segunda-feira, fevereiro 18, 2019

- o carteiro -




















ao que parece, a cor de 2019 já está escolhida. Trata-se do "coral" (tenho um post sobre corais na pintura, mas falta-me um livro e por isso não consigo acabar de escrevê-lo). O coral - outro nome para salmão ou para rosa - serve bem o tempo em que vivemos pois é absolutamente dispensável à sobrevivência. Ou seja, quando começámos a comunicar, não dizíamos: "o céu, ali no horizonte está com uma cor esquisita. Parece coral ou coisa que o valha…". Aliás, as cores - e agora há aqueles desafios para dizer de que cor é o vestido - são não só percepcionadas por cada um de nós de forma diferente, como são diferentes de cultura para cultura. Elas não são somente uma tradução. O "vert" francês não tem tradução para o idioma de algumas tribos da Costa do Marfim. Não que as pessoas da Costa do Marfim nunca tenham visto a cor verde. Já viram e sabem que aquela cor não é preto, mas a forma como agrupam as cores é diferente. Por exemplo, quando vamos a um supermercado comprar marcadores eles vêm em caixas de seis, doze ou 24. Se comprarmos a caixa de 12 marcadores teremos certamente as seguintes cores:
preto
cinzento
castanho
roxo
azul escuro
azul claro
verde escuro
verde claro
rosa
vermelho
laranja

Mas se formos comprar uma caixa de marcadores a Londres, por exemplo, essa caixa terá 11 cores. 11 é portanto o número de cores básicas para os ingleses. Se formos à Costa do Marfim, essa caixa terá três cores:
claro
escuro
vermelho
Parece uma piada, mas não é. Ou seja, há padrões. As línguas que consideram a existência de 6 cores básicas, como o Mandarim, apontam sempre para:
branco
preto
vermelho
verde
amarelo
azul
As línguas que, como o Ibibio na Nigéria só consideram a existência de 4 cores básicas apontam para:
preto
branco
vermelho
verde ou amarelo
Outras, como vimos no caso da Costa do Marfim, consideram só três cores:
preto
branco
vermelho
Ou seja, parece que as cores básicas desde o início dos tempos eram o preto, o branco e o vermelho. E só depois, com as necessidades típicas de uma expressão sem enganos, é que começamos a ter outras cores mais dispensáveis como o azul, o verde, o laranja ou o rosa. Talvez o preto, o branco e o vermelho satisfizessem as necessidades de povos que falavam sobre a noite, o dia e o sangue. Para sabermos se isto era verdade, devíamos ler o que os nossos antepassados (muito passados) escreveram. O que diria o Gilgamesh? Ou a Bíblia? Ou a Odisseia de Homero, cada um deles na sua versão original? Houve quem tivesse feito esse exercício. O seu nome era William Gladstone e foi Primeiro-Ministro britânico durante 4 mandatos. Gladstone analisou a Odisseia e reparou que Homero fazia referência a poucas cores:
Branco
Preto
Cinzento
Amarelo
Azul
Vermelho escuro
Vermelho claro
Púrpura
E quando usava os termos correspondentes a essas cores, fazia-o com um critério que hoje seria questionável. Por exemplo, Homero usava o termo "púrpura" para descrever a cor de uma onda, a cor de uma nuvem escura, mas também do sangue!...  Cores como o azul ou o laranja nem sequer são mencionadas por Homero. Claro que isto serviu algumas teorias suprematistas que diziam, entre outras coisas, que os gregos da Antiguidade não sabiam distinguir as cores e que as tribos da Papua Nova Guiné, por usarem somente três termos para as suas cores, eram menos desenvolvidas. Mas a verdade é que em alguns destes idiomas, apesar de só existirem três cores (claro, escuro e vermelho), existiam cores "indirectas" pois palavras como "céu" ou "cinzas" eram usadas como amostras de cor.

Mas voltemos atrás: parece que no início, para além do Verbo, havia o claro, o escuro e o vermelho e que depois outras cores se juntaram como o azul e/ou verde (dependendo do idioma). Os cientistas creem (estes cientistas e estes) que a prioridade que os povos davam à cor vermelha em detrimento do azul ou do verde ou do amarelo, não se prendia somente com as suas necessidades de expressão de coisas mais ou menos básicas, nem com a frequência com que viam essas cores, nem mesmo com a sua vulgarização através de produtos manufacturados, mas com o facto de haver cores que se destacam mais do que outras quando com elas comparadas. E qualquer cultura, quer seja ela uma cultura com 12 cores básicas ou com 5, parte sempre do mesmo:
preto
branco
vermelho
e só depois…
verde ou amarelo
azul
castanho
púrpura
laranja
cinzento 
rosa 

pronto, é isto. beijinhos às famílias e cuidado com os antibióticos.