa caneta (visão ocidental das eleições que quem quiser pode substituir pelo carimbo na mão) o seu descontentamento pessoal. O voto pode não ser 100% o voto do nosso contentamento, mas pode ser 100% o voto do nosso descontentamento. Quem fez o Hamas ganhar fê-lo porque não tinha alternativa (o que é mau) ou porque acreditava nos ideais do partido, entre eles o não reconhecer o Estado de Israel (o que é pior)? Aliás, o não reconhecimento do Estado israelita bem como os constantes ataques e pressões a “quintais” palestinianos colocam o gato e o rato a correr um atrás do outro alternadamente: quem é hoje a vítima, amanhã vitima.
Para nos confundir mais e para agitar bem a pólvora surge (just in time for the oscar), um filme como Munique. Não vi o filme, mas pelo que sei, não conta a história com toda a veracidade com que se passou, correndo assim o risco de passar uma mensagem omissa quanto à verdade, ou não fosse Spielberg o arauto da verdade em Hollywood. Esperava-se de Spielberg, o menino bonito da Academia que não permite uma visão diferente do Holocausto (veja-se a forma como reagiu a “A vida é bela”), um chorrilho de clichés que nos remetesse para o eterno êxodo judeu, à semelhança do que conseguiu desencadear com “A Lista de Schindler”. Esperava que Spielberg na sua condição de judeu e fortemente apoiado na sua produção pelos judeus ortodoxos americanos, retratasse mais o ataque palestiniano do que a vingança israelita. E assim temos de novo os dados lançados: o povo israelita que começa como vítima e acaba como carrasco.
E da minha leitura da crítica do filme, passei para a leitura do livro “A conspiração contra a América”, que retrata a hipotética história de uma América governada por Charles Lindbergh, um célebre aviador americano com simpatia republicana anti-semita que se referia aos judeus americanos (apenas 3% da população da época) como os “mais vigorosos e eficazes empenhados em empurrar os EUA para um envolvimento na guerra”. No livro (e ainda vou no começo) a indignação perante a eleição de Lindbergh como candidato republicano à Casa Branca (e vencedor face a um confronto com Roosevelt), é comparada com o terror do progrom de 1907.
E justamente ontem passaram 103 anos dessa noite de 6 para 7 de Fevereiro em que se deu o primeiro progrom ou progrom de Kishinev. (Como já foi dito aqui num post antigo, os progroms eram perseguições e matanças perpetradas contra judeus e que aconteciam na Páscoa). Davam-se na Páscoa porque foi nesse dia 6 de Fevereiro, dia em que se comemorava a Páscoa Russa, que uma criança foi encontrada morta perto de Kishinev. Na altura, um jornal anti-semita avançou com a notícia de que a criança tinha sido morta por judeus (até se disse que para lhe retirar sangue para um ritual judeu), embora todos soubessem que tinha sido morta por um familiar, e que não se tratava de uma família judia. Gerou-se uma espiral de violência contra judeus que durou três dias: durante três dias foram mortos cerca de 47 judeus e houve cerca de 500 feridos ligeiros, fora os feridos graves e a destruição das casas pertencentes a judeus. Durante 3 dias a polícia nada fez.
Também ontem se comemorou uma triste data: os 48 anos do desastre aéreo de Munique. O avião em que seguia a equipa do Manchester United despenhou-se após três tentativas de descolar do aeroporto de Munique devido a uma tempestade de neve.
Chamem-nos pitagóricos ou vicidados em “pescadinhas de rabo na boca”, pero que las hay, las hay.
No ano de 1930, após um governo minoritário, que não tinha o apoio dos alemães, o Parlamento elegeu cento e sete nazis onde antes só havia 12. Não havia maioria para governar os nazis juntaram-se à direita. Daí para a eleição de Hitler foi uma sucessão de infelizes acontecimentos. De lá para cá muito mudou e esta não é uma brincadeira Bush-Chavez para ver “Quem é mais parecido com o ditador”. Na altura o partido de Hitler ganhou, não porque apresentasse propostas para uma Alemanha desmoralizada com a derrota na Primeira Guerra Mundial, mas porque apresentava essa nação como a nação destinada a vencer. Incutiu no povo alemão uma espécie de orgulho, de desígnio nacional para a vitória que agora vemos com alguma sobranceria. Quem vota fá-lo consciente da responsabilidade que o conjunto em que o seu voto se insere pode ter no futuro, ou deposita num papel e numa caneta (visão ocidental das eleições que quem quiser pode substituir pelo carimbo na mão) o seu descontentamento pessoal. O voto pode não ser 100% o voto do nosso contentamento, mas pode ser 100% o voto do nosso descontentamento. Quem fez o Hamas ganhar fê-lo porque não tinha alternativa (o que é mau) ou porque acreditava nos ideais do partido, entre eles o não reconhecer o Estado de Israel (o que é pior)? Aliás, o não reconhecimento do Estado israelita bem como os constantes ataques e pressões a “quintais” palestinianos colocam o gato e o rato a correr um atrás do outro alternadamente: quem é hoje a vítima, amanhã vitima.
Para nos confundir mais e para agitar bem a pólvora surge (just in time for the oscar), um filme como Munique. Não vi o filme, mas pelo que sei, não conta a história com toda a veracidade com que se passou, correndo assim o risco de passar uma mensagem omissa quanto à verdade, ou não fosse Spielberg o arauto da verdade em Hollywood. Esperava-se de Spielberg, o menino bonito da Academia que não permite uma visão diferente do Holocausto (veja-se a forma como reagiu a “A vida é bela”), um chorrilho de clichés que nos remetesse para o eterno êxodo judeu, à semelhança do que conseguiu desencadear com “A Lista de Schindler”. Esperava que Spielberg na sua condição de judeu e fortemente apoiado na sua produção pelos judeus ortodoxos americanos, retratasse mais o ataque palestiniano do que a vingança israelita. E assim temos de novo os dados lançados: o povo israelita que começa como vítima e acaba como carrasco.
E da minha leitura da crítica do filme, passei para a leitura do livro “A conspiração contra a América”, que retrata a hipotética história de uma América governada por Charles Lindbergh, um célebre aviador americano com simpatia republicana anti-semita que se referia aos judeus americanos (apenas 3% da população da época) como os “mais vigorosos e eficazes empenhados em empurrar os EUA para um envolvimento na guerra”. No livro (e ainda vou no começo) a indignação perante a eleição de Lindbergh como candidato republicano à Casa Branca (e vencedor face a um confronto com Roosevelt), é comparada com o terror do progrom de 1907.
E justamente ontem passaram 103 anos dessa noite de 6 para 7 de Fevereiro em que se deu o primeiro progrom ou progrom de Kishinev. (Como já foi dito aqui num post antigo, os progroms eram perseguições e matanças perpetradas contra judeus e que aconteciam na Páscoa). Davam-se na Páscoa porque foi nesse dia 6 de Fevereiro, dia em que se comemorava a Páscoa Russa, que uma criança foi encontrada morta perto de Kishinev. Na altura, um jornal anti-semita avançou com a notícia de que a criança tinha sido morta por judeus (até se disse que para lhe retirar sangue para um ritual judeu), embora todos soubessem que tinha sido morta por um familiar, e que não se tratava de uma família judia. Gerou-se uma espiral de violência contra judeus que durou três dias: durante três dias foram mortos cerca de 47 judeus e houve cerca de 500 feridos ligeiros, fora os feridos graves e a destruição das casas pertencentes a judeus. Durante 3 dias a polícia nada fez.
Também ontem se comemorou uma triste data: os 48 anos do desastre aéreo de Munique. O avião em que seguia a equipa do Manchester United despenhou-se após três tentativas de descolar do aeroporto de Munique devido a uma tempestade de neve.
Chamem-nos pitagóricos ou vicidados em “pescadinhas de rabo na boca”, pero que las hay, las hay.
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